Por Álvaro Campos e Mariana Ribeiro — De São Paulo
09/08/2023 05h04 Atualizado há 6 horas
O Itaú Unibanco, que registrou lucro recorde de R$ 8,7 bilhões no segundo trimestre e a maior rentabilidade entre os grandes bancos privados, espera um segundo semestre ainda melhor. Mesmo que a atividade econômica tenda a arrefecer um pouco, a queda de juros deve estimular os mercados de capitais e beneficiar a receita de tarifas. Além disso, com a inadimplência estabilizada e um nível de capital confortável, a instituição tem espaço para acelerar o crédito nas linhas que julga adequadas.
Em conversas com jornalistas e analistas, o presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, disse ver “sinais muito positivos” e “avanços na direção correta na economia”. “No segundo semestre a atividade deve arrefecer um pouco, mas o trabalho da equipe econômica e do Banco Central está na direção correta.”
O executivo destacou que o Brasil é o primeiro país do G-20 (grupo que reúne as principais economias do mundo) a iniciar um ciclo de corte de juros.
Nesse cenário, a palavra de ordem da instituição “é crescer, mas de forma sustentável”. Segundo Maluhy, a queda de juros pode ajudar a receita de tarifas em três frentes: estimular as operações de mercados de capitais; a captação e taxas de desempenho na indústria de fundos; e outros produtos que dependem do desempenho do crédito, como seguro prestamista, por exemplo.
O banco espera o início de uma atividade mais forte nos mercados de capitais nesta segunda metade do ano. “Temos visto alguns follow-ons [ofertas subsequentes de ação]. Prevemos atividade de mercados de capitais mais robusta no segundo semestre”, afirmou Maluhy.
No entanto, o executivo apontou que a melhora no cenário não deve ser suficiente para compensar a fraqueza vista no primeiro semestre, e por isso o banco revisou para baixo a projeção para receita de tarifas. Ao mesmo tempo, como também reduziu o “guidance” para a alíquota efetiva de impostos, o resultado final fica basicamente inalterado – o lucro deve chegar a R$ 35,8 bilhões neste ano, nas contas do Goldman Sachs.
Segundo Maluhy, há um “pipeline” [transações em preparação] importante de operações estruturadas no atacado e a rentabilidade no varejo deve melhorar paulatinamente. Com tudo isso, “dá para entrar bem em 2024”, disse.
Para Maluhy, a estabilização da inadimplência é uma boa notícia e, se o Itaú não tivesse alterado seu portfólio a partir do fim de 2021, o indicador hoje seria 1,8 ponto percentual maior. O banco fechou junho com 3% do saldo de crédito em atraso.
O único segmento onde a inadimplência aumentou no segundo trimestre foi o de pequenas e médias empresas (PMEs), e o executivo afirmou que a melhor expectativa para os próximos trimestres é de estabilidade nesse público. “O custo do crédito pode ter chegado ao pico, esperamos PDD [provisões para devedores duvidosos] mais estável nos próximos trimestres.”
O Itaú informou já ter renegociado mais de 200 mil contratos de crédito no Desenrola, tirando mais de 630 mil CPFs do negativo. “Devemos estar batendo quase 700 mil neste momento em que falamos”, disse Maluhy. Ainda assim, o executivo afirmou que, no resultado do banco, o programa de renegociação de dívidas não deve “mexer os ponteiro” em termos de custo do crédito ou inadimplência. “Mas vamos esperar para ver. No próximo trimestre devemos ter mais informações, já que a nova fase começa em setembro”.
Em relação a eventuais impactos negativos para o banco com a queda de juros, Maluhy explicou que, independentemente do ciclo, o Itaú tem uma gestão ativa dos riscos, o que torna margem financeira mais estável. “A forma como fazemos hedge do passivo não deixa a gente suscetível a mudanças no ciclo de juros”, argumentou.
Para Maluhy, se por um lado a queda dos juros pode pressionar spreads, por outro estimula a concessão de crédito, o que ajuda a impulsionar os mercados de capitais e a venda de produtos de seguros. “A gente vai ajustando o mix, tanto entre atacado e varejo, como dentro das linhas de varejo, e paulatinamente fazendo o hedge de passivos e capital de giro. […] Não é verdade que juro alto é bom para banco. Pode até ser bom no curto prazo, mas no médio a longo prazo acho melhor taxa mais baixa.”
Os analistas reagiram bem números. O Citi reforçou sua recomendação de “compra” para as ações e elevou o preço-alvo das preferenciais de R$ 31 para R$ 34. “O banco antecipa um ambiente mais dinâmico com maior demanda de crédito, mas com tendências estáveis para a margem e qualidade de ativos. Além disso, as oportunidades de cross-selling e reforçar a principalidade do clientes continuam a ser um objetivo, refletindo a adaptabilidade e resiliência do banco”, disse. O Bank of America comparou o Itaú com um fino relógio suíço. “Os resultados foram sólidos, principalmente em relação ao Bradesco e ao Santander, o que deve continuar sustentando o valuation ‘premium’ da ação.”
As PNs do Itaú caíram 0,22% ontem, para R$ 27,60, em linha com o Ibovespa.
Fonte: Valor Econômico

