Por Fernanda Guimarães e Mônica Scaramuzzo — De São Paulo
26/04/2023 05h02 Atualizado há 3 horas
O número de consultas para a realização de ofertas públicas de aquisição de ações, as conhecidas OPAs, está em alta, em um momento em que controladores se questionam sobre a possibilidade de fechamento de capital, decepcionados com a derrocada dos preços dos papéis negociados em bolsa.
A procura também tem aumentado na esteira de um movimento de fusões e aquisições (M&A, na sigla m inglês) envolvendo empresas abertas, ou seja, processo que, ao final, usualmente desemboca no fechamento de capital de uma das empresas envolvidas.
Até aqui, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), já foram duas ofertas do tipo registradas e mais sete em análise pelo regulador, sendo quatro para o cancelamento do registro e três por alienação de controle. Em 2022, houve um total de oito OPAs, com três que resultaram em fechamento de capital, incluindo a GetNet, em oferta promovida pelo seu controlador, o Santander.
Segundo banqueiros de investimento e advogados ouvidos pelo Valor, o assunto de fechamento de capital é cíclico e normalmente cresce em momento de queda das ações, mas que nem sempre as intenções e consultas se convertem em OPAs efetivamente.
Dentre as OPAs registradas neste ano está a lançada pelo BTG Pactual para a aquisição do restante do capital do Banco Econômico (Besa). Uma que está em análise é a da EDP Brasil, após a decisão de sua controladora de fechar o capital da companhia por aqui. Outra operação engatilhada é a da Alliança (ex-Alliar), após sua troca de controle, com a chegada do empresário Nelson Tanure. Uma das OPAs que deve ir para a rua em breve é a do birô de crédito Boa Vista, após a conclusão de sua venda para a americana Equifax.
“A gente tinha uma expectativa de que houvesse mais OPAs”, afirma o chefe do banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenlees. Segundo o executivo, tem havido consultas, mas algumas aquisições de empresas listadas que resultariam em OPAs acabaram esbarrando em questões de governança.
“O número menor de transações está atrelado à expectativa do comprador em relação à governança das empresas”, afirma o executivo. Outro formato que vem sendo aventado, segundo Greenlees, poderia vir de controladores, que veem uma possibilidade de ampliar participação na empresa, mas que estão descapitalizados.
“É possível esse controlador combinar a compra com um terceiro, que se tornaria sócio, e ambos podem fazer uma compra no mercado [via OPA]”, diz.
Na Faria Lima, a percepção é que há mais conversas em andamento do que fechamento de operações em si. Empresas de varejo e educação são dois setores cujas as ações das companhias seguem baixas. Por conta disso, o caminho natural seria uma OPA.
Na prática, contudo, levar adiante a transação não é trivial, explicou uma fonte de banco, que falou sob condição de anonimato. “No Brasil, esse tipo de operação não se conclui em menos de 12 meses. Há mil regras que acabam emperrando a transação e no fim do dia o ‘valuation’ acaba mudando”, afirmou.
Apesar do momento de mercado apontar para um “sentido teórico” do fechamento de capital, há complicações envolvidas, afirma o responsável pelo Bradesco BBI, Felipe Thut. “O alto custo de financiamento pode tornar caro o processo de fechamento, além de ser algo traumático para o mercado. Eventualmente, pode ser mais vantajoso um programa de recompra de ações”, pondera o executivo do BBI.
O sócio da área de mercado de capitais do escritório Pinheiro Neto, Fernando Zorzo, confirma que as consultas sobre o tema têm crescido e pondera que se trata de um “tema cíclico que aparece muito em momentos de baixa” das ações negociadas em bolsa, o que cria, na sua visão, um incentivo para que o controlador analise uma possibilidade de fechamento de capital.
“Temos percebido uma procura maior das empresas, para saber sobre os requisitos, prazos, como funcionam as regras de avaliação”, afirma. O especialista diz que outra consulta que tem chegado é sobre o uso de ofertas públicas como instrumento de fusões e aquisições (M&A).
Procurada, a EDP Brasil disse que a comunicação “referente à oferta pública será realizada pelo ofertante por intermédio de comunicados ou fatos relevantes à medida que o processo avançar”. A Boa Vista disse que o processo de aquisição da companhia pela Equifax segue em curso, mas que ainda não há informações adicionais ao fato relevante. O BTG não comentou.
A Alliança informou em nota que pode manter a liquidez na negociação de suas ações em ambiente de bolsa de valores, independentemente do resultado da OPA, bem como a companhia tem a intenção de manter suas ações negociadas em ambiente de bolsa de valores. “A OPA é um processo de responsabilidade do Fonte de Saúde Fundo de Investimento, acionista controlador da Alliança”, disse.
Fonte: Valor Econômico

