Por Alessandra Saraiva — Do Rio
26/10/2022 05h01 Atualizado há 6 horas
Incertezas em relação à economia em 2023, além de imprevisibilidade na política devido às eleições, levaram a um recuo de 0,4 ponto no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em outubro ante setembro, para 88,6 pontos, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). Foi a pior queda desde maio desse ano (-3,1 pontos) e levou o indicador ao menor patamar desde agosto (83,6 pontos), afirmou Viviane Seda, economista da fundação responsável pelo indicador.
As famílias de maior renda, com maior possibilidade de acesso a informações, principalmente do “front” econômico, foram as que mais influenciaram o recuo no indicador. Para a técnica, com as condições macroeconômicas e políticas do país até o momento, não há garantias de que o índice volte a subir, no curto prazo.
A técnica comentou que foram as respostas para o futuro que mais contribuíram para resultado negativo do índice. Nos dois subindicadores componentes do indicador, o Índice de Situação Atual (ISA) subiu 1,2 ponto em outubro ante setembro para 74,5 pontos; mas o Índice de Expectativas (IE) caiu 1,5 ponto, para 98,7 pontos.
Essa desconfiança em relação ao futuro foi mais influenciada por consumidores de maior poder aquisitivo. Isso é perceptível na evolução da confiança dentro das quatro faixas de renda usadas para cálculo do indicador: as duas mais altas tiveram queda em outubro ante setembro. Nas famílias com renda mensal entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil o ICC caiu 6,8 pontos e, nas com renda superior a R$ 9,6 mil, a queda foi de 3,1 pontos.
Viviane observou que, independentemente de melhora em projeções de PIB, inflação e desemprego para 2022 e até mesmo para 2023, o entendimento das famílias mais ricas é de que será “um ano desafiador” na parte fiscal, o que pode afetar trajetória da economia.
Ao mesmo tempo, ela explicou que as duas faixas de renda mais elevada pesquisadas pela FGV e que apresentaram queda de confiança em outubro mostraram altas muito intensas em meses anteriores. Assim, no entendimento da pesquisadora, em outubro as famílias de maior renda estariam a ajustar intenção de consumo às condições mais “realistas” da economia para o futuro, comentou.
Outro aspecto mencionado por ela é o atual momento de turbulência na política, por causa do pleito presidencial. Independentemente de quem vença, notou a técnica, é a imprevisibilidade das eleições que acaba por jogar mais um componente de incerteza ao futuro. Principalmente para 2023, visto que a condução de política econômica afeta, e muito, a evolução da atividade do país. “Indicadores de confiança sempre ficam mais voláteis em eleições”, resumiu.
Em contrapartida, inflação menos pressionada e programas de transferência de renda levaram a alta na confiança, em outubro, entre famílias mais pobres. Famílias com ganhos mensais até R$ 2,1 mil tiveram aumento de 8,3 pontos em outubro no ICC; e nas com renda entre R$ 2,1 mil e R$ 4,8 mil, a elevação foi de 4,7 pontos. Essas duas faixas, com saldo positivo no mês, contribuíram para que o recuo não fosse mais intenso, da confiança como um todo, em outubro.
“Mas não dá para garantir que as faixas de renda mais pobres se manterão confiantes” acrescentou. Ela lembrou que as famílias de menor poder aquisitivo operam ainda com patamar de endividamento elevado, até outubro. “E as faixas mais ricas estão com expectativas menores [desfavoráveis] para 2023, pelo lado econômico”, completou. “Não dá para garantir que vai voltar a subir [o ICC]. Provavelmente vai ficar andando de lado nos últimos meses do ano.”
Fonte: Valor Econômico

