A ameaça à economia global representada pelo excesso de capacidade industrial da China será o principal tema a ser abordado pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, em sua segunda viagem ao país em nove meses.
Yellen, que chega hoje à noite na China, passará dois dias no centro comercial e industrial do sul de Guangzhou, a partir de sexta-feira, antes de seguir para Pequim para mais dois dias de conversas, anunciou ontem o Tesouro americano.
Ela vai se reunir com o czar da política econômica da China, o vice-premiê He Lifeng, junto com seu antecessor Liu He, que analistas dizem que ainda mantém influência nas decisões do governo. Yellen também se encontrará com presidente do banco central chinês, Pan Gongsheng, e o Ministro das Finanças, Lan Fo’an.
Os laços bilaterais entre as duas maiores economias do mundo vêm sendo descongelados gradualmente desde que os presidentes Joe Biden e Xi Jinping se encontraram pessoalmente em novembro. Biden e Xi voltaram a falar ontem por telefone – a primeira comunicação direta desde o encontro em São Francisco.
Na conversa com Xi, Biden reafirmou a política de longa data de “uma só China” dos EUA e reiterou que Washington se opõe a quaisquer meios coercivos para colocar Taiwan sob o controle de Pequim.
Biden também levantou preocupações sobre as operações militares chinesas no Mar do Sul da China, incluindo os esforços do mês passado para impedir as Filipinas – que os EUA são obrigados por tratado a defender – de reabastecer as suas forças no disputado Second Thomas Shoal, um atol cuja soberania é reivindicada pelos filipinos.
Apesar do reengajamento bilateral, as diferenças seguem profundas. Na semana passada, Yellen criticou o uso de subsídios pela China para dar vantagem competitiva aos seus fabricantes em novas indústrias-chave. Durante uma visita a uma fábrica de células solares na Geórgia que havia sido fechada devido a importações baratas da China, ela alertou que o superinvestimento chinês e a capacidade excessiva estavam distorcendo a economia global.
“Yellen defenderá os trabalhadores e empresas americanas para garantir que sejam tratados de forma justa, inclusive pressionando os colegas chineses sobre práticas comerciais injustas e destacando as consequências econômicas globais da capacidade industrial chinesa excessiva”, disse o Tesouro.
Mas Yellen também deverá ouvir críticas dos chineses com relação aos esforços do presidente Joe Biden para financiar um renascimento da indústria americana, particularmente em semicondutores e energia verde, por meio de benefícios fiscais. No mês passado, a China apresentou uma queixa na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os subsídios americanos para veículos elétricos.
Outros temas que provavelmente estarão na agenda, incluem a relutância da China em ajudar a acelerar a reestruturação da dívida dos países pobres, esforços conjuntos para combater a lavagem de dinheiro e a estabilidade financeira. Yellen pode levantar a questão de reprimir os fluxos financeiros por trás do comércio de fentanil, segundo uma pessoa envolvida no planejamento das reuniões.
Yellen também estará interessada em ouvir seus colegas como a China pode alcançar a meta de crescimento de 5% para este ano e como estão lidando com a recessão do setor imobiliário do país, disse um funcionário do Tesouro.
Fonte: Valor Econômico

