Com a guerra da Ucrânia e outra no Oriente Médio, o presidente da China, Xi Jinping, está promovendo o seu projeto de política externa visando aumentar a unidade e cooperação entre aliados chineses.
Em uma cúpula realizada aqui para celebrar a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla de inglês, conhecido como Nova Rota da Seda), a situação se mostrou mais fragmentada do que Xi esperava.
Durante o discurso de abertura no Grande Salão do Povo de Pequim nesta quarta-feira (18), Xi colocou a China como líder de uma nova ordem global mais inclusiva e prometeu que a ascensão do país beneficiaria a todos que queiram participar do BRI.
“Não fazemos confronto ideológico, não fazemos rivalidade geopolítica e não fazemos política de bloco”, disse ele, citando sanções unilaterais, afastamento econômico e outras ferramentas que Pequim acusa os EUA de explorarem para conter rivais. “O que foi alcançado nos últimos 10 anos demonstra que a Iniciativa do Cinturão e Rota está do lado certo da história.”
Convidado para falar logo após Xi, o presidente da Rússia Vladimir Putin elogiou os esforços do programa de infraestrutura de um US$ 1 bilhão para construir um “mundo e um sistema de relações internacionais mais justos e multipolares”, segundo uma tradução da emissora estatal chinesa “CGTN”.
A importância dada a Putin em uma cúpula esvaziada de líderes ocidentais reflete como a Iniciativa do Cinturão e Rota ficou esvaziada desde que Xi propôs a ideia pela primeira vez, há uma década.
Originalmente concebida como uma forma de promover o desenvolvimento de infraestrutura entre a China e a Ásia Central, a iniciativa tem enfrentado críticas constantes dos governos ocidentais por provocar o acúmulo de dívidas nos países que participam do BRI.
Xi não abordou diretamente as críticas à dívida no discurso de quarta-feira. Em vez disso, falou em termos gerais sobre como a ascensão da China beneficia outros países.
Em meio a um cenário de guerra na Ucrânia e de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional, a presença de Putin no fórum deste ano reforçou o apoio econômico e diplomático da China ao líder russo em um momento de isolamento da Rússia no Ocidente.
Em resposta às sanções ocidentais contra a Rússia, os laços comerciais do país com a China aumentaram, à medida que Moscou recorre cada vez mais à China para obter tecnologias e equipamentos que podem ser usados na guerra.
Enquanto a Rússia enfrenta isolamento econômico do Ocidente, Putin, em seu discurso, convidou os países do BRI a participarem no desenvolvimento da Rota do Mar do Norte, que atravessa o Ártico desde o noroeste da Rússia até ao Estreito de Bering. A rota reduz a distância marítima para a China e evita gargalos como o Canal de Suez e o Estreito de Malaca.
Embora a Rússia tenha anteriormente tentado frustrar as ambições da China no Árctico, Putin adotou tom mais leve em relação ao assunto no discurso em Pequim. “Convidamos os estados interessados a participar diretamente no desenvolvimento”, disse ele sobre a Rota do Mar do Norte.
Em reunião entre Xi e Putin nesta quarta-feira, a 42ª desde 2013, o líder chinês elogiou o que disse ser uma “boa relação de trabalho e uma amizade profunda” com Putin, de acordo com transcrição divulgada pela mídia estatal chinesa.
“A confiança política mútua entre os dois países tem se aprofundado continuamente, a colaboração estratégica tem sido estreita e eficaz e o comércio bilateral atingiu um nível recorde”, disse Xi a Putin.
Não houve nenhuma palavra sobre um avanço nas negociações de longa data para um novo gasoduto de gás natural ligando a Rússia e a China, apelidado de “Poder da Sibéria 2”. O gasoduto atravessaria a Mongólia e reforçaria as vendas de gás russo para a China, reorientando ainda mais a indústria energética da Rússia para Ásia.
Em reunião com o presidente da Mongólia em Pequim na terça-feira, Putin disse acreditar que o projeto avançará, segundo a mídia estatal russa.
Em discurso nesta quarta-feira, Xi disse que a economia da China estava aberta ao investimento estrangeiro, apesar da piora do ambiente de negócios no país em meio a um aumento das ações de segurança nacional promovidas por Pequim contra empresas estrangeiras.
Xi disse que a China acabaria com todas as restrições ao investimento estrangeiro no setor manufatureiro – um ponto sensível para as empresas estrangeiras – sem fornecer detalhes.
Para os projetos do BRI, muitos dos quais são construídos fora da China, Xi disse que o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportação e Importação da China disponibilizariam, cada um, cerca de 350 bilhões de yuans, equivalentes a US$ 47,9 bilhões, em financiamento, enquanto 80 bilhões de yuans, cerca de US$ 10,94 bi, seriam injetados no Fundo da Nova Rota da Seda, administrado pelo Estado chinês.
Apesar dos novos compromissos, há evidências de que, em alguns aspectos, o entusiasmo pela Iniciativa do Cinturão e Rota está diminuindo na região. Este ano, cerca de duas dúzias de chefes de estado ou de governo participaram da cúpula, em comparação aos 37 que participaram no último fórum deste tipo, em 2019.
Fonte: Valor Econômico

