13/07/2022 05h02 Atualizado há 4 horas
Setor que mais demorou para responder à reabertura da economia, os serviços voltaram a surpreender positivamente em maio. Impulsionados pela demanda represada dos serviços presenciais, por estímulos do governo e com destaque para a retomada dos transportes, o segmento pode, inclusive, sinalizar para um PIB mais alto do ano do que atualmente esperam alguns analistas.
Segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de serviços cresceu 0,9% em maio frente a abril, feito o ajuste sazonal, e 9,2% em relação a maio do ano passado. O resultado veio bem acima da mediana das estimativas ouvidas pelo Valor Data, de 0,2% e 8,8%, respectivamente.
No acumulado de 2022, o setor exibe alta de 9,4%. Já em relação ao nível pré-pandemia, a alta é de 8,4%. Já a receita nominal subiu 1,6% na passagem entre abril e maio e 18,8% comparado a maio do ano passado.
Todos os cinco grupos acompanhados tiveram alta: serviços prestados às famílias (1,9%); serviços de informação e comunicação (0,9%); serviços profissionais, administrativos e complementares (1%); transportes, serviços auxiliares aos transportes e correios (0,9%); e outros serviços (3,1%).
“Os serviços de tecnologia da informação e o transporte de cargas foram os motores que impulsionaram o resultado de maio. O transporte de cargas, especialmente o rodoviário, além de atender à demanda do comércio eletrônico e do setor agropecuário, também tem sido importante para o setor industrial, notadamente os bens de capital e os bens intermediários”, explicou Rodrigo Lobo, economista do IBGE.
Lobo ressalta ainda que o resultado não é reflexo apenas da flexibilização das medidas de restrição social. Algumas categorias apresentam performance positiva, há meses, sem necessariamente terem relação com a retomada dos serviços presenciais. É o caso dos serviços de tecnologia da informação, que apresentam-se em 53,3% acima de pré-pandemia em maio, lembrou.
Outro destaque foram atividades turísticas, que subiram 2,6% em maio e acumulam alta de 11,7% em três meses. Com isso, o segmento de turismo ainda se encontra 0,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.
Após a divulgação do indicador, o “tracker” de crescimento do PIB da XP passou a apontar apontar uma expansão de 0,9% neste trimestre, contra 0,8% anteriormente. Em comentário a clientes, o economista Rodolfo Margato, afirma que a dinâmica reflete o crescimento do comércio eletrônico e o aumento das exportações, principalmente de produtos do agronegócio e mineração, e a recuperação da indústria de transformação”.
Para o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, o resultado também traz um viés positivo para PIB do segundo trimestre. “É um bom número no geral que dá um viés positivo para a projeção de 0,8% no segundo trimestre. Claro que tem ainda muito dado para sair. Por enquanto, com 0,8% estamos confortáveis”, diz.
Apesar da nova surpresa o setor, a expectativa da Tendências Consultoria continua a ser de que o segmento deve desacelerar nos próximos meses, à medida que os efeitos da reabertura e das medidas parafiscais do governo cesse, ao passo que a alta dos juros começa a impactar outras áreas da economia.
“Todos os subgrupos cresceram em maio, mas apenas os serviços às famílias estão com nível abaixo do período pré-pandemia, de 7%”, ressalta Thiago Xavier, economista da consultoria. “Então é um segmento com espaço para crescer nos próprios meses, porque se beneficia dessa recuperação tardia dos serviços presenciais. E, são justamente o tipo de serviço consumido por famílias de renda maior, tiveram rendimento menos afetado no período, geraram poupança e que exibem menor sensibilidade da demanda ao preço.”
Xavier nota que a perspectiva dos demais segmentos é distinta. O subgrupo de transportes, por exemplo – que tem maior peso na PMS, 32% – está 16,7% acima do nível registrado em fevereiro de 2020. E indicadores antecedentes como o da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) mostra queda tanto na circulação de veículos leves quanto pesados em junho.
“Outros grupos importantes, como o de serviços administrativos e profissionais, devem ver demanda menor também, em meio a questões como alta dos juros e aumento de incertezas trazido pela eleição”, afirma o economista.
Carlos Pedroso, economista sênior do MUFG Brasil, nota que o desempenho do setor é mais uma mostra do poder das medidas aplicadas pelo governo na primeira metade do ano, como a liberação do FGTS e a antecipação do 13º salário. Esses impulsos, no entanto, devem se esgotar no segundo trimestre, lembra.
Por outro lado, é possível que a demanda, especialmente das famílias, siga aquecida na segunda metade do ano, tendo em vista a expectativa de aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, diz Pedroso.
Fonte: Valor Econômico