A União Europeia (UE) dará mais um passo nesta semana em seus esforços para se reinventar como uma potência mundial capaz de fazer uso de seu enorme mercado único para repelir ações coercitivas de governos como os da China, Rússia e até EUA.
O braço executivo da UE apresentará uma proposta na quarta-feira (24) com regras criadas para incrementar seu poder de monitorar e até vetar investimentos estrangeiros em setores sensíveis – inclusive de empresas de dentro do bloco controladas por estrangeiros -, assim como estudos para a criação de um fundo de estímulo ao desenvolvimento de tecnologias que possam servir para fins militares e civis, de acordo com uma versão preliminar do plano à qual a “Bloomberg” teve acesso.
A pandemia da covid-19 e a guerra da Rússia contra a Ucrânia expuseram a dependência excessiva da UE em relação a suprimentos de outros países, assim como as vulnerabilidades comerciais a parceiros que não compartilham dos valores do bloco econômico.
Isso direcionou as atenções à necessidade de defender a segurança econômica da UE, tanto para proteger o suprimento de bens e serviços ligados a tecnologias importadas quanto para garantir que concorrentes não assumam o controle de setores estratégicos da Europa.
A nova estratégia procura abordar os “riscos à segurança econômica da UE, garantindo ao mesmo tempo que a UE continue sendo um destino muito atraente para negócios e investimentos”, de acordo com o esboço do plano, que ainda está sujeito a alterações.
O objetivo é fortalecer a capacidade da UE e de seus países-membros para preparar “avaliações dos riscos atuais relacionados a cadeias de abastecimento, a tecnologias, a infraestruturas e à coerção econômica”.
Na semana passada, a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, alertou para o que chamou de “o maior risco para a ordem global na era pós-guerra”.
Entre as tecnologias cruciais identificadas pela UE estão a quântica, a de semicondutores de ponta, a de inteligência artificial e as biotecnologias. A CE, porém, só decidirá em fevereiro se serão necessárias ações adicionais para reforçar a segurança do setor tecnológico e mitigar os riscos, com base nas conclusões das avaliações de riscos nessas áreas, realizadas em conjunto com os países-membros.
O pacote desta semana incluirá cinco iniciativas: fortalecimento da regulamentação do investimento estrangeiro direto, coordenação de controles de exportação, opções para apoiar a pesquisa de tecnologias de uso civil e militar, ideias para melhorar a segurança da pesquisa e os primeiros passos para uma nova ferramenta para controlar vazamentos de conhecimento sensível a adversários por meio de investimentos europeus no exterior.
Comércio Exterior Assertivo
A economia que a UE tenta proteger está em condições muito piores que a da China ou dos EUA. A região do euro provavelmente sofreu uma recessão no segundo semestre de 2023 e cresceu apenas 0,6% no ano como um todo. Em comparação, a expansão na China superou os 5% e nos EUA, os 2%.
O pacote de segurança econômica expandirá os esforços feitos até agora pela UE para se tornar um ator mais forte no cenário mundial, mesmo enquanto permanece como grande defensora do multilateralismo.
A Comissão Europeia delineou em 2021 uma nova doutrina de comércio exterior, na qual adicionou a assertividade à sua receita de defesa da ecologia e da abertura da economia, e expandiu seu arsenal econômico para combater as chamadas forças coercitivas, entre as quais a da China, com uma nova ferramenta para combater tentativas de intimidação econômica.
Como resultado, a UE adotou uma estratégia de minimizar os riscos relacionados à China, em vez de se desvincular totalmente do país, apesar da pressão representada pela postura mais agressiva adotada pelos EUA.
Por sua vez, o bloco econômico também está competindo com Washington. Os dois aliados não conseguiram resolver uma disputa de tarifas sobre aço e alumínio que já se estende há anos e concorrem por recursos e empresas que lhes permitam acelerar o desenvolvimento de tecnologias limpas e digitais.
A UE permanece em desvantagem em função de seu alto nível de dependência energética e da falta de muitos dos materiais críticos necessários para as transições verde e digital. A pandemia também expôs as vulnerabilidades das cadeias de abastecimento da UE.
Essas tensões colocaram as iniciativas do bloco para permanecer competitivo em um ambiente hostil no alto da agenda europeia, sendo que o comércio exterior agora é visto como uma ferramenta essencial para garantir recursos e cadeias de abastecimento, e para consolidar alianças.
Na sexta-feira, o chefe de Comércio Exterior da UE, Valdis Dombrovskis, disse que 2024 será um ano desafiador, com as guerras na Ucrânia, entrando em seu terceiro ano, e no Oriente Médio tendo o potencial de desestabilizar ainda mais o comércio exterior e as cadeias de abastecimento.
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— Foto: Christian Lue/Unsplash
Fonte: Valor Econômico

