16 Aug 2023
Um ex-presidente no banco dos réus era algo sem precedentes na história dos EUA. Nos últimos meses, porém, o ineditismo bateu quatro vezes na porta dos americanos. Desde ontem, Donald Trump é réu em quatro ações criminais e terá pela frente quatro julgamentos marcados para 2024, que acontecerão embaralhados com a campanha eleitoral.
Na noite de terça-feira (madrugada de ontem no Brasil ), Trump foi acusado de tentar reverter o resultado da última eleição no Estado da Geórgia. Os promotores listaram 41 acusações respaldadas em uma lei, normalmente usada contra mafiosos, para enquadrar o ex-presidente e outras 18 pessoas, incluindo aliados próximos, como Rudy Giuliani, exprefeito de Nova York, e Mark Meadows, ex-chefe de gabinete da Casa Branca.
PERDA DE TEMPO. Ninguém sabe o cronograma exato de todos os julgamentos, já que as datas ainda podem mudar. Mas são evidentes a pressa dos promotores para julgá-lo o mais rápido possível e a estratégia da defesa de Trump, de protelar o máximo possível as audiências.
A eventual condenação talvez não tenha impacto tão direto na disputa presidencial. Nada na lei americana impede que Trump seja candidato ou faça campanha da cadeia – embora assumir o cargo seja uma questão controversa.
O maior problema do ex-presidente é como conciliar sua presença em julgamentos em quatro partes diferentes do país com uma exaustiva campanha eleitoral, que começa a esquentar em janeiro, com as prévias republicanas, e termina em novembro.
Por enquanto, a principal estratégia de defesa é protelar as audiências, de preferência para 2025, após as eleições. Trump aposta todas as fichas em uma vitória nas urnas, o que praticamente enterraria todos os processos legais – exceto um, as acusações de ontem na Geórgia.
Assessores e advogados especulam que Trump poderia emitir um perdão presidencial para si mesmo, assim que assumisse a Casa Branca. Outros dizem que ele, exercendo controle sobre o Departamento de Justiça, teria autoridade para retirar as acusações.
Só que o processo na Geórgia está na esfera estadual, o que deixa o republicano de mãos atadas. A condenação de um ex-presidente, neste caso, poderia provocar uma crise constitucional – mais um ineditismo na história americana.
Fonte: O Estado de S. Paulo

