O JARGÃO do mercado de ouro ecoa o do pôquer. “Strong hands” [mãos fortes] são investidores leais ao metal, não importa o preço. “Weak hands” [mãos fracas] são apostadores volúveis que desistem ao primeiro sinal de problema. Investidores altistas ganham quando convencem outros de sua narrativa para explicar por que o preço está subindo, o que se resume a por que, desta vez, as mãos fortes superam em número as fracas. Seu blefe é testado quando o mercado enfraquece. Se o preço não se recupera, sua história desmorona. Se se recupera, ela ganha credibilidade.
Neste ano, os altistas estão vencendo com tanta folga que o argumento pareceria encerrado. Depois de o preço do ouro atingir US$ 4.380 a onça, um recorde, em 20 de outubro, ele caiu mais de 10% — apenas para recuperar parte de suas perdas. Agora está 55% acima do nível de janeiro e 47% acima de seu pico anterior ajustado pela inflação, alcançado em 1980. Muitos analistas preveem que romperá US$ 5.000 até o fim de 2026. Por outro lado, no início deste ano, nenhum havia antecipado que ultrapassaria US$ 4.000 em 2025. As teorias que explicam seu preço em disparada fazem sentido?

Cada teoria se apoia em um comprador diferente: investidores institucionais, bancos centrais e especuladores. Comece pelos institucionais. A principal atração do ouro é como reserva de valor, especialmente em tempos de crise. É tangível, fácil de transportar e vem em barras de tamanho padrão negociáveis em um mercado global, o que tranquiliza investidores com grandes portfólios. As bull runs anteriores do ouro ocorreram após o estouro da bolha da internet (dotcom), após a crise financeira global de 2007-09 e durante a pandemia de covid-19. Desta vez, porém, uma dinâmica diferente está em jogo. O preço do ouro aproximadamente dobrou desde março de 2024, apesar da ausência de uma recessão. O índice S&P 500 dos EUA subiu mais de 30% no período; as taxas de juros reais permanecem elevadas.
Talvez investidores institucionais estejam buscando refúgio em ouro por temerem que uma crise esteja próxima. Neste ano, as tarifas do presidente Donald Trump e seu impasse com a China ameaçaram o caos comercial. Guerras na Europa e no Oriente Médio poderiam ter saído do controle. Os EUA passaram por seu shutdown de governo mais longo da história. Crescem temores de que um crash nas ações ligadas à IA possa arrastar a economia real. Mas é difícil conciliar esses choques intermitentes com a escalada quase linear do preço do ouro. O metal já estava em alta no início deste ano, quando os alertas sobre uma bolha de IA eram menos audíveis. Os acordos comerciais do sr. Trump, sua trégua com a China, a paz no Oriente Médio — nada disso teve muito impacto sobre seu preço. Depois que o shutdown dos EUA chegou ao fim em 12 de novembro, os mercados acionários subiram e depois caíram, mas isso ocorreu porque também caíram as probabilidades de um corte de juros pelo Federal Reserve. A recuperação do ouro acelerou.
Uma segunda explicação sustenta que a corrida ao ouro está sendo impulsionada pelos bancos centrais — que buscam proteção não contra colapsos de curto prazo, mas contra mudanças de mais longo prazo. De acordo com essa teoria de “desvalorização” [debasement], a disfunção política dos EUA e a explosão da dívida pública, bem como ameaças à independência do Fed, estariam alimentando temores de inflação desenfreada e destruindo a fé no dólar, levando bancos centrais ao redor do mundo a trocar ativos em dólares de longa duração por ouro visto como “tão seguro quanto imóveis”. O problema com essa narrativa é que lhe falta evidência. Se títulos americanos estivessem sendo despejados em massa, o dólar estaria caindo e os yields de longo prazo estariam subindo. Na realidade, o dólar tem permanecido relativamente estável após uma queda mais cedo neste ano; os yields de Treasuries de 30 anos têm ficado em grande parte laterais.
Os defensores da tese de desvalorização apontam que bancos centrais de mercados emergentes estão ávidos pelo metal. Se a fatia do ouro nas reservas de bancos centrais aumentou, porém, isso se deve em grande medida ao fato de que seu preço está subindo enquanto o dólar não está. Em termos de volume, as compras de ouro por mercados emergentes, que partiram de uma base minúscula, continuam pequenas. Um confidente de autoridades de bancos centrais não detecta qualquer impulso para “apostar a fazenda” [bet the farm] em ouro, especialmente se isso significar perseguir uma bolha: “A maioria vai manter a posição por muitos anos. Eles temeriam ter de registrar perdas para sempre.” Dados do FMI sugerem que as compras reportadas desaceleraram, não aceleraram, desde o ano passado, e que as aquisições são impulsionadas por apenas um punhado de bancos.
Isso nos deixa com os especuladores como os prováveis principais responsáveis pelos movimentos recentes de preços. Em 23 de setembro — a última vez em que a Commodity Futures Trading Commission dos EUA divulgou dados, devido ao shutdown — as posições “long” [compradas] em contratos futuros de ouro detidas por hedge funds estavam em um recorde de 200.000 contratos, equivalentes a 619 toneladas de metal. A compra líquida por fundos negociados em bolsa (ETFs) também estava forte. No mês passado, os fluxos de ETFs diminuíram; isso, juntamente com apenas 100 toneladas em vendas líquidas por hedge funds, explicaria grande parte da queda de preços observada no fim daquele mês, estima Michael Haigh, do Société Générale, um banco. Os fluxos de ETFs desde então se recuperaram (os dados dos hedge funds continuam indisponíveis). Portanto, pareceria que o preço do ouro acompanha de perto o apetite desses fundos voláteis.
O que pode ter começado, meses atrás, como um movimento limitado para ampliar a participação do ouro nas reservas de bancos centrais, assim parece ter se transformado em uma massa autossustentada de hot money [capital especulativo de curto prazo] perseguindo preços mais altos. Isso é um mau presságio para as “mãos fortes”. Em algum momento, essa clássica “momentum trade” [estratégia de seguir tendência] — de investidores acompanhando tendências — vai parar. Quanto mais ela durar, mais fichas os jogadores mais ousados correm o risco de perder no fim. ■
Fonte: The Economist
Traduzido via ChatGPT

