Na dermatologia, novos procedimentos são aplicados em tratamento estético e de doenças
- O Estado de S. Paulo.
- 23 Jan 2024
- THAIS SZEGÖ
Técnicas recuperam funções e estruturas das células para que elas voltem a funcionar como quando eram jovens.
Rico em plaquetas Plasma utilizado no tratamento é obtido com a centrifugação do sangue retirado do próprio paciente
Conforme envelhecemos, nossas células passam por mudanças que prejudicam o seu funcionamento correto. Essas estruturas também podem ser danificadas por acidentes, o que exige bastante empenho na recuperação do indivíduo. Mas já existem alternativas para ajudar na plena recuperação desses tecidos – elas são a base da medicina regenerativa.
Essa área chamou muito a atenção na época em que o jogador Neymar sofreu uma fratura no quinto metatarso do pé direito, em 2018, então atacante no Paris Saint-Germain. Na ocasião, o problema foi tratado com a ajuda de elementos presentes no sangue do próprio atleta, principalmente o plasma – prática baseada na medicina regenerativa. A ideia era acelerar a cicatrização e a calcificação do osso.
Embora esse ramo da Medicina seja relativamente novo, seus preceitos já estão sendo aplicados em muitas áreas, como oftalmologia, cardiologia, ginecologia, reprodução humana, urologia e dermatologia.
“A medicina regenerativa utiliza métodos para que as células do próprio paciente sejam ativadas ou se multipliquem, fazendo com que o tecido chegue mais perto da sua atividade normal”, resume a dermatologista Mônica Aribi, que integra a Sociedade Brasileira de Dermatologia e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e é membro internacional da European Academy of Dermatology and Venerology e da International Fellow da Academia Americana de Dermatologia.
APLICAÇÃO NA DERMATOLOGIA.
As terapias regenerativas vêm ganhando cada vez mais espaço nessa área da Medicina. “Elas são usadas há muitos anos fora do Brasil. Em alguns países da Ásia, por exemplo, se faz mais regeneração do que aplicação de toxina botulínica e preenchimento”, conta a dermatologista Denise Barcelos, do Rio de Janeiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
Ainda de acordo com a médica, as terapias regenerativas voltadas à dermatologia chegaram ao Brasil com mais força em meados do ano passado. Algumas técnicas, porém, ainda não são liberadas em território brasileiro – somente para realização de pesquisas.
Mas as expectativas são elevadas. Essas terapias podem ser aplicadas tanto na área estética como no tratamento de doenças dermatológicas, a exemplo de alopecias (a popular calvície é um exemplo), psoríase e dermatites. Também mostram que podem beneficiar na cicatrização de feridas e de queimaduras.
PERSPECTIVAS NA ESTÉTICA.
“A diferença entre essas terapias e os tratamentos já existentes é que elas não apenas previnem e combatem os sinais do envelhecimento, como flacidez, manchas e rugas, mas também recuperam todas as funções e estruturas das células para que elas voltem a funcionar biologicamente da mesma forma que faziam quando eram jovens”, define Denise.
A dermatologia regenerativa engloba procedimentos que
promovem o rejuvenescimento, a otimização da hidratação, o aumento da elasticidade, a melhora dos contornos faciais e corporais e a amenização de estrias e de cicatrizes, como as que são deixadas pela acne.
“Os tratamentos envolvem técnicas conhecidas e consagradas há muitos anos, como lasers, toxina botulínica e bioestimuladores de colágeno, além de novidades, a exemplo do plasma rico em plaquetas”, descreve a dermatologista Joana D’Arc Diniz, diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética no Rio de Janeiro e membro da Union Internationale de Médecine Esthétique (UIME).
Em abril de 2022, cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conseguiram, pela primeira vez, rejuvenescer em 30 anos as células da pele de uma mulher de 53. Na época, os pesquisadores disseram acreditar que, com a mesma técnica, poderiam reproduzir os resultados em outros tecidos do corpo, o que possibilitaria prevenir e tratar doenças relacionadas à idade, como problemas cardíacos e neurológicos.
Publicado na revista científica eLife por cientistas britânicos, alemães e portugueses do Instituto Babraham, de epigenética, em Cambridge, o estudo teve base na mesma técnica de reprogramação celular usada para clonar nos anos 90 a ovelha Dolly, no Instituto Roslin, também no Reino Unido. A pesquisa promete revolucionar a medicina regenerativa. “Conseguiremos identificar os genes específicos que rejuvenescem sem ter de reprogramar a célula”, disse Wolf Reik, principal autor do estudo.
Uma das ferramentas para reparar ou substituir as células danificadas com o avanço da idade é a capacidade de transformar células-tronco em células específicas e vice-versa. A técnica ainda não pode ser testada clinicamente, pois aumenta o risco de câncer. Mas, dizem os cientistas, com o avanço da tecnologia será possível usá-la para dar mais qualidade de vida aos idosos
PLASMA.
Nos tratamentos que utilizam plasma rico em plaquetas, o material é obtido por meio de centrifugação do sangue do próprio paciente para que ele fique com maior concentração de plaquetas. Depois, ele é injetado de volta, especificamente nos locais que necessitam de tratamento.
As plaquetas exercem papel significativo em diversas fases de reparação tecidual, como a incitação do crescimento de novos vasos sanguíneos, a produção de colágeno, o combate à oxidação e a estimulação da reprodução e do crescimento celular. Vale, no entanto, reforçar que, até o momento, essa prática só está liberada para pesquisas e o Conselho Federal de Medicina proíbe sua utilização em consultórios.
O QUE É REALIDADE NO BRASIL.
Outra substância que tem chamado a atenção na área da medicina regenerativa é o PDRN. “Trata-se de um derivado do DNA do salmão purificado e esterilizado que chegou mais recentemente ao Brasil e é utilizado para facilitar a entrega de moléculas terapêuticas em locais específicos da pele”, conta Joana D’Arc. Segundo a médica,
“Em alguns países da Ásia, por exemplo, se faz mais regeneração do que aplicação de toxina botulínica e preenchimento” Denise Barcelos
Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica
o intuito é regenerá-la e estimular a produção de colágeno. Ela destaca ainda os exossomos, minúsculas bolhas secretadas pelas células que são ricas em proteínas, fatores de crescimento e carga de RNA. Elas penetram profundamente nos tecidos, facilitando a comunicação e o transporte de substâncias entre as células. “Os exossomos podem ser utilizados como veículos de administração de medicamentos, permitindo que atinjam alvos específicos sem danificar células saudáveis”, conta. A especialista acrescenta que podem ainda atuar na aceleração da cicatrização dos tecidos, no combate de processos inflamatórios, na diminuição da pigmentação da cútis, na prevenção e no tratamento do envelhecimento e na reparação cutânea.
As terapias regenerativas englobam também a possibilidade de usar microenxertos de pele retirados do próprio paciente – a técnica é uma boa opção para o tratamento de calvície. “O médico colhe três pedaços de uma região do couro cabeludo onde os fios são mais fortes e menos propensos a cair. Na sequência, coloca-os em uma máquina que faz a maceração dos tecidos e misturaos com soro fisiológico estéril, gerando uma solução rica em células-tronco dos cabelos. Essa solução é, então, injetada na área que está sofrendo com a queda”, detalha Mônica Aribi.
A medicina regenerativa abre um campo de possibilidades na dermatologia – inclusive, ela é considerada um divisor de águas no que diz respeito à melhora da saúde da pele e dos cabelos. Mas, como a área é ainda muito nova, é importante buscar médicos com boa formação e credibilidade para realizar os procedimentos, que devem utilizar produtos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). •
Fonte: O Estado de S. Paulo