O processo de venda ainda está no início e ainda não se tem visibilidade de quando a transação será concluída, uma vez que ainda depende de uma decisão da Justiça
Por Fernanda Guimarães e Mônica Scaramuzzo, Valor — São Paulo
24/10/2023 14h25 Atualizado há 10 horas
A família Stevanatto, dona de 50% da farmacêutica nacional Cristália, colocou sua parte do negócio à venda, apurou o Valor. A decisão, contudo, gerou um litígio com a família Pacheco, que tem os outros 50% da empresa fundada em 1972.
Na sua terceira geração, os Stevanatto contrataram o Itaú BBA para colocar a sua parte à venda. Com direito de preferência na compra, a família Pacheco achou que o preço pedido pela participação do negócio era muito alto e entrou com uma ação na Justiça para que a decisão pelo valor seja melhor arbitratada.
De acordo com uma fonte do setor, os Stevanatto pediram inicialmente cerca de R$ 9 bilhões por 50% de sua parte. No entanto, após as primeiras rodadas do data room, com a falta de interesse no negócio, o valor foi para entre R$ 7 bilhões e R$ 8 bilhões.
Ao Valor, Ogari Pacheco afirmou que busca uma solução na Justiça para que se chegue a um valor justo, uma vez que sua ala da família tem interesse de ficar com o negócio. No entanto, não há resistência se outro sócio entrar. “O que está claro é que não queremos vender a nossa parte”, afirmou o empresário.
Nos últimos meses, empresas como EMS e Hypera chegaram a avaliar o data room, mas as conversas não seguiram adiante. O negócio chegou a ser oferecido para outras farmas nacionais, como Aché e Eurofarma.
Há, pelo menos, duas dificuldades iniciais para encontrar um sócio para o negócio. A Cristália, especializada em anestésicos, tem uma dependência muito forte do governo, uma vez que suas vendas são hospitalares e feitas diretamente para prefeituras, Estados e União.
O outra é o relacionamento da companhia com potenciais sócios que possam entrar na jogada. Com a família Sanchez, dona da EMS, a ala dos Pacheco não se dá bem. E isso ficou muito claro na segunda gestão do governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o presidente tentou criar duas superfarmacêuticas nacionais. “Sanchez e Ogari Pacheco não falavam a mesma língua naquela época”, disse uma pessoa a par do assunto.
Essa mesma fonte afirma que as negociações seriam difíceis para a entrada de um grupo estrangeiro por conta do compliance da companhia, uma vez que a empresa foi uma das que mais participou de várias Parcerias de Desenvolvimento Produtivos (PDPs) e teve esse movimento questionado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no passado.
O processo de venda ainda está no início e ainda não se tem visibilidade de quando a transação será concluída, uma vez que ainda depende de uma decisão da Justiça.
Um das fontes consultadas disse que, apesar de apenas metade da empresa estar no momento na mesa para negociação, poderá haver mais interesse por 100% da companhia. Hoje o filho de Pacheco, Ricardo, está na condução dos negócios.
O Laboratório Cristália conta com dez unidades farmacêuticas, sendo três no Complexo Industrial de Itapira (SP), uma em São Paulo (capital), uma em Cotia (SP), uma em Pouso Alegre (MG), duas no Rio de Janeiro, uma em Cosmópolis (SP) e uma na Argentina. O laboratório não vende medicamentos diretamente para farmácias — caso da Aché e Eurofarma — mas para hospitais. Atua também na produção de produtos dermatológicos estéticos, como a toxina botulínica.
Procurado, o Itaú BBA, que representa a família Stevanatto, não comenta o assunto.
Fonte: Valor Econômico