Estabelecimento de saúde, comprado pela gestora por R$ 100 milhões, atendia quase que exclusivamente pacientes da Prevent Senior
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Após uma crise que se estendeu por cerca de dez anos e teve seu ápice na pandemia, o centenário Hospital Santa Rita, de São Paulo, foi vendido no fim de 2022 pelo valor da sua dívida, em torno de R$ 100 milhões, à gestora Prisma Capital, de Marcelo Hallack. Desde então, o hospital vem passando por uma profunda reestruturação que envolveu o cancelamento do contrato com a operadora Prevent Senior que respondia por 85% da ocupação dos seus leitos e 60% da receita.
O Santa Rita já conseguiu retomar essa taxa de ocupação com outras operadoras de planos de saúde. Em janeiro, o hospital que tem 144 leitos atingiu o ‘breakcven’ (ponto de equilíbrio financeiro). A expectativa é apurar lucro no segundo semestre e está sem endividamento – boa parte do passivo era fiscal e foi negociado. A meta é fechar este ano com receita de R$ 173 milhões, mais do que o dobro do apurado em 2024.
No entanto, o Santa Rita ainda enfrenta o desafio de renegociar com as operadoras as condições dos contratos que estão defasados. “São acordos fechados há muitos anos. O hospital era praticamente todo focado na Prevent Senior, quase não havia relacionamento com as demais operadoras. Agora, retomamos as parcerias, mas precisamos equacionar isso, há um grande desalinhamento sobre o que oferecemos e a remuneração que recebemos”, disse Wagner Marujo, presidente do Hospital Santa Rita, contratado em 2023.
A partir de 2021, diante dos prejuízos, as operadoras de planos de saúde passaram a pressionar o setor hospitalar com reajustes menores, atrasos e cancelamento de pagamentos. Segundo a Anahp, entidade que reúne os maiores hospitais do país, as operadoras deixaram de pagar aos seus associados um total de R$ 5,8 bilhões em procedimentos médicos em 2024 – prática conhecida no setor como glosa.
A Prisma está investindo R$ 60 milhões para a melhoria da infraestrutura do hospital que ficou cerca de uma década sem modernização. Deste montante, 50% já foram alocadas num novo centro cirúrgico, equipamentos médicos, pronto socorro e uma área de consultórios para atendimento de médicos especialistas.
“Estamos diversificando. Éramos muito focados em cirurgia, agora temos um centro médico com especialistas de diferentes áreas”, disse Marujo, que entre 2009 e 2012 foi presidente do Hospital Infantil Sabará, do pediatra José Luiz Setúbal (membro da família do Itaú).
A outra fatia de R$ 30 milhões será investida até o fim de 2026 para modernização da UTI, pronto socorro e hotelaria. Mas Marujo faz ponderações sobre esse último item.
“Há uma valorização excessiva na hotelaria dos hospitais. O custo da saúde já é alto e a hotelaria eleva ainda mais. Atendemos o público intermediário. Oferecemos atendimento médico de qualidade sem bandeja de prata e mordomo de luvas branca”, disse o presidente do Santa Rita.
Segundo Marujo, há uma demanda crescente de pacientes particulares procurando o Santa Rita. Nesse grupo, há pessoas sem plano de saúde e outras que têm convênio médico, mas os hospitais credenciados não atendem os médicos dos pacientes. A fatia de clientes particulares hoje representa 10% da receita.
A gestão do hospital é feita em parceria com a Prisma, que tem cadeiras no conselho. A gestora tem longa experiência no setor de saúde. Hallack fazia parte do time do BTG que aportou em 2010 recursos na Rede D’Or – primeiro investimento privado no setor de saúde. A Prisma investiu ainda na Bionexo, plataforma de compra de medicamentos, e faz a gestão da fatia da Rede D’Or na Qualicorp.
Há um projeto de ampliação dos atuais 144 para 400 leitos, uma vez que há amplo espaço no terreno em que o hospital está instalado, mas esse não é um plano de curto prazo e pode envolver outros arranjos financeiros como a entrada de novos investidores.
Questionado sobre um desinvestimento por parte do fundo, Marujo diz que “essa é uma possibilidade na mesa, a Prisma é um fundo, é um caminho natural. Já vieram nos procurar, inclusive, operadoras de outros Estados. Mas não acredito que seja algo de curto prazo. O fundo entrou em 2022, são de longo prazo, conhecem bem o setor, sabem que saúde é um investimento que não dá ter retorno imediato.”
Em sua visão, a retomada de fusões e aquisições no setor de saúde ainda vai levar de dois a três anos devido às incertezas do ambiente macroeconômico e a taxa de juros elevada.
Nesse cenário, Marujo diz que está arrumando a casa. Além da modernização na infraestrutura, está investindo em inteligência artificial na área da enfermagem do hospital. Ele reclama que, atualmente, metade do tempo de enfermeiros é fazendo anotações e os outros 50% atendendo efetivamente os pacientes.
Fonte: Valor Econômico