Por Lucinda Pinto — De São Paulo
31/10/2022 05h00 Atualizado há 11 minutos
A vitória apertada nas urnas do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pode provocar uma abertura negativa nos mercados financeiros nesta segunda-feira, mas que poderá se dissipar à medida que o novo governo trouxer informações mais claras sobre qual será a estratégia para a política econômica. Analistas ouvidos pelo Valor acreditam que, embora antecipado pelas pesquisas, o resultado da eleição traz cautela aos investidores, o que deve se traduzir em alta do dólar e dos juros futuros, e queda da bolsa, especialmente das ações de companhias estatais – que são hoje os ativos mais sensíveis ao movimento eleitoral.
Essa possível piora dos preços, que reflete a preocupação dos agentes com a política fiscal a ser adotada pelo governo petista e, sobretudo, com a gestão de bancos e empresas públicos, deve ser moderada. Afinal, Lula já era considerado o favorito pelas pesquisas eleitorais, o que significa que os preços já estavam ajustados a esse cenário. Mas, dada a experiência do primeiro turno, que mostrou uma força maior de Bolsonaro do que as sondagens indicavam, os mercados ainda embutiam algo como 30% e 40% de chance de haver uma reeleição.
Para Evandro Bertho, da Nau Capital, os mercados devem ter uma abertura negativa porque “pouco se sabe a respeito das propostas e, em especial, qual será a composição da equipe econômica do governo Lula”. “E o mercado tem dificuldade de lidar com incerteza.” Ele diz que, à medida em que se tenha alguma definição sobre a equipe, o mercado pode se acalmar.
Na quinta-feira passada, Lula divulgou a “Carta para o Brasil do Amanhã”, considerada pelos agentes de mercado muito genérica, e com sinais a favor do uso do BNDES para financiamento do investimento público, o que é fonte de preocupação para os investidores.
Já para Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital, a vantagem muito pequena de Lula em relação a Bolsonaro é outro fator de preocupação. E esse temor de haver algum tipo de contestação do resultado da eleição levou o mercado a piorar sensivelmente na semana passada. Ele lembra que o EWZ, índice que reflete o desempenho do Ibovespa em dólar, caiu 8%, enquanto o S&P subiu 4% no mesmo período.
À medida que os representantes dos governos – desde o Judiciário, até as presidências da Câmara e do Senado – reconheçam o resultado, o risco institucional diminui e há espaço, portanto, para uma melhora dos ativos. “Seria importante a indicação do próximo ministro logo. Mas o maior receio do mercado era que a eleição fosse judicializada”, afirma. “Com esse risco diminuindo, os mercados melhoram”, diz.
Portella diz ainda que, afastado o risco de contestação da eleição, há perspectiva de fluxo externo para o país. “O investidor estrangeiro prefere o Lula, por sua forma de lidar com questões como a do meio ambiente. Então, pode até ter fluxo estrangeiro e, com isso, uma queda do dólar.”
Para analistas, a reação mais previsível é das companhias estatais. Para José Alberto Baltieri, gestor do fundo ASA Small Mid Cap, mesmo com a volatilidade recente, essas ações ainda tinham em seus preços uma probabilidade implícita de haver uma privatização. “Com o governo do PT, essa probabilidade vai a zero. Então, esses papéis devem reagir negativamente.”
Por outro lado, alguns setores devem se beneficiar desse novo cenário. É o caso do setor de educação, que se beneficiou de políticas adotadas em outros governos do PT. “Lula falou, no Twitter, que vai reavivar o Fies e o Prouni”, lembra. Também papéis do setor de construção civil, especialmente as empresas ligadas ao programa Casa Verde Amarela, devem ganhar força. “Esse resultado da eleição deve causar readequação de portfólio”, resume.
“Imagino uma reação inicial negativa. Mas o que vai definir a tendência do mercado é a divulgação do nome do ministro da Economia”, afirma Baltieri. “Nosso maior risco é o fiscal. Se for um ministro pro-mercado, comprometido com mais disciplina fiscal, o mercado vai reagir bem.”
O gestor observa, ainda que, feitos os ajustes nos preços, a conclusão da eleição já é, por si só, uma notícia positiva. “A gente remove uma incerteza importante para o mercado. Isso é positivo”, afirma o executivo.
Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, outro tema que será monitorado com atenção é o fato de que o futuro governo Lula terá poderes limitados pelo Congresso, dada a nova condição de orçamento de parlamentar. “Com isso, é preciso se entender como será um governo Lula nesse primeiro ano para se entender como ele poderá avançar”, afirma Vieira.
Fonte: Valor Econômico

