Nove meses depois de contratar o Santander para buscar um sócio, a RBR Asset encerrou o processo sem fechar qualquer acordo. Agora, a gestora estuda a possibilidade de ela própria ir às compras.
Ricardo Almendra, CEO e sócio-fundador da casa focada no setor imobiliário e de infraestrutura, não revelou quantas ofertas recebeu. Disse apenas que mais de 20 interessados assinaram o contrato de confidencialidade para avaliar os números. Segundo ele, não houve problema na avaliação da fatia da empresa, mas as propostas não preencheram as exigências da RBR. Fontes de mercado afirmaram ao Valor que o ponto principal que impossibilitou a transação foi o fato de que os sócios não queriam abrir mão do controle.
Almendra preferiu não entrar em detalhes sobre as discordâncias. Afirmou apenas que eram três requisitos estabelecidos pela RBR. O primeiro era que a venda seria apenas de uma participação minoritária “para não haver ruptura na gestão”; o segundo, que os novos sócios investiriam em fundos da asset além do que pagariam pelo percentual da empresa, assim como o dinheiro recebido pela venda da fatia seria reinvestido no negócio, “para ter capital proprietário permanente e acelerar o crescimento”; e, por último, que o comprador tivesse um nome forte para ampliar o alcance da RBR.
Ele lembrou que a notícia de que o Santander estava com o mandato de busca do sócio causou ruído entre clientes e fez questão de dizer que a RBR como um todo nunca esteve à venda. De acordo com Almendra, depois que a área imobiliária da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG) foi vendida para o Pátria Investimentos por US$ 130 milhões, numa disputada operação (Almendra disse que ele próprio tentou comprar), o mercado ficou agitado e a RBR começou a ser procurada por interessados em entrar no negócio.
A gestora, então, contratou o Santander para organizar as propostas e verificar se alguma se encaixaria no planejamento estratégico da empresa, que atingiu R$ 11 bilhões de ativos sob gestão em 2024.
Diante do bom resultado da gestora no ano passado, agora a RBR está olhando para o outro lado do balcão, ou seja, a possibilidade de ela mesma comprar outras gestoras, aproveitando que o período foi difícil para muitas. Isso porque 2024 começou bem para os fundos de investimento imobiliário (FIIs), mas por volta do mês de maio o cenário mudou com a perspectiva de que o Banco Central (BC) voltaria a elevar os juros no Brasil e a demora do corte de juros nos Estados Unidos. A RBR, no entanto, conseguiu captar um total de R$ 2 bilhões e se tornou, conforme dados da asset, a gestora independente com maior captação líquida no segmento imobiliário.
Almendra atribuiu o desempenho à diversificação tanto de linhas de negócio quanto de clientes. A maior parte da captação veio do varejo, com cerca R$ 750 milhões, seguido de institucionais (outras gestoras e bancos), com R$ 395 milhões, fundos de pensão (R$ 350 milhões), clientes private (R$ 310 milhões) e altíssima renda (family e multi-family offices de relacionamento direto), com R$ 216 milhões. Os recursos foram levantados para fundos de desenvolvimento, de escritórios para renda, exclusivos multiestratégia e de crédito imobiliário, além de veículo de infraestrutura exclusivo para um family office.
Até então, a RBR tinha apenas um fundo no segmento de infraestrutura, lançado em 2023, negociado no ambiente de balcão – conhecido como “cetipado” -, com patrimônio líquido de R$ 200 milhões.
Neste ano, a gestora pretende ampliar o escopo de atuação. A RBR abriu dois fundos e formará um consórcio com um operador do ramo para entrar em leilões de concessão de rodovias e iluminação pública entre maio e junho. Os recursos iniciais, que permitem entrar nos certames, já está levantado com um grupo inicial de investidores âncora. No total, Almendra estima que as estratégias chegarão a R$ 200 milhões cada uma, com retorno alvo de IPCA mais 15%. “A estratégia é investir em operações mais complexas.”
Nos Estados Unidos, a gestora concluiu no ano passado um investimento total de US$ 67 milhões em aquisições para seu terceiro fundo, envolvendo seis novos prédios em Nova York, e já está começando a levantar US$ 100 milhões para o quarto fundo. A tese é comprar edifícios degradados, reformar, alugar e depois vender. No Brasil, a RBR vai continuar originando operações de certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e pretende abrir um fundo imobiliário com prazo determinado. “Nossa meta é crescer entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões neste ano”, disse.
Fonte: Valor Econômico