Por Fernanda Guimarães — De São Paulo
24/01/2023 05h01 Atualizado há 49 minutos
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O período de mais de um ano sem debutes na bolsa brasileira trouxe uma “ferida” para o balanço dos bancos de investimento, com as receitas de comissões provenientes de transações típicas de mercado de capitais, ou seja, de emissões de ações, de dívidas, fusões e aquisições e empréstimos, caindo quase pela metade em 2022.
Dados da consultoria Dealogic apontam que as receitas dessas instituições financeiras que atuam no Brasil somaram, no ano passado, US$ 859 milhões, recuo de 44% ante US$ 1,544 bilhão em 2021, que foi um ano recorde para o mercado de ações no país.
As receitas dos bancos de investimentos foram, com isso, as mais baixas desde 2018, quando atingiram US$ 820 milhões, ainda de acordo com dados da Dealogic. No ano passado, apesar da ausência de IPOs (ofertas públicas iniciais de ações, na sigla em inglês), os “follow-ons” (ofertas de ações de empresas já listadas) marcaram presença no ano. A principal delas foi a capitalização feita em bolsa que marcou o processo de privatização da Eletrobras. Outras operações relevantes foram as da Eneva, que fez uma oferta de ações para financiar movimentos de aquisições, e do atacarejo Assaí, com o varejista francês Casino vendendo uma fatia de sua participação para fazer caixa com o objetivo de ganhar fôlego financeiro.
Ao todo, foram 19 follow-ons no ano passado, segundo dados compilados pela B3, com um volume movimentado de cerca de R$ 60 bilhões. O dado é inflado pela oferta da Eletrobras, que sozinha girou R$ 33 bilhões.
As transações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) permaneceram fortes, com um volume de cerca de US$ 50 bilhões, depois de um 2021 recorde e fora da curva, quando houve uma grande concentração de negócios. Dados compilados pela consultoria KPMG mostram que, em 2022, o Brasil registrou 1.728 fusões e aquisições, queda de 12% na comparação com o ano anterior.
No BTG Pactual, a presença em follow-ons e M&As garantiu o movimento do banco de investimento no ano passado. Agora, a previsão é de que os IPOs voltem à cena após o primeiro trimestre, quando houver clareza sobre os rumos da economia, segundo o sócio e responsável pela área de renda variável da instituição, Fabio Nazari. “Não acho que será um ano perdido para IPOs. Muita coisa que já aconteceu já está nos preços dos ativos e, agora, a visibilidade em relação aos juros nos Estados Unidos é um ponto que deve ajudar.”
Segundo Nazari, as conversas com as empresas seguem aquecidas, com muitas já na lista de espera. O executivo afirma que outro ponto relevante que deve ser notado ao longo do ano é a volta do fluxo estrangeiro.
No caso de M&A, o sócio responsável pela área, Bruno Amaral, afirma que o banco registrou recorde nesse segmento em 2022 e a expectativa é de atividade bastante aquecida também para este ano. Um começo de 2023 mais morno já estava no roteiro, exatamente por conta do período de transição do governo. “Nosso ‘pipeline’ [carteira de operações em preparação] está forte. No fim de dezembro para cá deu uma desacelerada, mas seguimos ganhando mandatos novos”, afirma.
Para Amaral, a acomodação das taxas de juros no mundo vai, como consequência, deixar o mercado mais otimista.
O responsável global pelo banco de investimento do Itaú BBA no Brasil, Roderick Greenlees, diz que a megaoperação entre Hapvida e Notredame Intermédica, um negócio da ordem de R$ 100 bilhões em valor de mercado anunciado em 201, elevou a régua. Ainda assim, o mercado de M&A permaneceu aquecido no ano passado, mesmo com volume financeiro menor. “A atividade de M&A continuará sendo muito importante para nós em 2023”, afirma.
Já os IPOs devem voltar a marcar presença a partir do segundo trimestre, aponta Greenlees. Ele frisa que, à medida em que houver uma melhora do preço das ações, o cenário ficará ainda mais propício. “Haverá um volume maior de empresas usando a ação como moeda de troca e os follow-ons, do outro lado, também ficam mais interessantes.”
Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do norte-americano Citi, espera em 2023 um ano semelhante ao ano passado em termos de atividade de banco de investimento, mas o cenário pode mudar em caso de retomada dos IPOs – algo que o executivo projeta para o segundo semestre, com uma indicação de queda dos juros no mercado, marco relevante para a volta das operações de abertura de capital. “O saldo de 2022 foi positivo, apesar das circunstâncias de mercado. Tivemos ganho de ‘market share’ e foi um resultado do plano que traçamos há cinco anos de restabelecer a presença do Citi”, afirma.
O vice-chairman da área de banking, mercado de capitais e assessoria do Citi Brasil, Fernando Iunes, diz que 2023 começou volátil, mas a projeção é de retomada mais firme da atividade principalmente a partir do segundo semestre. “Apesar do contexto de volatilidade, o Brasil voltou a ser importante geopoliticamente. Estrangeiros estão olhando o Brasil e acho que vai ter muita coisa”, afirma o executivo, que já foi do Itaú BBA e da EB Capital e chegou ao Citi no ano passado para reforçar a área.
O responsável pela área de M&A do Bank of America, Diogo Aragão, diz que a carteira no início de 2023 está marginalmente melhor que no ano passado. O executivo aponta, contudo, que conforme a volatilidade aumenta, mais é necessário trabalhar na operação. “O risco associado é maior”, diz. “Mas o que sempre digo é que o melhor jeito de se destravar valor é por meio de uma combinação de empresas.”
Fonte: Valor Econômico

