A atuação nos âmbitos públicos e privados se dá pela formulação de políticas de saúde, entre elas as de atenção básica, média e alta complexidade, vigilâncias sanitária, epidemiológica, ocupacional e laboratórios de saúde pública.
A área de ciência e tecnologia pode reduzir a dependência do país de equipamentos e drogas importados
Na atual fase de desenvolvimento técnico cientifico é impossível a uma única área como a da saúde assistir, pesquisar, inovar, ensinar e coordenar sem a integração com outras que produzem conhecimentos complementares para novas oportunidades que permitam renovação de práticas e instrumentos operacionais com melhores resultados, menos eventos adversos, enfim, impactos positivos para a população e profissionais.
A vinculação máxima se dá com a educação, iniciando-se pelas negociações com os formadores sobre o perfil dos profissionais de saúde, as competências e habilidades necessárias e o enquadramento do currículo dentro do citado.
Isto se deve a dinâmica e decorrência de fatores epidemiológicos, geográficos, demográficos e socioeconômicos regionais e locais, bem como àqueles científicos e tecnológicos. Aqueles ligados a administração do sistema, profissionais de outras áreas do conhecimento, necessitam complementação específica, incluindo-se administração, economia, arquitetura, como exemplo. Disciplinas como sociologia, antropologia, psicologia, aumentam a eficácia das ações, o enfrentamento de particularidades e mudanças rápidas e desafiadoras.
Não menos importante nesta relação são decisões sobre o número de faculdades, a quantidade de profissionais por especialidades, vagas em residência e estágios, aproximando o mercado da real necessidade das regiões e do momento vivido pelas respectivas populações. O excesso ou a falta causa eventos adversos, iatrogênia e danos financeiros.
O avanço obtido nas últimas décadas em ciência, tecnologia e inovação beneficiaram sobremaneira a evolução das ciências da saúde, com novos materiais, equipamentos, insumos, órteses, próteses, instrumentais, drogas, medicamentos e os chamados vestíveis, permitindo procedimentos menos invasivos. A tecnologia da informação, abre inúmeras possibilidades diagnósticas e terapêuticas, valendo-se da digitalização, tele saúde, inteligência artificial, formação de grandes e complexos banco de dados, contribuindo sobremaneira para a prevenção e cura de doenças.
O cadastro de pesquisas em andamento em universidades, institutos de pesquisa, empresas privadas, e aqueles financiados por agências de fomento, se exposto, racionaliza descobertas e avanços, evita desperdício, agiliza resultados para melhor aproveitamento público.
Produtividade se faz com pesquisa e inovação, daí a procura por este suporte, que permitirá desenvolvimento a custos mais acessíveis e atendimento ao maior número possível de pacientes.
A área de ciência e tecnologia pode proporcionar menor dependência de equipamentos, órteses, próteses, drogas e medicamentos importados, como demonstrado na pandemia, permitindo a indústria nacional libertar o país da aquisição em outros países, de equipamentos, chips, insumos hospitalares, vacinas e medicamentos. Merece no plano de governo estabelecer metas a médio e longo prazo para a realização de investimento que, além de recursos financeiros, exigem recursos humanos para atuação num mercado altamente sofisticado, com profundos estudos de custo efetividade, eficácia e benefício.
As entidades de saúde privadas que visam lucro e as filantrópicas e beneficentes, disponíveis a parcerias baseadas em convênios, estabelecendo limites de atuação e retribuição de ambas as partes na condução de programas e serviços complementares, podem contribuir na produção e na racionalização do uso de recursos. A Saúde Suplementar deve interagir com o Sistema Único de Saúde com divulgação de inovações, de informações epidemiológicas e de gestão, complementando conhecimento da situação de saúde e apoiando o desenvolvimento do país.
É impossível no século XXI com tantas complicações sociais e biológicas conviver isolado, voltado para dentro da sua própria comunidade, em busca de soluções para necessidades tão diversas e de difícil solução. Entidades ligadas a saúde, como Conass, Conasems, conselhos de classe, mas também entidades representantes de organizações não governamentais, podem unir-se para a busca de soluções.
Agregar diferentes parceiros na busca de bem comum exige planejamento, uso de instrumentos modernos de gestão do relacionamento e entendimento sobre comportamento dos participantes. Neste grupo, a mídia é parceira interessante na divulgação de conhecimento sobre atenção primária, localização de equipamentos de saúde, alertas de epidemias e outras criações. Legislativo, Judiciário e respectivos órgãos de controle podem e devem contribuir. É positivo a influência deles em políticas públicas de interesse da sociedade.
Mas, para que órgãos de governo possam obter bom sucesso nesta empreitada, os planos devem conter componentes que permitam em primeiro lugar autonomia de gestão, para que possam cumprir metas estabelecidas e isto só se consegue com reformas estruturais. Medição de riscos, resultados e impactos devem ser prioritários, com capital humano preparado para os desafios de logística, de coordenação e regulação do sistema, do monitoramento do custo-benefício de programas e serviços implantados e financiados há tempos, com exclusão daqueles com impacto negativo, o que renderia financiamento para os novos, sustentabilidade socioeconômica e governança corporativa.
Abordar e valorizar estes pontos, saindo do usual, alguns até transformados em políticas de Estado, interdisciplinares, suprapartidárias, com continuidade garantida num horizonte de médio e longo prazo, representam conquistas sociais.
Olímpio J. N. V. Bittar é médico especialista em Saúde Pública.
Fonte: Valor Econômico