Por Robert Wright — Financial Times, de Londres
02/05/2024 05h03 Atualizado há 4 horas
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/y/y/bkHnxdREeMMK1jW9fobQ/arte02int-101-comercio-a11.jpg)
Rebeldes houthis atacaram um navio porta-contêineres no Oceano Índico, o que indica uma expansão da região ameaçada pelo grupo iemenita apoiado pelo Irã que normalmente atua no Mar Vermelho, a centenas de quilômetros dali, alertam autoridades em transporte marítimo.
O ataque com drone ao MSC Orion na noite de 26 de abril se concretizou após ameaças dos rebeldes houthis, em março, de ampliar a área dos ataques para o Oceano Índico, mirando navios mercantes cumprindo rotas entre a Ásia e a Europa ou contornando o Cabo da Boa Esperança.
Muitas empresas de navegação optaram pela rota mais longa para fugir dos ataques dos houthis no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, no caminho para o Canal de Suez.
Os rebeldes houthis atacaram vários navios mercantes com mísseis e drones de novembro para cá. Eles dizem agir em apoio aos palestinos de Gaza.
O ataque ao MSC Orion marca a ampliação da área marítima sob risco em meio à campanha do grupo islâmico contra navios ocidentais, englobando uma grande faixa do noroeste do Oceano Índico antes considerada segura.
Jakob Larsen, chefe de segurança marítima da Bimco, uma importante associação de armadores, acredita que algumas empresas de navegação mudarão suas rotas para que os navios passem ainda mais longe do Iêmen agora que a ameaça se intensificou.
“O mais provável é que alguns navios mudem de rota e passem mais longe da região ameaçada, especialmente os que têm alguma ligação com Israel, EUA ou Reino Unido”, disse.
O MSC Orion pertence à Mediterranean Shipping Company (MSC), operadora da maior frota de navios de contêineres do mundo, com sede em Genebra. O navio foi atingido por um drone a uma distância de 300 a 400 milhas náuticas (550 a 750 quilômetros) do Chifre da África, segundo o Centro de Operações de Comércio Marítimo do Reino Unido em Dubai.
Os rebeldes houthis afirmam ter atacado ou atingido outros navios no Oceano Índico nas últimas semanas, mas o ataque ao MSC Orion foi o primeiro efetivamente reconhecido por uma das organizações internacionais que atuam na proteção das principais rotas marítimas da região contra piratas e ameaças militares.
O MSC Orion é “irmão” do MSC Aries, capturado pela Guarda Revolucionária do Irã em 13 de abril no Estreito de Ormuz. Ambos operavam o serviço “Himalaya Express” entre a Europa e portos no Sri Lanka e na Índia.
Algumas publicações especializadas em transporte sugeriram que a MSC havia ordenado que os navios fizessem escala no porto de Salalah (Omã) para evitar portos do Golfo Pérsico próximos ao Irã.
O MSC Orion estava a caminho de Salalah quando foi atacado, segundo o serviço de rastreamento de navios Marine Traffic. A MSC preferiu não comentar.
O MSC Aries e o MSC Orion fazem parte de uma encomenda de oito navios construídos para a Zodiac Maritime, controlada pelo bilionário israelense Eyal Ofer. Embora operado pela MSC, o Aries ainda é de propriedade de uma empresa ligada à Zodiac. Já o Orion tem como proprietária registrada a própria MSC.
O Centro de Operações de Comércio Marítimo do Reino Unido disse que o MSC Orion e sua tripulação estão seguros e em viagem rumo ao próximo porto de escala. Um boletim do Centro Conjunto de Informações Marítimas (JMIC), organização internacional que compartilha informações sobre ameaças na região, diz que foram encontrados destroços de um drone no navio, que sofreu apenas danos leves.
Em fevereiro, os rebeldes houthis conseguiram afundar o Rubymar, um navio de propriedade libanesa que afirmaram ser britânico, na região sul do Mar Vermelho. Em março, em outro ataque, os houthis mataram três marinheiros a bordo do navio graneleiro True Confidence no Golfo de Áden.
Os ataques passaram a ser menos frequentes e graves depois que o Behshad, um navio de propriedade iraniana que teria sido usado para fornecer informações de inteligência sobre os alvos aos rebeldes houthis, partiu para o Irã no começo de abril. O Behshad permaneceu durante três anos no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, perto do Iêmen.
Além do MSC Orion, os houthis também atacaram e atingiram o petroleiro Andromeda Star no Mar Vermelho na sexta-feira.
Em boletim publicado após o ataque ao MSC Orion, a EOS Risk, uma empresa de consultoria com sede no Reino Unido, alertou seus clientes que os drones dos rebeldes houthis são capazes de atingir alvos localizados a 2.000 quilômetros das bases do grupo localizadas em cidades como Hodeida, no Iêmen, na costa do Mar Vermelho.
Os houthis dizem mirar navios com conexões com Israel, EUA e Reino Unido. Em várias das embarcações atacadas, no entanto, esses vínculos são distantes ou relacionados a proprietários anteriores.
A MSC foi alvo de vários ataques de grupos ligados ao Irã nos últimos meses, o que o JMIC atribuiu aos vínculos da companhia com o Estado de Israel.
Jon Gahagan, presidente da Sedna Global, uma empresa especializada em riscos marítimos, disse ser “altamente provável” que o Irã tenha apoiado o ataque ao MSC Orion, dada a distância do Iêmen e a falta de capacidade de vigilância marítima dos rebeldes houthis.
Fonte: Valor Econômico

