Por Eduardo Magossi, Valor — São Paulo
30/07/2023 13h42 Atualizado há 19 horas
A queda da inflação nos Estados Unidos já está fazendo com que as empresas americanas que integram o índice S&P 500 recomponham suas margens e melhorem seus lucros, e esse efeito vai se refletir no mercado de ações a partir do próximo trimestre, avalia a chefe global de estratégia de portfólio da Bloomberg Intelligence, Gina Martin Adams.
“O lucro por ação das empresas do S&P 500 caiu em todos os trimestres de 2022, pressionado pelo aumento de custos provocado pela inflação. Agora, algo mudou no início deste ano, com a desaceleração da inflação”, disse ao Valor.
Adams acredita que as condições mais fracas de crescimento dos lucros atingiram seu pior momento no segundo trimestre deste ano e, a partir de agora, o cenário será positivo, com sinais de retomada já sendo sentidos no terceiro trimestre e dando início a uma fase de recuperação mais forte em 2024.
Para a estrategista de ações, o temor de recessão nos Estados Unidos que surgiu este ano tem sido um fator de “distração” para os investidores. “O cenário econômico e os lucros das empresas não são exatamente a mesma coisa.”
Adams ressalta que focar em projeções sobre recessão leva muitos investidores a concluir que o mercado de ações está fadado a ruir.
“Mas não é isso que está acontecendo. As ações estão subindo nos Estados Unidos e isto porque elas são negociadas a partir do resultado de seus lucros e não de projeções econômicas. Entender o que provoca a divergência entre eles é a chave para uma estratégia de mercado de sucesso. E os lucros estão provocando a recuperação dos preços das ações este ano”, ela afirma.
A estrategista explica que a desaceleração da inflação já permitiu que o mercado de ações tivesse um alívio na primeira parte de 2023.
“Até o momento, os resultados das empresas não mostram uma piora do quadro ante 2022, mas também não está muito melhor. Mas é suficiente para que o mercado de ações fizesse um rali porque, no fim do ano passado, se precificava uma nova queda de 15% no lucro por ação das empresas do S&P 500 para este ano, e nós não vimos essa queda”, disse Adams.
Segundo ela, a elevada inflação americana em 2022 levou à queda dos lucros das empresas, mas não houve recessão.
“E mesmo assim o mercado de ações caiu 25%. Foi a redução dos lucros das empresas que guiou a queda dos preços das ações em 2022, e agora os lucros estão começando a guiar uma recuperação”, disse. Em 2022, os lucros das empresas que compõem o S&P 500 registraram queda de 12%, em base ajustada.
Para Adams, a queda nos lucros não é consequência do impacto dos juros mais altos, mas da inflação, que fez com que os preços das matérias-primas subissem de forma mais rápida que os preços ao consumidor, reduzindo margens e lucros.
“Eu acho que não vimos ainda o impacto dos juros altos porque, em parte, a economia dos EUA está menos sensível aos juros neste momento do que esteve nos últimos 20 anos. Talvez iremos sentir o impacto dos juros em 2024, 2025 ou 2026, se sentirmos”, ela afirma.
“As demissões que estão ocorrendo, particularmente no setor de tecnologia, também não são consequência dos juros elevados, mas porque durante a pandemia este setor contratou muito para atender a demanda das pessoas que ficaram confinadas. E agora, com a abertura, a demanda diminuiu”, disse ela.
Os modelos econômicos da Bloomberg Intelligence apontam que o mercado não deve recuperar toda a perda de 2022, mas indicam que as bolsas devem terminar o ano de forma positiva.
“Com exceção de um modelo: aquela que incorpora as projeções econômicas de recessão. Então, o que parece é que a única coisa que está segurando o mercado é a percepção de que a economia vai desacelerar e entrar em recessão. Se isso não acontecer, nada vai segurar o mercado de ações. Se a recessão vier, ela já está praticamente precificada, então a queda também será limitada”.
Fonte: Valor Econômico

