Por Bloomberg
30/06/2023 14h41 Atualizado há 2 dias
A primazia mundial das moedas latino-americanas este ano está prestes a enfrentar a liderança da região também nos cortes de juros.
Quatro das cinco moedas com melhor desempenho no trimestre são latino-americanas, beneficiando-se de baixa volatilidade e taxas de juros altíssimas. Mas com taxas básicas de juros prestes a cair, provavelmente começando no próximo mês no Chile e depois no Brasil, isso pode significar o fim do rali generalizado.
O peso mexicano e o real brasileiro “já atingiram nosso alvo e estou um pouco cético em relação a novos ganhos, pois ambos os bancos centrais provavelmente começarão a cortar juros no segundo semestre, e também há riscos de queda no médio prazo”, disse Esther Reichelt, estrategista do Commerzbank em Frankfurt. “Para mim, estão mais para ‘hold’ [manter] por enquanto.”
O mercado já virou para o peso chileno, em meio a apostas de que os formuladores de política monetária iniciarão o ciclo de flexibilização já no mês que vem, com cortes de mais de 3 pontos percentuais no ano. Dados econômicos mais fracos do que o esperado e inflação em desaceleração abriram caminho para a flexibilização monetária. Ao mesmo tempo, a queda dos preços do cobre está pesando sobre a moeda chilena, diante da recuperação econômica fraca da China.
A combinação de fatores negativos pode deixar o peso chileno, que caiu cerca de 1% no trimestre, sob pressão adicional.
Caos político
No Peru, a alta de 3,6% do sol peruano no trimestre foi alimentada por relatos de que a presidente Dina Boluarte permaneceria no cargo até 2026, acalmando anos de turbulência política. Mas isso pode se mostrar um impulso passageiro, e com o governador do banco central Julio Velarde dizendo que os cortes de juros podem começar nos próximos meses, o rali do sol peruano já está fraquejando.
O peso colombiano também deve se estabilizar em torno dos níveis atuais após uma alta de 17% este ano, impulsionada em parte por fluxos corporativos sazonais vinculados a uma janela de pagamento de impostos.
“Há uma recuperação do dólar em formação, mas as moedas latino-americanas devem se sustentar muito bem se não houver muita correção de risco”, disse Alejandro Cuadrado, chefe de estratégia global de câmbio do BBVA em Nova York.
Embora o peso chileno e o sol peruano possam enfraquecer com a iminência de cortes de juros, outras moedas “ainda podem atingir novas máximas antes que as taxas comecem a cair”, acrescentou.
O índice de moedas de mercados emergentes da MSCI caiu cerca de 1% no trimestre com o fortalecimento do dólar, sua maior queda desde o terceiro trimestre do ano passado.
Carry-trade
O peso mexicano oferece a melhor relação entre carry-trade e volatilidade da região, com volatilidade implícita de um mês até 300 pontos-base abaixo do real brasileiro. Oscilações mais suaves, junto com alta liquidez, fortes remessas e empresas americanas estabelecendo produção no país devem dar suporte ao peso. As exportações do México foram de US$ 52,9 bilhões em maio, o segundo melhor resultado já registrado, com o impulso do mercado consumidor dos EUA.
Já para a maior economia da região, o Brasil, cortes de juros maiores do que o esperado são o maior risco para a continuidade do fortalecimento do câmbio. Mesmo assim, ações locais baratas, que devem se beneficiar do ciclo de flexibilização, têm o potencial de sustentar os fluxos positivos de dólares. Somente em junho, o Ibovespa teve ingressos estrangeiros líquidos de US$ 1,6 bilhão, segundo dados da B3.
Além disso, a aprovação do novo arcabouço fiscal e a perspectiva de controle de gastos do governo mantêm o real como uma aposta atraente no médio prazo.
“Alguns valuations de moeda estão começando a parecer caros”, disse Bret Rosen, economista e estrategista da EMSO Asset Management. “Mas o carry em geral deve permanecer favorável para as moedas da América Latina.”
Fonte: Valor Econômico
