Por Agências Internacionais
06/04/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
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As tensões geopolíticas e o crescente protecionismo estão remodelando o investimento global, ameaçando deprimir o crescimento, alertou ontem o Fundo Monetário Internacional (FMI).
O crescimento do “friendshoring” – canalização do fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) mais para países aliados políticos do que aqueles geograficamente próximos – provavelmente aumentará o risco de desacelerações econômicas e poderá reduzir a produção global de longo prazo em 2%, segundo o capítulo 4 do relatório “Panorama Econômico Mundial” (WEO).
“As grandes e generalizadas perdas de produção estimadas a longo prazo mostram por que é crucial promover a integração global – em especial porque as principais economias endossam políticas voltadas para dentro”, diz o FMI.
“Se as tensões geopolíticas continuarem a se intensificar e países divergirem ainda mais ao longo das divisões geopolíticas, o IED pode induzir o aumento das desigualdades entre economias mais desenvolvidas e as emergentes”, escreveram os analistas Ashique Habib, Davide Malacrino e Andrea Presbitero em texto publicado no Blog do FMI.
Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento são mais vulneráveis à realocação de IED do que as economias avançadas, em parte porque dependem mais de países geopoliticamente mais distantes. Várias grandes economias emergentes são vulneráveis à realocação do IED, indicando que o risco de fragmentação não está concentrado em alguns poucos países.
A mensagem chega em um momento que os governos adotam cada vez mais a retórica protecionista, desde o apelo da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, para priorizar as cadeias de suprimentos “com países com os quais podemos contar” até as restrições de exportação de Washington à tecnologia chinesa de semicondutores. As economias emergentes, mais dependentes do investimento interno de empresas estrangeiras, provavelmente sentirão o impacto, disse o FMI.
A divisão geopolítica EUA-China é hoje o principal risco à perspectiva de crescimento desde a pandemia de covid-19, segundo o Fundo. Na última década, a parcela dos fluxos de investimentos estrangeiros entre as economias alinhadas geopoliticamente aumentou mais do que a participação dos países mais próximos geograficamente.
A mudança nos fluxos surgiu nos últimos anos, de acordo com a análise do FMI que mostrou que o investimento estrangeiro direto do segundo trimestre de 2020 ao quarto trimestre do ano passado caiu quase 20% em relação aos níveis pré-pandêmicos.
“Empresas e autoridades estão cada vez mais buscando estratégias para mover processos de produção para países confiáveis com preferências políticas alinhadas para tornar as cadeias de suprimentos menos vulneráveis a tensões geopolíticas”, disse o estudo do FMI.
“O fluxo de IED estratégico para países asiáticos começou a cair em 2019 e se recuperou apenas moderadamente nos últimos trimestres, com exceção dos fluxos para a China que ainda não se recuperaram”, segundo os economistas do FMI (veja o gráfico acima).
Eles alertam que, embora as cadeias de abastecimento reconfiguradas possam potencialmente fortalecer a segurança nacional e ajudar a manter uma vantagem tecnológica sobre rivais geopolíticos, o reshoring ou friendshoring, em detrimento de antigos parceiros, muitas vezes reduz a diversificação e torna esses países mais vulneráveis a choques macroeconômicos.
“Os custos econômicos generalizados da fragmentação do IED sugerem que as autoridades devem equilibrar cuidadosamente as motivações estratégicas por trás dos movimentos de ‘reshoring’ e ‘friendlyshoring’ com os custos para suas próprias economias e as repercussões para outras”, diz o FMI.
Na próxima terça-feira, o Fundo divulga o conteúdo completo do seu mais recente WEO, com as novas projeções para a economia global durante a reunião semestral conjunta com o Banco Mundial em Washington.
Fonte: Valor Econômico
