No primeiro encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na gestão do novo presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, o colegiado deve seguir a orientação dada na reunião anterior e elevar a Selic em 1 ponto, para 13,25%. Sobre os passos que a autoridade monetária dará depois de março há menos clareza, mas a leitura majoritária no mercado é que o ciclo de aperto deve se estender à faixa dos 15%, bem acima dos 14,25% indicados atualmente pelo BC.
Em pesquisa realizada pelo Valor com 120 instituições, todas esperam que o Banco Central eleve a taxa básica de juros em 1 ponto percentual na reunião desta quarta-feira. Já a mediana das respostas para a taxa de juros no fim de 2025 está em 15%, ou seja, 0,75 ponto acima dos 14,25% já “contratados” pela orientação futura do Copom emitida em dezembro.
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As projeções dos agentes de juros mais elevados se dão em um momento de piora tanto na inflação corrente quanto nas expectativas. Para além da surpresa de alta no IPCA-15 divulgado na sexta-feira, no Copom anterior a mediana do Focus apontava para uma inflação de 4,6% no fim de 2025, contra 5,08% do boletim da semana passada. A pesquisa do Valor, no entanto, capturou uma estimativa bem maior para a inflação de 2025, com a mediana alcançando os 5,40%, em um sinal de que a desancoragem nas expectativas deve prosseguir.
Apenas 13 das 120 casas esperam que a Selic termine o ano abaixo de 14,25%, o que indica que a grande maioria do mercado vê pouco espaço para um afrouxamento monetário neste ano.
Se a decisão de quarta-feira e da reunião de março já parecem bem endereçadas pela orientação futura emitida pelo Copom em dezembro, as decisões seguintes seguem menos claras. Na visão do economista-chefe do UBS BB, Alexandre de Ázara, a barra para que o BC abandone a sua orientação de elevar a Selic em 1 ponto nas próximas duas reuniões é muito elevada. “A grande pergunta é se vai fazer mais do que os 14,25%. Visto de hoje, há uma grande possibilidade de precisar fazer mais. Mas isso não é uma coisa que o Copom precisa decidir agora – ele pode decidir isso apenas no dia 7 de maio”, diz.
Decidir mais tarde, inclusive, é exatamente o que o colegiado deveria fazer, na visão de Ázara. “Ele vai ter tempo de entender tudo o que o [presidente dos EUA, Donald] Trump quer fazer de fato”.
O economista lembra que o próprio BC avalia que o ritmo de 0,5 ponto é aquele considerado “normal” em ciclos monetários. “Em maio, vejo três decisões como mais prováveis. Caso as coisas melhorem muito, ele poderia encerrar o ciclo. Por outro lado, se as variáveis voltarem a piorar na velocidade que vimos, outra alta de 1 ponto deve ser dada. E caberia mais 0,5 ponto, para fazer as projeções convergirem no modelo. Acredito que qualquer coisa entre 14,25% e 15% de terminal é possível. Mas a verdade é que ele não sabe nada disso hoje”, afirma.
Na avaliação do economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, o plano de voo traçado pelo BC é apropriado, dado o quadro inflacionário atual e a constante desancoragem das expectativas do mercado. “Vão manter o tom duro e deixar a porta aberta para fazer o que tiver que fazer nas próximas reuniões”, projeta. “O mercado até especulou quanto a uma alta ainda maior [da Selic] no auge da desvalorização do real, mas os diretores se mantiveram muito firmes na comunicação, o que parece bastante apropriado. O mercado exagerou mesmo”, diz.
Carvalho espera que o BC leve a Selic a 15,5%, sem cortes em 2025. “Temos visto os primeiros sinais de desaceleração. Daqui até o meio do ano isso ficará mais claro e talvez [a Selic] não precise ir muito além disso”, argumenta. De qualquer forma, ele afirma que o viés do seu cenário aponta para mais inflação e juros em meio às pressões nos alimentos e serviços. O economista também entende como passageiro o alívio recente na taxa de câmbio, após sinalizações mais brandas do presidente de Trump em relação às tarifas.
“A chance de o ambiente externo piorar é razoável, porque Trump está adiando o anúncio das tarifas, mas não voltando atrás”, diz Carvalho, que espera uma mudança significativa no comércio exterior, com possibilidade até de medidas específicas contra o Brasil.
O economista-chefe da Brasilprev, Robson Pereira, tampouco espera surpresas para a decisão desta quarta-feira. “Talvez o ponto mais relevante seja em relação à sinalização, no singular ou no plural, sobre as reuniões subsequentes. Em dezembro, o BC fez uma indicação para as próximas duas reuniões: janeiro e março. Se ele mantiver a sinalização para as próximas duas, falamos de março e maio, ou seja, a magnitude do ajuste em maio já estaria dada. Acredito que seja necessária uma atenção adicional à comunicação, mas não vemos uma mudança no tom de preocupação do BC com o cenário econômico.”
Assim, o tom do colegiado deve se manter cauteloso. “O mercado de trabalho segue aquecido; os dados de inflação de curto prazo ainda mostram uma abertura desafiadora; e há incertezas com a política econômica nos EUA e vários bancos centrais têm feito menção a isso. Acredito que o BC deve continuar com um tom de bastante preocupação em relação aos riscos inflacionários e destacar a deterioração das expectativas”, diz.
A Brasilprev espera que o Copom leve a Selic a 15% e corte os juros a partir de novembro, com a taxa encerrando 2025 em 13,5%, em um cenário condicional à continuidade da redução das taxas de juros nos Estados Unidos e a uma desaceleração da atividade econômica.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset no Brasil, espera que o colegiado reforce a piora para o cenário inflacionário. “O Copom tem de assumir que o cenário piorou, com uma inflação corrente muito alta, medidas de inércia ganhando tração e expectativas subindo bastante”, afirma.
Assim, a projeção da Western é de uma Selic de 15,25%, com duas altas de 0,5 ponto após a reunião de março. “Existe um aperto muito grande das condições financeiras, que deve desacelerar a economia e ajudar a trazer a inflação para baixo. Os riscos estão mais na percepção de piora fiscal e em um quadro externo mais complexo, que pode influenciar as projeções, já que a parte inercial da inflação vai estar muito alta e muito acima da meta.”
Para Lima, um afrouxamento da Selic só deve ocorrer a partir de 2026. “Só vemos cortes de juros no início do ano que vem, a não ser que tenhamos uma mudança de cenário que leve o câmbio a recuar rapidamente. Aí sim podemos antecipar os cortes para o quarto trimestre deste ano.”
Fonte: Valor Econômico
