Por Joshua Franklin e Stephen Morris, Valor — Financial Times, de Nova York e Londres
24/03/2022 13h15 Atualizado há 2 meses
O presidente-executivo do J.P. Morgan, Jamie Dimon, enfrenta uma rara crítica de investidores por causa de um plano multibilionário de investimentos em modernização da tecnologia do grupo e da decisão de ingressar no altamente competitivo mercado de banco de varejo do Reino Unido.
Os acionistas disseram a Dimon e à sua equipe em fevereiro que o banco estava fornecendo detalhes insuficientes sobre seus ambiciosos planos de investimentos em tecnologia, segundo três fontes que participaram da reunião na Flórida.
Dimon também foi informado de que o J.P. Morgan precisava explicar melhor sua decisão de entrar no concorrido mercado de varejo do Reino Unido com um banco apenas digital no ano passado, disseram as fontes. Uma delas acrescentou que houve uma preocupação particular com a expansão no momento em que o concorrente Citigroup reduz sua rede internacional de agências.
“A incerteza é muito grande sobre o esforço na área de banco de varejo no Reino Unido]. Acho que eles não forneceram muitas medidas para avaliar o sucesso a esta altura”, disse um dos maiores acionistas do J.P. Morgan ao “Financial Times”.
As críticas são incomuns para Dimon, que construiu sua reputação buscando o crescimento ao mesmo tempo em que manteve os custos sob controle desde que assumiu o cargo, em 2005.
O J.P. Morgan não quis comentar o assunto, mas fontes próximas do banco disseram que ele pretende fornecer mais detalhes sobre seus planos em um dia do investidor agendado mais adiante neste ano.
As maiores preocupações dos acionistas, segundo analistas e fontes a par do assunto, envolvem os planos de aumentar os gastos com novos projetos neste ano em 30%, para quase US$ 15 bilhões — com a maior proporção destinada à área de tecnologia.
Os investidores afirmam que o J.P. Morgan forneceu apenas informações limitadas sobre os destinos do dinheiro – até agora reservado para áreas como recursos para computação em nuvem, novas contratações e marketing. O banco, por sua vez, alertou que os gastos poderão levá-lo a não cumprir uma meta de retorno sobre o capital ordinário tangível, uma medida importante de lucratividade, neste ano e no próximo.
O aumento dos gastos com tecnologia no banco acontece depois que Dimon se mostrou frustrado com o fato de o J.P. Morgan ter perdido terreno para concorrentes com tecnologia mais moderna. “Jamie aponta para as fintechs, uma área onde eles não deveriam ter perdido participação de mercado. Portanto, há um foco em não perder novamente”, diz um investidor do J.P. Morgan.
Quando o banco anunciou os planos de investimentos em janeiro, suas ações caíram 16%, apesar de ele também ter anunciado um lucro recorde no ano passado. No geral, a ação do banco caiu cerca de 15% desde o anúncio, enquanto que o índice de ações bancárias KBW acumula uma perda de 10% no mesmo período.
“Nenhum dos investidores globais com quem conversei discordou da nossa conclusão de que o J.P. Morgan precisa fornecer uma maior transparência sobre onde, por que e quando vai gastar essa quantia recorde”, afirma Mike Mayo, um analista bancário do Wells Fargo.
A reputação de Dimon de prezar a “disciplina financeira agora tem um ponto de interrogação depois disso”, diz Mayo, que manteve para os clientes a recomendação de “compra” das ações do J.P. Morgan por sete anos, mas retirou seu endosso depois do relatório de resultados divulgado em janeiro.
Em uma teleconferência sobre os lucros do quarto trimestre, em janeiro, Dimon disse sentir a “dor a frustração” dos investidores com os gastos e ofereceu uns poucos exemplos de como o banco investiu em novas tecnologias ao longo dos anos, incluindo US$ 2 bilhões em novos centros de dados.
Maio diz que a teleconferência foi a segunda pior dada por Dimon como presidente executivo, superada apenas pela de 2012, quando ele descreveu o incidente London Whale como uma “tempestade em copo d’água”. Naquele caso, o J.P. Morgan sofreu uma perda de muitos bilhões de dólares com derivativos de crédito, provocada por um único operador.
Dimon reconhece que foi “irreverente demais” e que não tinha muitas explicações detalhadas sobre os planos de gastos na teleconferência, segundo disse uma fonte a par do pensamento de Dimon.
“Parece bem claro que o mercado quer ouvir mais de nós”, disse Jeremy Barnum, diretor financeiro do J.P. Morgan, em uma conferência setorial no mês passado, quando o banco anunciou o dia do investidor, marcado para 23 de maio.
Mayo diz que a decisão de marcar o dia do investidor mostra como o J.P. Morgan foi “notavelmente receptivo às preocupações dos investidores”. Mas, assim como os investidores, alguns funcionários do J.P. Morgan também se mostram céticos sobre os gastos e incertos sobre os destinos do dinheiro.
“Eles divulgaram e número grande e maluco. Há muitas dúvidas e conversas internas de pessoas do tipo ‘não estou entendendo isso’”, diz um executivo do J.P. Morgan.
Fonte: Valor Econômico