Por Larissa Garcia, Valor — Brasília
18/08/2022 12h52 Atualizado há 10 horas
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que não aceitará seguir para um novo mandato depois de 2024. “Quando foi feita a regra de autonomia, eu fui contra a recondução, quis tirar do projeto”, disse nesta quinta-feira em evento promovido pelo BTG Pactual.
“Acho que não é saudável mesmo porque cria fragilidade no meio do mandato, porque vai ter um presidente do BC que vai estar interessado em ser reconduzido e fica exposto naquele momento à vontade do Executivo. Outros países passam por isso e não gosto, não acho que é bom. Então, a resposta à pergunta é não [aceitaria].”
A lei de autonomia do BC prevê mandatos fixos de quatro anos ao presidente e aos diretores, de forma escalonada, com uma recondução. Dessa forma, Campos deve exercer o cargo até o fim de 2024 e poderia ter o mandato estendido até 2028.
No evento, Campos esclareceu que a mudança de foco da autoridade monetária para a inflação acumulada no horizonte relevante não será permanente. Segundo ele, quando as incertezas se reduzirem, o colegiado voltará a considerar o índice do ano fechado.
Na última decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) deu ênfase à inflação acumulada em 12 meses no primeiro trimestre de 2024, projetada em 3,5%, e não ao ano-calendário fechado. De acordo com o comunicado, o período “reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora seus impactos secundários sobre as projeções de inflação relevantes para a decisão de política monetária”.
Campos ressaltou que o principal desafio em ambiente de incerteza é calibrar a comunicação do Copom. “Temos estimativas diferentes [no mercado] sobre quanto ia para o outro ano [das medidas de cortes de impostos do governo]. Na dimensão tempo, todos tinham certeza de que voltaria no primeiro trimestre [de 2024]. Achamos mais fácil atuar no quando”, detalhou.
O titular do BC ressaltou, contudo, que a mudança é pontual e não significa uma alteração no “inflation target” — ou da meta de inflação. “Deixamos claro que falamos de horizonte relevante e não de meta. Tivemos que adaptar nossa função-reação. Não é permanente, é temporário”, disse.
Campos afirmou ainda que o único país que o mercado precifica queda de juros é o Brasil. “Significa que os agentes entendem que grande parte do trabalho [de política monetária] foi feito.”
O executivo destacou que a inflação ainda está bastante pressionada no Brasil, mas que o índice de administrados mostra o impacto das medidas do governo, que reduz os preços no curto prazo. “Alimentação no domicílio ainda está alta e serviços também”, afirmou.
Para ele, o corte de impostos neste ano deve gerar inércia para os próximos anos, mas é preciso “entender o que é estrutural”. “Começamos a ver notícias melhores [na inflação], como na parte de difusão. A gente acha que tem uma inércia para o ano que vem, mas há incerteza”, afirmou.
Sobre atividade econômica, ele enfatizou que o mercado tem revisado para cima a projeção deste ano em virtude das iniciativas expansionistas do governo, mas também pelo desempenho melhor que o esperado de alguns setores. “Nossa projeção está um pouco acima de 2%, deve sair em breve”, adiantou. No Relatório Trimestral de Inflação (RTI) mais recente, o BC estimou crescimento de 1,7% e o número vai ser revista no documento de setembro.
Fonte: Valor Econômico