Por Liane Thedim, Valor — Rio
05/04/2023 17h11 Atualizado há 10 horas
Três ex-diretores do Banco Central (BC) defenderam nesta quarta-feira a confirmação da meta de inflação em 3% para 2024 e 2025 e a fixação do mesmo patamar para 2026. Para Alexandre Schwartsman, Fabio Kanczuk e Rodrigo Azevedo, a decisão seria uma sinalização importante aos agentes do mercado para evitar que as expectativas se deteriorem ainda mais e ajudaria, portanto, numa queda mais rápida da taxa Selic.
“Se elevar a meta, a sinalização é a de que vai perseguir uma inflação mais alta, e as expectativas têm que refletir a mudança. Isso leva a uma contaminação no comportamento de fixação de preços e salários na economia”, disse Schwartsman, em evento do Bradesco BBI.
No mesmo evento, Kanczuk destacou que parte da piora nas expectativas está sendo gerada pela “confusão” em torno da incerteza da manutenção ou não da meta. Confirmá-la, portanto, ajudaria a acomodar as previsões dos analistas.
Já Azevedo qualificou a discussão em torno da revisão da meta como “contraproducente”. “Estamos no meio de um processo de desinflação muito difícil. Não é o momento de discutir uma taxa mais alta. No Brasil, há um mecanismo inercial que atrela os indicadores à inflação passada, e a meta é o que faz você olhar para a frente. Dessa forma, mantê-la seria uma sinalização importante aos agentes econômicos. Estamos indo para o terceiro ano de inflação acima do teto. Quando a taxa estiver em 4% ou 3,5%, podemos considerar repensar a meta”, afirmou.
Os recentes ataques à independência do BC e à manutenção da Selic em 13,75% ao ano, considerada alta pelo governo, foram alvo de críticas dos três economistas. Para Azevedo, a autonomia da autoridade monetária é “reconhecida internacionalmente como o estado da arte”. Segundo ele, a gestão da política monetária implica um custo de curto e médio prazos que muitas vezes não coincide com o custo político com que os governos estão dispostos a arcar.
“O ruído em torno disso não seria necessariamente um problema. Pode criticar o BC. O que não pode é fazer ações que dificultam a gestão da política monetária e fazem mais custoso o processo de desinflação”, disse Azevedo. “Se o presidente da República começa a criticar a meta, e não o BC, os agentes projetam que a inflação será mais alta, o que é muito mais custoso para a economia. Quem vai pagar o custo é o próprio governo.” O ex-diretor de política monetária do BC lembrou que uma das ações que podem atrapalhar é mexer na composição da diretoria de forma que ela se torne mais “acomodatícia”.
Schwartsman, por sua vez, afirmou que em um cenário de fortes críticas à meta de inflação e à condução da política monetária, escolher uma diretoria mais complacente com a inflação e subserviente ao poder executivo piora as expectativas e leva a inflação a um patamar acima do que seria normalmente.
Azevedo também comentou a mudança nas previsões de agentes econômicos, que já embutem nos preços a possibilidade de cortes nos juros em junho e esperam uma taxa Selic em torno de 12% no fim do ano.
Fonte: Valor Econômico
