Presidente do Einstein diz que mortalidade teve relação com falta de acesso à saúde, mas tecnologia no setor registrou avanços
Por Eduardo Geraque
Embora tenha havido um vacilo do governo federal na época aguda da pandemia de covid-19 com trapalhadas na logística das campanhas de vacinação, pilares construídos há várias décadas no Brasil, como o SUS, mostraram força. No entanto, a desigualdade do acesso à saúde no País ficou ainda mais escancarada.
“A pandemia serviu para exemplificar de um modo muito claro o que a desigualdade social e a falta de acesso é capaz de representar em termos de mortalidade”, afirma Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein durante o Summit Estadão ESG 2023. Segundo ele, ficou demonstrado que “em inúmeros países que a desigualdade está intimamente relacionada com maior mortalidade”.
O gestor do Einstein, porém, também consegue enxergar avanços após os anos mais agudos da pandemia terem ficado para trás. “A fase de emergência também demonstrou que a tecnologia pode contribuir, dentro do espírito da busca por cuidado, que a gente chegue com saúde de qualidade a um número muito maior da população”, diz o presidente do Einstein, que também é cirurgião do aparelho digestivo.
De acordo com Klajner, a telemedicina e o trabalho com bancos de dados muito ricos possibilitaram aos médicos e os gestores públicos tomar as melhores decisões.
Apesar de todos esses caminhos tecnológicos que estão sendo trilhados pelas principais organizações da área de saúde do Brasil, Klajner lembra que a tecnologia sozinha não basta. Para o médico, a governança, uma das letras embutidas na sigla ESG, é essencial. “Ela é muito bem-vinda. Não basta você ter bom atendimento ou uma prática assistencial adequada. O Einstein há mais de 20 anos procura trazer linhas de cuidado preestabelecidas baseadas em evidência científica.”
Propósito
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Segundo Klajner, ao se falar de equidade na saúde, esse conceito deve ser considerado como um norte, um propósito a ser seguido. “Como organização filantrópica, temos esse papel de buscar uma saúde acessível de alta qualidade para que não haja diferença entre os públicos, especialmente em um país com tanta desigualdade.”
Projetos desenvolvidos a partir do Einstein, e alguns contam com parcerias do setor público, já transformam o acesso à saúde de algumas áreas remotas do País, como o interior da Amazônia – onde às vezes o médico está a dias de distância de barco.
Escala
O emprego da tecnologia na medicina também é uma boa oportunidade para reduzir custos e melhorar o acompanhamento médico a distância de alguns pacientes, segundo Fabio Tiepolo, CEO da Docway. “Nossas estimativas mostram que 80% das pessoas que frequentam o pronto atendimento não precisavam estar lá”, afirma o executivo da empresa que surgiu antes da pandemia, em 2015, como uma plataforma para agilizar o atendimento de saúde. “Os médicos, antes, também não estavam no mundo digital. Antes, eles eram menos de 10%, hoje, por volta de 70%”, afirma Tiepolo.
Fonte: O Estado de S. Paulo