Direção do hospital planeja captar R$ 20 milhões ao longo de cinco anos para dar suporte à operação
Por Ivone Santana — De São Paulo
18/05/2023 05h00 Atualizado há 8 horas
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Alvaro Avezum e Carolina da Costa planejam captar R$ 20 milhões para dar suporte a Centro de Ciência para Longevidade — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
A participação em um estudo global com 300 mil pacientes acima de 60 anos, durante os últimos 16 anos, foi um dos gatilhos para que o Hospital Alemão Oswaldo Cruz decidisse levar ao mercado seu Centro de Ciência para Longevidade. A América Latina é representada por Brasil, Chile, Argentina e Colômbia, com o acompanhamento de 25 mil indivíduos, a cargo do Oswaldo Cruz, em um mapa mundial que reúne dados de 30 países.
A inclusão dos pacientes, de 35 a 70 anos, ocorreu durante os primeiros quatro anos da pesquisa, que continua ativa. “Uns adoecem, uns falecem, outros continuam saudáveis. Aí comparamos o que levou aquele a adoecer ou morrer, com aqueles que estão sãos”, explica o cardiologista Alvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do hospital Oswaldo Cruz.
O fator mais importante para sobrevida que aparece na pesquisa é a grande força muscular. Entre os vilões estão diabetes e hipertensão, com variáveis como meio ambiente, iluminação, segurança e até o Estado das calçadas, devido aos acidentes que provocam. O segundo preditor mais importante na mortalidade é a escolaridade.
Hospital levanta dados da América Latina em pesquisa global com 300 mil pessoas há 16 anos
O lançamento do Centro de Ciência está previsto para o segundo semestre. Para dar suporte à operação, os dirigentes do hospital planejam captar R$ 20 milhões em até cinco anos. Da meta de R$ 4 milhões para 2023, um terço do valor já está engatilhado, diz Carolina da Costa, diretora-executiva de educação, pesquisa, inovação e saúde digital do Oswaldo Cruz.
“Precisamos fazer captação para remunerar pesquisadores, dar bolsas de estudo e de pesquisa”, explica a diretora. “Queremos criar módulos de educação, ajudar a pilotar soluções que sejam escaláveis, ter identidade própria e talvez até espaço físico, ser um laboratório livre.”
O envelhecimento em massa tem atraído o interesse de grandes hospitais pela mudança do perfil da população. Daqui a 20 anos, 30% da população brasileira terá mais de 60 anos, enquanto no resto do mundo a média prevista é de 20%, segundo o hospital. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os grupos com 60 anos ou mais correspondiam a 14,7% da população em 2021; e 65 anos ou mais, 10,2%.
“A Europa ficou rica e depois ficou velha. O Brasil é um país que vai ficar velho antes de ficar rico”, compara a diretora. “Um centro como o nosso é fundamental para oferecer soluções efetivas, acessíveis para ajudarmos o sistema de saúde pública. A saúde suplementar ganha também porque queremos ajudar as empresas, que são as grandes fontes pagadoras da saúde suplementar, a também gerir a população corporativa e trazer soluções.”
O fator financeiro pesa para a população idosa. De acordo com o Estudo Longitudinal de Saúde dos Idosos Brasileiros (Elsi-Brasil) de 2020, 78% das pessoas mais velhas dependem unicamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Só quem tem um poder aquisitivo mais alto consegue pagar planos privados.
O estudo regional e global está mudando a maneira de entendermos por que adoecemos, diz Avezum. As publicações dos últimos dois anos mostram que 90% das mortes no Brasil são causadas, primeiramente, por infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Em segundo lugar estão problemas decorrentes da hospitalização. “Ninguém vai reduzir as mortes, mas é possível analisar propostas de melhorias em longevidade e auxiliar na implantação de políticas públicas para mitigar os fatores de risco”, diz Avezum. “Hipertensão é o fator mais importante para eventos e o segundo mais importante para mortes.”
O diretor conta que há na população brasileira 45% de hipertensos. Desses, só 60% tomam medicamento. E entre os que tomam remédio, só 12% têm a pressão arterial sob controle. Um programa realizado na Zona Leste de São Paulo, durante 15 meses, elevou de 12% para 31% os hipertensos sob controle. “Isso salva vidas.”
Os dados do Centro de Ciência deverão ser compartilhados sem custo com órgãos do governo e indústrias de diversos setores, como farmacêutico, cosméticos, esportes e alimentos. Mas se um parceiro privado quiser um recorte que vá beneficiá-lo, poderá ter que fazer uma contrapartida. O hospital poderá ganhar com possíveis negócios que venham a ser gerados.
O hospital Oswaldo Cruz atua na área pública como uma das Entidades de Saúde de Reconhecida Excelência (Esre) do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS) do Ministério da Saúde. Faz estudos em parceria com o Populational Health Research Institute (PHRI), que realiza o estudo mundial Population Urban and Rural Epidemiology (Pure).
O Centro de Ciência já conta com parceiros, como o Hospital das Clínicas (HC) e o Insper – instituto de ensino e pesquisa. “O HC tem várias frentes ligadas à longevidade, enquanto o Insper pode apoiar com política pública e ciência de dados”, diz a diretora. Esse trio anunciou um consórcio em fevereiro para testar medicina remota e outras tecnologias.
Fonte: Valor Econômico