1 Aug 2022 LUIZA LANZA
Depois de uma temporada de notícias que encheram o mercado de aversão a risco, julho trouxe respiro aos investidores brasileiros. O Ibovespa arrancou uma alta de 4,69% no mês, incentivado por uma melhora pontual na leitura do cenário que permitiu que ações bastante descontadas na Bolsa recuperassem parte das quedas.
Mas se engana quem pensa que julho tenha sido o início de tempos mais calmos. A possibilidade de recessão nos Estados Unidos, novos lockdowns na China, preço das commodities em queda e, no Brasil, ruído político e incerteza fiscal com a aprovação da PEC Kamikaze, que geraram volatilidade na Bolsa, seguem em jogo e podem se agravar daqui para frente.
O E-investidor conversou com analistas do mercado para destacar os principais pontos que precisam estar no radar durante agosto. Confira a seguir:
RECESSÃO NOS EUA. Na última quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu manter o plano de voo na trajetória de aperto monetário e elevou a taxa de juros em 0,75 ponto porcentual. Os juros americanos se encontram no maior patamar desde 2018, elevados entre 2,25% e 2,5%.
O ajuste por lá tem deixado parte do mercado bastante receosa, frente à dificuldade da missão da instituição americana: elevar a taxa dos EUA de forma a combater a maior inflação dos últimos 40 anos, mas sem deixar que a economia entre em recessão. “A dúvida daqui para frente é o quão profunda essa recessão pode ser. Por enquanto, o mercado precifica uma desaceleração moderada, mas, se ela for mais forte do que o esperado, podemos ver quedas maiores nas bolsas”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP.
Li faz uma comparação com os dados históricos: nas últimas recessões, o S&P 500, Bolsa que reúne as 500 ações mais relevantes do mercado financeiro americano, caiu em média 40%. “Atualmente, o índice acumula baixa perto de 20%, o que significa que ainda há espaço para quedas maiores no caso de uma recessão mais profunda”, diz.
Caso ocorram, as desvalorizações também poderiam afetar o Ibovespa, com investidores estrangeiros buscando ativos fora dos países emergentes.
Por aqui, o Banco Central antecipou o movimento na Selic e já vislumbra o momento em que poderá encerrar o ciclo de altas. Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunirá para decidir sobre a trajetória dos juros. A expectativa do mercado é uma alta de 0,5 ponto porcentual, que levaria os juros para 13,75% ao ano.
INCERTEZAS NA CHINA. A China voltou a fechar as grandes cidades dando sequência à sua política de covid zero, que causa grande preocupação no mercado. “A China é tanto o maior comprador, quanto o maior ofertante de produtos do mundo. Sempre que ela para, impacta globalmente, seja pela falta de insumos, seja pela interrupção da exportação”, afirma Naor Coelho, da Infinity Asset.
Os lockdowns decretados em julho ajudaram a derrubar o preço das commodities, principalmente as metálicas. E o impacto foi sentido diretamente pelas grandes empresas brasileiras do setor. A Vale chegou a amargar quedas de 20% entre abril e junho, com as incertezas do gigante asiático no radar.
A interrupção das atividades na China não causa problemas somente para a Bolsa brasileira. O ritmo econômico por lá é relevante para a economia mundial, e as paralisações contribuem para aumentar o receio de uma recessão global. Para agosto, é preciso continuar de olho no país. “Existia expectativa de que haveria uma melhora por lá, mas julho cravou mais um banho de água fria. Sem sombra de dúvidas, em agosto, o mercado ainda vai monitorar a China”, diz Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos.
TEMPORADA DE BALANÇOS. Começou no dia 20 a temporada de balanços do segundo trimestre. Até o dia 15, as empresas listadas na Bolsa têm de divulgar os resultados do período.
A temporada – nos EUA e aqui – é importante para entender de que forma as companhias navegam neste cenário conturbado. “Os analistas e investidores vão entender como cada empresa tem se comportado no curto prazo e a dinâmica de lucratividade. A avaliação desses resultados também é relevante para que o investidor consiga fazer uma boa alocação em Bolsa”, diz Ricardo França, da Ágora Investimentos.
DISPUTA ELEITORAL. Pelo calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha eleitoral começa oficialmente em agosto. Legendas, federações e coligações partidárias têm até o dia 15 para solicitar os registros de candidatura; enquanto a propaganda eleitoral é permitida a partir do dia 12. Isso significa que, a partir de agora, o tema entra em pauta para ficar.
“Em agosto vamos ter ainda mais tensão, pois já estamos a dois meses das eleições e ainda nem começamos a falar de equipe econômica”, diz Coelho, da Infinity. O trader explica que a escolha do time pensando para a economia é um dos pontos que o mercado financeiro mais acompanha; e pode causar ainda mais incerteza uma vez que forem divulgados.
Historicamente, o nível de volatilidade na Bolsa tende a aumentar durante as eleições, mas ela se reduz logo depois que a disputa passa”, diz Jennie Li, da XP. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

