Hospitais e crematórios estão repletos, mas governo relata só 7 mortes pela doença em uma semana; empresa britânica estima que vírus mata mais de 5 mil por dia
- O Estado de S. Paulo.
- 23 Dec 2022
Indícios apontam que onda de covid é mais grave do que o governo afirma
Hospitais, necrotérios e crematórios estão lotados. Empresa de pesquisa do Reino Unido estima que mortes passem de 5 mil por dia.
A última onda de covid-19 na China é mais séria do que o governo afirma, segundo uma empresa de pesquisa do Reino Unido citada pela agência Reuters. De acordo com a empresa de dados de saúde Airfinity, mais de 5 mil pessoas provavelmente morrem todos os dias de covid-19 na China, com a análise de risco de mortalidade da empresa sugerindo que 1,3 milhão a 2,1 milhões podem ser vítimas do atual surto. Esses números contrastam com os dados oficiais que relatam 1.800 casos e apenas sete mortes na semana passada.
Uma mudança abrupta da China em sua política de “covid zero” – que desde 2020 possibilitou a proteção das pessoas com comorbidades e aquelas sem esquema de vacinação completo – após protestos contra as rigorosas restrições está levantando preocupações globais de infecções generalizadas, principalmente entre os idosos. Apenas 42% das pessoas com 80 anos ou mais receberam uma dose de reforço.
RASTREAMENTO. Depois que as autoridades pararam de relatar casos assintomáticos, o boca a boca se tornou a principal forma de rastrear o surto. As mídias sociais da China têm mostrado um fluxo constante de resultados de testes positivos, revertendo quase três anos da maioria das pessoas na China sem experiência com o vírus. Os hospitais estão lotados, apesar de as autoridades terem anunciado medidas para aumentar a capacidade de atendimento de emergência.
Funcionários que falaram sob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Os necrotérios estão lotados, há lista de espera de vários dias nos crematórios e as prateleiras das farmácias estão vazias.
Em um crematório no distrito de Tongzhou, em Pequim, havia uma fila de 40 carros funerários esperando para entrar enquanto o estacionamento estava cheio. Na parte de dentro, parentes e amigos reuniram-se em torno de 20 caixões aguardando a cremação.
As autoridades afirmam que é impossível monitorar o contágio após o abandono dos testes em massa, das restrições de viagens e do confinamento.
Um paramédico do Primer Hospital Universitário Afiliado de Chongqing disse que 90% dos pacientes que recebem todos os dias estão infectados com o coronavírus, a maioria de idosos.
IDOSOS. Milhões de idosos na China ainda não completaram o esquema de vacinação, o que aumenta o medo de uma morte em massa desse grupo por causa do vírus. Mas, sob as novas instruções do governo, muitos não serão contabilizados como vítimas da pandemia.
Antes, os que morriam enquanto infectados eram registrados como óbitos por covid19. Agora, serão contabilizados apenas quem morrer por insuficiência respiratória como consequência direta da infecção.
“As pessoas mais velhas têm outras patologias prévias. Apenas um número muito pequeno morre diretamente de insuficiência respiratória causada pela covid”, alegou uma autoridade de saúde esta semana.
CONTAGEM. A mudança de metodologia significa que muitos óbitos não serão registrados como consequência da covid.
“A OMS está muito preocupada com a evolução da situação na China (…). Para realizar uma avaliação completa dos riscos da situação, a OMS precisa de informações mais detalhadas sobre a gravidade da doença, as internações hospitalares e as necessidades das UTIs”, disse o presidente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“A variante Ômicron não ataca tanto os pulmões como outras cepas da covid-19”, afirmou o especialista em saúde Yanzhong Huang, do Conselho de Relações Exteriores, um centro de pesquisas com sede nos EUA. “Esta nova definição é uma inversão da norma internacional vigente que contabilizava como morte por covid qualquer pessoa que morresse com covid”, disse Huang. “É difícil dizer que não tem motivação política”, acrescentou.
Vulneráveis
Idosos são a grande maioria dos internados com o coronavírus na China
Fonte: O Estado de S. Paulo