“O Brasil voltou.” A paráfrase de Joe Biden, “América is back”, foi usada pelo presidente eleito Lula na COP-27 e no encontro com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa. Na esfera ambiental, a constatação é indiscutível. No campo diplomático, há sem dúvida uma saída do isolamento. Mas a inserção do Brasil no mundo está longe de ser tão promissora.
Lula lembrou que, entre 2004 e 2012, o desmatamento da Amazônia diminuiu 83%, ao mesmo tempo em que o PIB agropecuário crescia 75%. Esses números desmontam a armadilha retórica de um suposto dilema entre preservação ambiental e prosperidade econômica. E dão a Lula as credenciais necessárias para se alçar nesse debate com credibilidade.
O presidente eleito então cobrou dos países ricos que cumpram seus compromissos de destinar recursos para as nações em desenvolvimento eliminar o desmatamento ilegal, fazer a transição para fontes renováveis de energia e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, como seca, desertificação, enchentes e elevação do nível do mar.
Lula reiterou na COP e no encontro com o primeiro-ministro português a visão de que o Brasil precisa da cooperação científica com a comunidade internacional para extrair riquezas da Amazônia de forma sustentável, e isso não fere a soberania nacional. É a abordagem correta, e uma evolução significativa em relação ao populismo do atual governo, que encobre a complacência com os crimes contra o meio ambiente com a bandeira do patriotismo.
Como já escrevi aqui outras vezes, o Brasil só será um país avançado quando fizer a pesquisa e desenvolvimento das soluções para muitos problemas da humanidade, escondidos na Floresta Amazônica na forma de princípios ativos, matérias-primas, insumos e algoritmos do comportamento dos seres vivos.
Esse deverá ser o ponto alto da administração Lula, principalmente em contraste com a terra arrasada pelo governo Bolsonaro. Nos outros campos da política externa, o cenário é bem menos luminoso.
O atual governo brasileiro condena as sanções comerciais contra a Rússia e procurou ampliar a importação de fertilizantes, indiferente ao fato de que esse dinheiro está sendo convertido em sangue ucraniano. “Queremos saber se o Brasil pertence ao Ocidente”, me disseram representantes de governos europeus.
Muitos brasileiros parecem não entender que a Rússia não pode vencer essa guerra, pois seria uma vitória da força bruta sobre a liberdade, a soberania e a democracia. No governo Lula, essa atitude deve se manter, se não se agravar, dada a tendência da esquerda brasileira de simpatizar com tudo o que se apresenta como contraponto ao poderio americano.
A julgar pelo passado de Lula e pelas promessas de campanha, a tímida abertura comercial ensaiada no governo atual será sepultada, a título de proteger a indústria nacional. Assim como o ingresso na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), porque exige reformas que se chocam com o pensamento petista.
Fonte: O Estado de S.Paulo

