Picolo, CEO no Brasil: “Até fevereiro devemos anunciar uma aquisição. E temos outras duas no decorrer de 2025” — Foto: Ana Paula Paiva/Valor
A NürnbergMesse, empresa do segmento de feiras e eventos da Alemanha e entre as três maiores do Brasil, saiu às compras no país e já tem conversas avançadas para adquirir três operações locais. As sinalizações foram dadas por Peter Ottmann, CEO Global do grupo, e João Paulo Picolo, CEO da operação Brasileira, em entrevista ao Valor. Nos próximos cinco anos, a estimativa é investir R$ 50 milhões no Brasil via aquisições.
“Até fevereiro devemos anunciar uma aquisição. E temos outras duas que devemos anunciar no decorrer de 2025”, disse Picolo, à frente da operação brasileira desde 2016. A chegada da empresa por aqui se deu há 15 anos, em 2009, por meio da compra da Nielsen Business Media Brasil, por cerca de R$ 64 milhões. Entre as feiras no portfólio do grupo no Brasil estão a Expo Revestir (construção) e a Exposição Internacional de Tecnologia para a Indústria Farmacêutica (FCE Pharma).
O pós-pandemia provocou uma dança das cadeiras no setor, com alguns players aproveitando para ir às compras, como a Italian Exhibition Group (IEG), uma das principais organizadoras de feiras e congressos da Europa e listada na Bolsa de Milão. A IEG veio para o Brasil em 2022 após a compra da feira Brasil Trading Fitness Fair (BTFF), por R$ 4 milhões. Em meados do ano passado, comprou a MundoGEO, por R$ 10 milhões.
As companhias conseguiram crescer para além das aquisições. Em 2019, a NürnbergMesse Brasil tinha nove eventos no portfólio e recebia, ao ano, 115 mil visitantes. O faturamento daquele ano foi de R$ 45 milhões. Já em 2024, a empresa tem 15 eventos em território brasileiro, que devem movimentar 170 mil visitantes e trazer um faturamento de R$ 110 milhões.
A líder no Brasil hoje é a Informa Markets, responsável pela Agrishow. A NürnbergMesse disputa a vice-liderança com a Reed Exhibitions (gigante global e responsável pela Fenatran).
Picolo contou que o grupo começou a tatear também outros mercados na América Latina. O primeiro experimento foi no Chile com a Analitica Road Show, feira para a exposição de equipamentos e produtos de laboratório. “A gente entendeu que tem demanda e fizemos uma conferência que deu certo”, disse. O foco é estudar os mercados e avaliar quais as marcas de feiras o grupo poderia exportar. A ideia é aproveitar a força de São Paulo como o maior mercado da região, o que traz visibilidade às marcas nos países vizinhos.
Peter Ottmann, CEO Global da NürnbergMesse, disse que o mercado brasileiro tem sido uma sustentação importante para o grupo. “O Brasil foi o primeiro mercado a se recuperar [da pandemia]. Hoje, parte importante da nossa receita vem das Américas e Índia”, disse o executivo. O Brasil é o segundo maior mercado internacional da empresa em termos de faturamento, atrás da Grécia.
A Alemanha, principal operação do grupo, tem enfrentado uma situação econômica mais delicada. A ainda cara e restrita malha aérea internacional também joga contra o setor na região, que é fortemente dependente do viajante internacional. Paralelo, a invasão da Ucrânia pela Rússia jogou ainda mais complexidade ao tornar os voos da Ásia para a Europa cerca de duas horas mais longos e, por consequência, mais caros. “No geral, devemos fechar este ano [na Europa] com uma área ocupada dos eventos entre 5% e 20% menor do que costumávamos ter no pré-pandemia”, disse o CEO global.
A inflação, entretanto, fez os preços subirem e isso colaborou para o grupo estimar um faturamento recorde para este ano de € 350 milhões, alta de 25% na comparação com 2023.
Questões geopolíticas à parte, Ottmann destacou que a concorrência cresceu, com novos mercados ganhando fatia grande da atenção global. Um exemplo é a China e sua disparada na indústria automobilística com os veículos elétricos. “Hoje, a indústria global não está crescendo tão rápido. A Alemanha, que era a locomotiva da Europa, não está crescendo. Com isso, os mercados tendem a ficar mais concorridos e os consumidores começam a buscar outras referências”, disse Ottmann.
Fonte: Valor Econômico