Considerado um trader (operador) de perfil técnico e sem viés político, David deve ocupar o posto de diretor de política monetária do BC no lugar do próprio Gabriel Galípolo, futuro presidente da autoridade monetária e que nos últimos dias tomou a dianteira para trazer assertividade, pelo lado do BC, diante do cenário de crise. Os demais — Izabela Correa e Gilneu Vivan — são servidores de carreira que costumam assumir as áreas de relacionamento e de regulação do BC como manda a tradição na casa.
“Era muito necessário ter alguém com conhecimento e pulso do mercado lá. Nilton tem tudo isso e é um ótimo nome. Deu uma boa tranquilidade tanto que o câmbio caiu com o anúncio”, disse um antigo colega de banco estrangeiro que trabalhou com ele durante vários anos.
Os nomes foram divulgados às 16h55, minutos antes do encerramento do mercado de câmbio, mas chegaram a diminuir a alta do dólar, que terminou a R$ 6,005 após bater em R$ 6,1156. Na bolsa, que já tinha melhorado após os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reforçarem o compromisso com o ajuste fiscal, o Ibovespa acelerou a alta e terminou com ganhos de 0,85%.
“O Nilton ajuda a manter essa expectativa de total independência do BC mais forte. É uma notícia muito auspiciosa. Ela não apaga o nosso principal desafio que é o tema fiscal, mas elimina a dúvida de que a política monetária poderia ser mais frouxa a ponto de contribuir para uma piora da expectativa de inflação”, disse o CEO da Tenax Capital, Alexandre Silvério.
Na linha de frente do relacionamento com os agentes de mercado financeiro, vários diretores de política monetária tinham mais perfil de “trader” do que de acadêmico na área monetária. A indicação de David, oriundo do BradescoCotação de Bradesco, lembra a de Mario Torós, vindo também da tesouraria, mas do Santander, em 2007, no segundo governo Lula. Roberto Campos Neto, que termina o mandato no final do ano, também veio da tesouraria do banco espanhol no Brasil.
Engenheiro de produção de formação pela Escola Politécnica da USP, David, hoje com 52 anos, é natural de Santos (SP) e sempre trabalhou no mercado financeiro, onde entrou há 30 anos. Depois de engenharia, estudou economia na Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP), mas não chegou a concluir o curso. Também foi monitor-assistente de estatística no Instituto de Matemática e Estatística da USP. Atualmente, é doador associado e participa da seleção dos projetos dos “Amigos da Poli”, fundação que apoia iniciativas da Poli USP.
Antes do BradescoCotação de Bradesco, foi diretor-gerente das mesas de negociação do Morgan Stanley para Brasil e México por quase três anos. Também passou pela gestora Canvas e pela área de câmbio e de negociação de opções do Citi em Nova York por dez anos. Começou como trainee do Banco SRL na área de otimização de informações do “back-office” ainda em 1992. Depois foi para o antigo WestLB do Brasil, onde foi trader de ouro e derivativos de juros, e mais tarde responsável por elaborar ferramentas de gestão de risco financeiro.
David é especialista na negociação de juros e câmbio internacional de moedas, área que tem mais anos de experiência. “Ele é bem técnico e conhece bastante sobre o mercado e política monetária. Vai tentar fazer o melhor para colaborar com a missão do BC, não tenho dúvida”, disse um executivo que trabalha com ele, mas pediu para não ser identificado.
“Sem dúvida é técnico. Bom trader, sem viés político”, disse outro profissional desse banco.
O economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, avalia Nilton David como um “ótimo nome” para a diretoria de política monetária. “Muito técnico, competente e íntegro. Difícil pensar em um nome melhor”, afirmou. Fonseca conta que estudou com David na FEA. Quando perguntado se o risco de transição estaria enterrado com a nomeação do novo diretor, Fonseca afirma: “O risco está totalmente na política fiscal”.
“Ele sabe muito de todos os mercados. No relativo, diria que ele entende mais de câmbio, porque fez isso por mais tempo. Mas ele é muito sênior em câmbio e juros”, afirma o economista-chefe de uma gestora importante local, em condição de anonimato.
Já a economista-chefe da Tenax Capital, Debora Nogueira, trabalhou com David na fundação da Canvas Capital, gestora que antes se chamava Península.
“O Nilton era o principal gestor depois do Sergio Blatyta, que era diretor de investimentos [CIO]. Não consigo imaginar um nome melhor que o Nilton. Uma pessoa humilde, inteligente, técnico, correto. Conhece muito bem todos no mercado e têm muita experiência. É super respeitado em todos os ambientes que participa. Pensando na composição da diretoria, é um nome muito complementar ao do Diogo Guillen. Fui muito surpreendida positivamente pelo anúncio”, afirma.
Nogueira aponta que o novo indicado à cadeira do BC irá atuar de forma independente. “Foi a melhor notícia que poderíamos ter tido. Do lado da política monetária, é um ganho enorme.”
O chefe de investimentos (CIO) da EQI Asset, Ricardo Cará Monteiro, diz ter que, pelo seu contato com David, pode afirmar que o executivo do BradescoCotação de Bradesco tem bastante experiência e terá “um pensamento muito alinhado com o do Diogo Guillen”. “Ele é bastante técnico, entende bem a dinâmica dos mercados, e é isso o que precisa saber um diretor de política monetária”, afirma. “Ele vai ajudar bastante no tato com o mercado, vai ser quem vai ligar para os bancos e tesoureiros para entender como está cada ativo, entender a demanda, eventualmente até se quiser fazer intervenção no câmbio ou ajudar o Tesouro nos leilões.”
Fonte: Valor Econômico

