Por Renan Truffi — De Brasília
24/01/2023 05h00 Atualizado há 4 horas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca amanhã no Uruguai com a tarefa de tentar evitar uma espécie de desmonte do Mercosul. A principal reunião bilateral marcada pelo staff do governo em Montevidéu é com o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, que tem negociado um acordo unilateral com a China com potencial para implodir o bloco econômico sul-americano criado em 1991.
Na prática, segundo fontes do Itamaraty, Lula deve recorrer à diplomacia para tentar evitar que os uruguaios fechem um acordo de livre-comércio com os chineses, como busca Pequim há algum tempo. Para isso, a ideia é acenar com possíveis concessões na área comercial, como forma de dissuadir o país vizinho dessa aproximação.
A preocupação do governo brasileiro é que uruguaios e chineses estabeleçam tarifas diferentes para importação e exportação de produtos, o que tende a fragilizar ainda mais a chamada Tarifa Externa Comum (TEC), taxa comercial padronizada que os países do Mercosul têm de seguir como parte do tratado em vigor.
Recentemente, o Ministério de Comércio chinês (Mofcom) admitiu ao Valor que está disposto a negociar um acordo de livre-comércio (ALC) com o Mercosul como um todo, mas, se necessário, também pode fechar um ALC com qualquer membro do Mercosul. Neste sentido, Pequim já tem 22 acordos de livre-comércio concluídos, por exemplo com Chile e Peru na América do Sul, além de dez em negociação e oito “em consideração”, como com a Colômbia.
A negociação a ser feita por Lula é considerada delicada porque a China é, desde 2009, o maior parceiro comercial do Brasil, o maior mercado para as exportações brasileiras, fonte de grande de importações para o país e, consequentemente, um aliado importante para o superávit comercial brasileiro.
Diante desse cenário, é possível que Lula aproveite sua passagem pelo Uruguai para recorrer, inclusive, ao ex-presidente José Pepe Mujica (2010-2015), com quem o petista tem uma antiga relação de proximidade.
A visita ao líder da esquerda uruguaia ainda não está certa, de acordo com fontes do Ministério das Relações Exteriores, porque o ex-presidente do país estaria com problemas de locomoção e Lula pode não ter tempo suficiente para ir à residência pessoal de Mujica.
Apesar de Lula e Mujica também terem uma relação de amizade, interlocutores do Palácio do Planalto para a área internacional admitem que o petista deve ouvir a opinião do ex-presidente uruguaio sobre as negociações entre o país vizinho e a China. Além disso, está sendo negociado pelo Itamaraty um possível encontro entre Lula e Carolina Cosse, atual prefeita de Montevidéu.
Cosse é um dos principais quadros políticos da Frente Ampla, partido de centro-esquerda que esteve 15 anos à frente do poder no Uruguai (primeiro com Tabaré Vázquez e, depois, com Mujica). A prefeita chegou a ser pré-candidata à Presidência dentro da sigla nas últimas eleições, mas a vaga ficou com Daniel Martínez. Na ocasião, o partido dela acabou perdendo o pleito e para o tradicional partido Nacional (blanco), de centro-direita.
Fonte: Valor Econômico

