Por Bloomberg
17/01/2023 05h00 Atualizado há 6 horas
A repentina retomada econômica da China deverá dar um impulso em uma economia mundial enfraquecida. Esse impulso será sentido nos setores de serviços, como aviação, turismo e educação, com os chineses fazendo as malas para viagens internacionais pela primeira vez desde a pandemia.
Países do Sudeste Asiático dependentes do turismo tendem a estar entre os primeiros a observar uma aceleração na atividade, com os países desenvolvidos também se beneficiando com a volta dos turistas chineses.
Embora a expectativa seja de uma retomada econômica acidentada da China, a drástica guinada em relação à covid coincide com esforços destinados a conter o colapso do setor imobiliário.
Isso significará um forte estímulo para produtores de commodities como o Chile e o Brasil. O impacto já se faz sentir nos mercados financeiros.
Os preços do cobre dispararam até US$ 9 mil por tonelada pela primeira vez desde junho, um indicador das ações de mineração australianas avança para sua máxima histórica e o peso chileno desfruta de sua maior alta desde agosto, tudo isso com base em apostas na reabertura da China.
Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), descreveu a virada da China em relação à política de covid-zero como, provavelmente, o fator isolado mais importante para o crescimento global em 2023, pois significará que a China será um fator positivo de contribuição à média do crescimento global por volta do meio do ano.
“A retomada da China dará a tão necessária sacudida no crescimento mundial”, disse Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia do HSBC Holdings. “Como a segunda maior economia do mundo, a aceleração dos gastos das famílias e das empresas contribuirá para impedir que ao comércio exterior global venha a cair mais, em uma época em que a demanda do Ocidente está enfraquecendo.”
No caso dos serviços, a China prevê que o número de voos internacionais se recuperará para o equivalente a 15% a 25% de seus níveis pré-pandemia até o fim de março. Analistas do Barclays preveem uma disparada do turismo chinês com destino ao exterior e chamam a atenção para dados da Ctrip International que mostram que as reservas de viagens ao exterior para o próximo feriado do Ano-Novo Lunar dispararam 260%, se comparadas ao mesmo período do ano passado. Segundo eles, economias desenvolvidas, como EUA, Reino Unido e Austrália, estarão entre as beneficiárias.
Antes da covid, a China tinha um déficit de serviços de US$ 260 bilhões, 85% dos quais se deviam ao turismo com destino ao exterior, segundo Barclays. Os lugares mais procurados para turismo no Sudeste Asiático, como a Tailândia e o Vietnã, estão ansiosos por uma volta dos turistas chineses.
A Tailândia atraiu cerca de 11,5 milhões de turistas estrangeiros no ano passado, bem abaixo dos 40 milhões de 2019, antes da pandemia – quando quase 25% deles vinham da China. O governo prevê 25 milhões de turistas neste ano.
Ao mesmo tempo, a recuperação interna na China deverá gerar uma demanda mais robusta por importações e por compras de marcas estrangeiras.
Embora dados esperados para hoje devam mostrar uma queda das vendas do varejo no ano passado, a S&P Global prevê uma expansão de 5,8% para o varejo em 2023.
Naturalmente, não se prevê que a recuperação da China seja linear. Há a incerteza de como vai se desenvolver a crise de saúde pública, que poderá afetar negativamente a confiança do consumidor. O colapso dos preços dos imóveis prejudicará a recuperação do consumo. E os incentivos do governo chinês, pelo menos até agora, têm sido relativamente limitados.
“Quando o problema da covid se estabilizar o suficiente para a China reabrir de verdade, talvez por volta de março, o impulso da reabertura irá decepcionar em comparação com a reação dos países desenvolvidos”, disse Freya Beamish, economista da TS Lombard. “Os incentivos domésticos têm sido pífios em comparação, e a poupança para sustentar a demanda represada é muito menor.”
Há também questões sobre qual será o impacto da China sobre a inflação. A Bloomberg Economics estima que a reabertura empurrará o crescimento do PIB da China de 2023 para 5,1%, o que acrescentaria em cerca de 0,9 de ponto percentual a inflação global em relação ao que aconteceria se as políticas de covid-zero tivessem se mantido.
Mesmo assim, para uma economia mundial ansiosa por boas notícias, uma recuperação da demanda da parte da China será bem-vinda. Se a recuperação ocorrer como se espera, a China poderá acabar respondendo por 50% do crescimento global, estima Alicia García-Herrero, economista-chefe para a Ásia do Pacífico da Natixis.
Fonte: Valor Econômico

