Por Lucianne Carneiro — Do Rio
08/11/2022 05h01 Atualizado
Após dois meses de alta, o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) voltou a cair em outubro e atingiu 79,8 pontos, o menor nível desde abril. A queda do índice do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas foi de 4 pontos, a mais intensa desde janeiro (quando foi de 5,3 pontos).
Na avaliação do economista Rodolpho Tobler, responsável pelo indicador, o resultado de outubro mostra reversão de tendência e é sinal amarelo para o mercado de trabalho no início de 2023.
“Parece que está ficando mais claro que a expectativa que se tem para esse fim de ano, especialmente a virada para 2023, é de uma certa desaceleração da economia. Indústria e comércio mostrando desaceleração, enquanto os serviços estão segurando um pouco”, diz ele, que destaca a mudança de tendência para o mercado de trabalho.
“O resultado de outubro é uma sugestão bem forte de mudança de tendência [no mercado de trabalho], de que as coisas podem ficar mais lentas, isso a gente começa a observar um pouco nos dados da Pnad. Já há indícios de que é uma reversão de tendência. A taxa de desemprego pode ter uma piora no início de 2023, a população ocupada não continuar subindo tanto. Realmente liga o sinal amarelo aí para esse início de ano.”
O comportamento disseminado de queda entre os componentes do IAEmp [seis em sete] confirma, na sua avaliação, essa expectativa de mudança. O IAEmp é construído como uma combinação de séries extraídas das sondagens da Indústria, de Serviços e do Consumidor. Seu comportamento antecipa os rumos do mercado de trabalho no país, com uma defasagem de dois a três meses, em geral.
A maior contribuição para o recuo veio da tendência dos negócios da indústria de transformação, parte da sondagem da indústria, que respondeu por 1,7 ponto percentual da queda de quatro pontos percentuais do IAEmp na passagem entre setembro e outubro. A segunda maior influência veio do emprego previsto (-0,9 ponto percentual).
O fato de o IAEmp ter ficado abaixo dos 80 pontos também é uma sinalização dessa piora, aponta Tobler. A média histórica do indicador, iniciado em junho de 2008, é de 85,4 pontos. Se considerar apenas o período pré-pandemia, até dezembro de 2019, a média é ainda maior: 86,9 pontos.
“O indicador tem rodado mais perto de 80 pontos nos últimos meses que perto da média histórica. O fato de chegar abaixo dos 80 mostra essa situação”, diz.
O resultado de outubro interrompe uma trajetória ascendente do indicador desde o fim do primeiro trimestre que refletiu, segundo Tobler, o controle maior da pandemia e o crescimento mais forte da economia que o esperado, que favoreceu o mercado de trabalho.
“Mas a gente sabe que as variáveis macroeconômicas ainda não estão no melhor momento. Os ajustes estão sendo feitos, como no caso do juro para controlar a inflação. E isso de alguma maneira resulta no desaquecimento da economia, que já começa a se sentir”, explica ele.
Fonte: Valor Econômico

