Por Anaïs Fernandes, Gabriel Roca e Victor Rezende — De São Paulo
08/06/2022 05h03 Atualizado há 5 horas
Na potência máxima, as medidas articuladas pelo governo para cortar impostos podem retirar até três pontos percentuais das projeções de IPCA deste ano, estimam economistas. No mercado, o reflexo apareceu no desmonte de posições compradas (que apostam na alta) em inflação “implícita” nos contratos de curto prazo. Como parte das ações, porém, seria limitada a 2022, as expectativas de IPCA em 2023 tendem a piorar, enquanto a perspectiva de custo fiscal elevado pressiona taxas de mercado em prazos mais longos.
Dados da Renascença DTVM apontam que a inflação embutida na NTN-B com vencimento em agosto diminuiu três pontos entre segunda-feira e ontem, para 3,22%. Na NTN-B de 2023, passou de 7,23% para 6,58%. Já a inflação implícita para 2022 medida pelos DAPs (contrato futuro de cupom de IPCA) recuou de 8,87% a 8,06%, segundo o economista da Quantitas João Fernandes. “O anúncio sobre a zeragem de PIS/Cofins não estava no radar do mercado”, afirma.
Sobre a gasolina, isso teria um grande impacto no IPCA, aponta Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset. “No geral, pode chegar a quase 0,7 ponto percentual neste ano”, estima. A PEC com incentivo para Estados zerarem o ICMS do diesel e do gás de cozinha para além do teto do PLP 18, por sua vez, poderia retirar mais 0,2 ponto, segundo ele. O maior efeito, no entanto, viria do próprio PLP 18, que propõe limitar o ICMS sobre itens como energia e combustíveis. Em algumas estimativas, isso poderia trazer alívio de 1,9 ponto à inflação, observa Lima.
Assim, a projeção da Western de IPCA de 9,2% em 2022 poderia migrar para algo perto de 6,4% – 2,8 pontos a menos. Em linha, a MCM Consultores estima um alívio de quase 2,7 pontos. O Citi calcula que sua projeção neste ano de 9,3% poderia ir para algo entre 6,3% e 6,8%. “O impacto é grande no IPCA, se tudo passar no máximo, o que eu não acredito”, diz Lima.
Calculando um cenário de probabilidades e incluindo repasses mais limitados, a Quantitas estima impacto de 1,5 ponto no IPCA de 2022. “Em um universo de probabilidades, aumentou a chance de implementação das medidas em um prazo mais curto”, afirma Fernandes.
O PLP 18, no entanto, pode ser judicializado, aponta Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos. Outro efeito controverso, diz, seria gerar incentivo à Petrobras para reajustar o preço dos combustíveis e diminuir a defasagem atual ante valores internacionais. Caso isso ocorra, o impacto das medidas do governo seria, em grande medida, dissipado.
À exceção do teto do PLP 18, as demais iniciativas são temporárias e, se reduzem as projeções de IPCA para 2022, implicam subir as previsões para 2023, ainda que a inércia entre os anos fique menor, diz Lima. A estimativa da Western de 4,7% no ano que vem poderia ficar entre 5,3% e 5,4%, segundo ele.
“O IPCA poderia chegar a 6,8%, com elevação de 1 ponto no ano que vem”, comentou o Bradesco. Apesar de reconhecer o impacto potencial das medidas, o banco elevou ontem a projeção de IPCA em 2022 a 9%, diante do ritmo da economia doméstica, e ajustou a previsão de 2023 de 3,9% a 4,1%.
No mercado, Fernandes, da Quantitas, também não enxerga um movimento de extrapolação do alívio nas implícitas curtas para prazos um pouco mais longos. “As medidas deterioram o ambiente fiscal no país, o que significa prêmios ainda maiores”, afirma.
Fonte: Valor Econômico