Analista aponta ocupação por parte de indústrias como alternativa para o segmento de galpões logísticos diante do crescimento mais lento do comércio virtual
Por Ana Luiza Tieghi — De São Paulo
15/09/2022 05h01 Atualizado há uma hora
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Para o presidente Sérgio Fischer, desacelaração do comércio eletrônico não atrapalha o crescimento da Log — Foto: Divulgação
O crescimento do comércio virtual tem perdido força no país. Pesquisa da NielsenIQ | Ebit, divulgada pelo Valor, mostra aumento de e 6% nas vendas entre janeiro e junho deste ano, ante 47% no mesmo intervalo de 2021.
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O segmento de galpões e condomínios logísticos cresceu na pandemia no rastro das vendas virtuais e essa desaceleração poderia frear novos investimentos. No entanto, Sérgio Fischer, presidente da Log Commercial Properties, que constrói e gerencia esses espaços, não se diz preocupado.
“O e-commerce não vai crescer 30% ao ano, mas ainda vai continuar crescendo dois dígitos”, diz. O executivo também aposta no aumento da penetração do comércio eletrônico no Brasil. Dados da Associação Brasileira do Comércio Eletrônico (ABComm), do ano passado, mostram que 11,6% do varejo no país provém da internet.
O principal motivo de sua tranquilidade é a análise de que o estoque de galpões no Brasil é, em maioria, antigo e defasado tecnologicamente e precisa se reciclar, o chamado “fly to quality”. “Para isso não precisa de crescimento de PIB e de consumo, porque você está trocando operação velha por nova, é demanda que já existe”, diz.
Por fim, a Log alega ter a particularidade de possuir ativos espalhados pelo Brasil, também em cidades com pouca ou nenhuma concorrência, o que facilita a manutenção de uma ocupação alta – a empresa fechou o segundo trimestre com vacância em 2,18%, ante 9,34% da média nacional, de acordo com dado da consultoria JLL.
A companhia projeta terminar o ano com 415 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL) entregue, número recorde e superior aos 231 mil de 2021, até então o melhor ano no quesito. “Queremos bater recorde de novo no ano que vem”, diz Fischer.
André Romano, gerente da divisão industrial, logística e de data center da JLL, analisa que a estratégia da Log faz sentido e a ajudou a crescer na pandemia. “Enquanto um investidor mais acostumado a investir em São Paulo ou em Minas estava procurando terreno em Fortaleza ou em Belém, a Log já tinha projetos aprovados”, afirma.
Para ele, uma região que pode sentir mais o impacto da desaceleração do comércio eletrônico é Cajamar, grande centro logístico próximo à cidade de São Paulo. Há previsão de novas entregas de galpões na capital até o final do ano, que podem não ser absorvidos imediatamente. “Talvez nós vejamos aumento da vacância em Cajamar pela primeira vez em dois anos”, diz Romano. Ao final de junho, a vacância era de 5,1%.
No geral do país, a JLL projeta leve crescimento da vacância para o final do ano, de 9,34% no segundo trimestre para 11,97% no quarto. Romano destaca que isso deve ocorrer não pela queda da demanda, mas pelo excesso de oferta. Os dados do terceiro trimestre ainda não devem refletir esse movimento, diz, já que as entregas estão mais concentradas nos últimos três meses de 2022.
Não é só do comércio eletrônico que depende a ocupação dos galpões logísticos, ressalta Romano, e esse fator pode ajudar o segmento a manter resultados positivos, mesmo com os dados mais fracos. A indústria também ocupa essas áreas, tanto para suas plantas quanto para distribuição, e o analista vê aumento das movimentações desse tipo. “As duas maiores absorções em Cajamar nos últimos dois meses foram de indústria, de medicamento e cosméticos”, diz. A absorção de cosméticos veio do O Boticário, que locou 29,5 mil metros quadrados na cidade.
Além desses setores, o de alimentos, bebidas, bem-estar e de ração animal também demandam espaço logístico.
Já que a indústria não precisa estar tão próxima do consumidor, pode optar por se instalar em espaços fora dos maiores centros comerciais do país, como em Extrema, cidade mineira que atrai galpões com desconto em impostos.
Romano conta que uma indústria de vestuário prospecta mudar sua operação de cidades paulistas para lá, onde terá condições melhores para o imposto de importação de mercadorias. “As empresas estão buscando se otimizar e se aproveitar dessa guerra fiscal que há no Brasil”, afirma.
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Fonte: Valor Econômico