- 15 Mar 2024
O líder da maioria democrata no Senado americano, Chuck Schumer, fez ontem um discurso contundente no plenário criticando o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, chamado de “obstáculo à paz no Oriente Médio”. O senador, que é judeu, pediu a renúncia do premiê e novas eleições em Israel.
A crítica incomum de um dos políticos mais influentes dos EUA foi atacada ontem pelo Likud, partido de Netanyahu. “Israel não é uma república de bananas, mas uma democracia independente e orgulhosa”, disse a legenda, em comunicado. “Espera-se que um senador respeite o governo eleito de Israel e não o enfraqueça. Isso é sempre o correto a se fazer, ainda mais em tempos de guerra.”
Outros legisladores democratas também condenaram Netanyahu e sua coligação radical de direita. O presidente americano, Joe Biden, chegou a dizer que a ofensiva militar israelense em Gaza era “exagerada”. Mas o discurso de Schumer representa a crítica mais dura até agora de um alto político americano, pedindo que os israelenses substituam Netanyahu.
“Acredito de coração que sua maior prioridade é a segurança de Israel”, disse Schumer. “No entanto, também acredito que o primeiro-ministro Netanyahu se perdeu ao permitir que sua sobrevivência política tivesse precedência sobre os maiores interesses de Israel.”
INSATISFAÇÃO. O discurso de Schumer foi o mais recente reflexo da crescente insatisfação dos democratas com a condução da guerra por Israel e seu impacto sobre os palestinos, o que criou um dilema estratégico e político para Biden. Os republicanos tentaram capitalizar com a crise e tirar vantagens eleitorais, manifestando apoio a Netanyahu.
Em resposta a Schumer, o senador Mitch McConnell, líder da minoria republicana, disse no plenário que era “grotesco e hipócrita” para os EUA, que criticam a interferência estrangeira na democracia americana, pedir a remoção de um líder de Israel democraticamente eleito. “O Partido Democrata não tem um problema antiNetanyahu. Ele tem um problema anti-Israel”, afirmou McConnell.
Os comentários de Schumer foram feitos um dia depois que os republicanos do Senado convidaram Netanyahu para falar, virtualmente, como convidado de um encontro do partido em Washington. O premiê, no entanto, não pôde participar.
No seu discurso, Schumer, que é senador por Nova York, um Estado com mais de 20% da população judaica dos EUA, disse que não estava tentando ditar qualquer resultado eleitoral e fez uma longa defesa de Israel. Mas, na sequência, foi implacável em suas críticas a Netanyahu, dizendo que o primeiro-ministro era um dos principais obstáculos para se alcançar a paz no Oriente Médio, junto com o Hamas, os “israelenses de direita radical” e Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, que também deveria ser substituído, segundo o senador.
“A coligação de Netanyahu já não satisfaz as necessidades de Israel depois do 7 de Outubro”, disse Schumer, referindo-se ao dia do ataque terrorista do Hamas a Israel. “O mundo mudou – radicalmente – desde então, e o povo israelense está sufocado neste momento por uma visão de governo que está presa no passado.”
ANTISSEMITISMO. Foi a segunda vez que Schumer abordou a guerra entre Israel e Hamas no plenário do Senado desde 7 de outubro. O senador, o primeiro judeu a servir como líder no Senado americano, tem falado sobre sua fé e herança judaica, bem como sobre os dilemas morais e políticos que a guerra impôs aos judeus em Israel e nos EUA.
Em novembro, ele condenou o aumento do antissemitismo nos EUA, que se intensificou desde que Israel iniciou sua resposta militar ao Hamas e deixou dezenas de milhares de palestinos mortos. As observações de Schumer pareceram dirigidas a membros do seu próprio partido, ao dizer que alguns liberais e jovens estariam “inconscientemente ajudando e encorajando” o antissemitismo em nome da justiça social.
“O povo israelense está sufocado neste momento por uma visão de governo que está presa no passado” – Chuck Schumer -Líder da maioria democrata no Senado americano
Fonte: O Estado de S. Paulo

