Por Álvaro Campos — De São Paulo
02/05/2022 05h03 Atualizado 02/05/2022
O Itaú informou na noite de sexta-feira que, após obter as aprovações necessárias, adquiriu pelo valor de aproximadamente R$ 8 bilhões uma participação de 11,36% do capital da XP. A compra dessa fatia adicional estava prevista desde o acordo original entre as duas partes, assinado em 2017, mesmo com o Banco Central tendo barrado o Itaú de adquirir o controle da corretora.
“O Itaú Unibanco esclarece que essa transação não gera alterações na governança corporativa da XP Inc. Além disso, não se espera que essa operação acarrete efeitos relevantes nos resultados da Companhia neste exercício social”, informou o banco.
O CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, vinha dizendo nos últimos meses que a compra era uma obrigação do banco e que, provavelmente, ocorreria no primeiro trimestre deste ano. O valor a ser pago também já estava combinado entre as partes: 19 vezes o lucro por ação de 2021. “Não há nenhuma intenção, nenhum mecanismo, do Itaú assumir o controle da XP”, afirmou ele no ano passado. Maluhy também lembrou na ocasião que a Itaúsa já disse que o investimento na XP não é considerado “core” e, assim, pode haver um desinvestimento ao longo do tempo.
Atualmente, uma fatia de 11,36% na XP, em valores de mercado, equivale a US$ 1,588 bilhão, ou R$ 7,849 bilhões no câmbio de sexta-feira.
No ano passado, o Itaú segregou sua fatia na XP e entregou aos seus acionistas. Assim, Itaúsa e Iupar criaram uma nova holding, batizada de XPart, e a fundiram depois com a XP. Na ocasião da fusão, Itaúsa e Iupar ficaram com uma fatia de 15,07% na XP, ou 4,74% do capital com direito a voto. Foi assinado um novo acordo de acionistas, com validade até outubro de 2026. As duas terão direito de indicar dois membros do conselho de administração da XP, sendo um deles também membro do comitê de auditoria, enquanto detiverem, em conjunto, ao menos 5% do capital social da companhia.
No acordo também ficou definido que Itaúsa e Iupar poderão realizar até seis “block trades” a cada período de 12 meses para vender suas ações da XP, “respeitadas certas regras e condições”. Em dezembro a Itaúsa fez a primeira dessas ofertas, levantando R$ 1,2 bilhão ao vender uma fatia de 1,4%. No mês passado, fez outra venda, de 2,14%, a R$ 1,8 bilhão. Com isso, sua fatia na companhia caiu para 11,51%.
Em ocasiões anteriores, Maluhy foi questionado se o Itaú também tem intenção de segregar essa nova fatia na XP e entregá-la aos acionistas. Ele disse que por enquanto isso não está definido, mas comentou que essa é uma possibilidade em estudo. O CEO da Itaúsa, Alfredo Setubal, disse no ano passado que acredita na tese da XP, mas que a empresa não faz parte da estratégia de diversificação da holding, que está investindo em áreas fora do segmento financeiro. “A tendência é, ao longo dos próximos anos, vender ações da XP, devagar, sem pressionar o mercado.”
Com a fusão com a XPart, a XP também se listou na B3, quase dois anos depois de começar a ser negociada na Nasdaq. Na ocasião, em outubro do ano passado, o vice-presidente financeiro da XP, Bruno Constantino, lembrou que, enquanto tiverem pelo menos 5% da XP, Itaúsa e Iupar terão dois membros no conselho de administração. “Não é o melhor dos mundos um dos maiores competidores colocando dois membros no nosso conselho. Não é uma governança perfeita, mas pelo menos melhorou em relação ao que era”, disse.
Do lado do Itaú, a segregação da fatia na XP também deixou o banco mais livre para fazer novas operações de fusões e aquisições. A mais relevante delas foi a aquisição da corretora Ideal, por R$ 651 milhões, em janeiro deste ano. A operação deve acabar levando o banco a entrar no segmento de agentes autônomos, um mercado criado pela XP.
Fonte: Valor Econômico

