As tropas israelenses avançaram ainda mais sobre Rafah neste domingo (12), mas também se envolveram em combates ferozes em áreas anteriormente “limpas” em torno da Cidade de Gaza, mostrando a dificuldade de se obter uma vitória decisiva sobre o Hamas enquanto força de guerrilha.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse neste domingo (12) que Israel corre o risco de alimentar uma insurgência do Hamas em Gaza após a guerra, alertando que ainda haverá milhares de militantes armados na área, mesmo que Israel invada a cidade de Rafah.
Este é o alerta mais recente em uma escalada firme das preocupações dos EUA com a maneira como Israel vem conduzindo a ofensiva em Gaza. Blinken questionou a estratégia de Israel ontem, dizendo que o governo Biden não via um plano “convincente” para proteger os civis de um ataque a Rafah, nem um plano para o pós-guerra.
“No momento, a trajetória em que Israel está é que mesmo que entre em Rafah, ainda sobrarão milhares de militantes armados do Hamas”, disse Blinken. Isso deixa Israel potencialmente no caminho para “herdar uma insurgência” ou “um vácuo preenchido pelo caos, preenchido pela anarquia e provavelmente preenchido novamente pelo Hamas”, disse ele.
Mais de 300 mil palestinos deixaram Rafah nos últimos dias enquanto os militares israelenses expandiam o que chamam de operação direcionada nessa cidade da Faixa de Gaza na fronteira com o Egito. O agravamento da crise humanitária no local aumenta o dilema de Israel: os EUA alertaram contra um ataque em grande escala a Rafah, sobrecarregada com mais de um milhão de civis, mas o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que as últimas formações de combate do Hamas no local precisam ser derrotadas para “alcançar a vitória total”.
Os combates também se intensificaram no norte do enclave palestino, onde pelo menos cinco soldados israelenses foram mortos nos últimos dias em confrontos, num cenário urbano difícil, onde militantes estão se reorganizando. Analistas israelenses afirmam que tomar Rafah não representará um golpe decisivo para o Hamas enquanto este continuar como uma insurgência potente capaz de pipocar em qualquer lugar.
Analistas disseram que uma operação em Rafah é importante para acabar com o contrabando de armas para o Hamas através do Egito, mas isso não será um golpe decisivo contra o Hamas.
“Não seria o fim da guerra. Isso só pode ser alcançado por meio de uma decisão política dos dois lados de concordar com um cessar fogo”, diz Shlomo Brom, general israelense reformado. “Nesse tipo de guerra, contra uma força guerrilheira, não acredito que haja momentos decisivos.”
Israel disse às autoridades egípcias que a ação em Rafah levará cerca de dois meses, segundo autoridades do Egito a par da situação. Israel vê uma ação militar em Rafah como fator de pressão para o Hamas a firmar um acordo de cessar fogo temporário para a libertação de cerca de 130 reféns que permanecem em Gaza, do total de 240 que o grupo militante sequestrou em 7 de outubro, num ataque que matou 1.200 israelenses, a maioria civis, segundo autoridades israelenes. No sábado, o Hamas disse que um refém britânico-israelense de 51 anos morreu em cativeiro, supostamente de ferimentos causados por um ataque aéreo israelense a uma parte não especificada da Faixa de Gaza. Os militares israelenses não quiseram comentar.
Chegar a um fim duradouro da guerra exigirá um novo governo em Gaza para substituir o Hamas, que tomou o controle da área onde vivem 2,2 milhões de palestinos em 2007. Analistas afirmam que a Hamas continuará preenchendo o vácuo de poder até Israel introduzir uma autoridade alternativa.
O número de soldados israelenses em Gaza atingiu o menor nível nos sete meses da guerra há algumas semanas, com os militares israelenses relutando em permanecer nas áreas já “limpas”, em parte porque são alvos dos insurgentes.
A atual operação de Israel no norte do enclave é a terceira no bairro de Zeitoun, na Cidade de Gaza, segundo o Institute for the Study of War. O instituto monitorou vários ataques dos militantes contra as forças israelenses, o que segundo ele sugerem que os militantes foram capazes de preservar ou reconstituir suas forças.
“Você sai e dois minutos depois o Hamas está de volta”, diz Michael Milshtein, ex-chefe de assuntos palestinos da inteligência israelense.
O Hamas apontou para as dificuldades de Israel em uma declaração emitida neste domingo (12) no X: “A ocupação não alcançou e não alcançará nenhum dos objetivos da agressão, e a resistência não recuou e não recuará em seu dever de enfrentar o ocupante”.
O agravamento da crise humanitária em Gaza vem pressionando Israel para que dê um fim na guerra. O número de mortos em Gaza ultrapassou os 35 mil no sábado, segundo as autoridades locais, em números que não fazem distinção entre civis e combatentes.
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Junto a tanques do Exército de Israel, soldados israelenses circulam na fronteira com a Faixa de Gaza — Foto: Tsafrir Abayov/AP
fonte: valor econômico

