Por Marsílea Gombata e Alessandra Saraiva — De São Paulo e do Rio
29/07/2022 05h01 Atualizado há 5 horas
A redução de preços da gasolina, anunciada ontem pela Petrobras, deve levar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para zero ou à deflação em agosto, afirmam economistas.
A Petrobras reduzirá o preço médio do litro da gasolina vendida nas refinarias às distribuidoras de R$ 3,86 para R$ 3,71, a partir desta sexta-feira. O corte representa uma diminuição de 3,88% nos preços e ocorre apenas nove dias depois da última queda. No dia 20 de julho, a gasolina vendida pela Petrobras havia passado de R$ 4,06 para R$ 3,86 por litro.
Segundo a estatal, a nova redução acompanha a oscilação dos preços de referência, que se estabilizaram em patamar inferior para a gasolina e segue a prática de preços da companhia, que busca o equilíbrio dos preços com o mercado global.
Com o reajuste, a inflação de agosto pode chegar a -0,01%, segundo Fábio Romão, economista da LCA Consultores. “Para se ter uma ideia, no mês de agosto eu esperava alta de 0,08%, agora prevejo queda de 0,01%. Então eu tirei 0,09% em agosto e 0,02% em setembro”, afirma. “Por outro lado, mantive o número do ano em 7,8% porque há outras pressões. Os serviços, por exemplo, continuam muito pressionados, acelerando em 12 meses.”
Esse cenário, afirma Romão, acaba contribuindo para o IPCA não fechar em dois dígitos neste ano, como em 2021. A LCA espera que o IPCA encerre 2022 em 7,8%.
Para André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a inflação pode registrar taxa praticamente “zero” em agosto.
Segundo ele, o impacto da gasolina mais barata no IPCA de agosto deve conduzir a uma inflação anual de entre 7,2% e 7,3% em 2022, abaixo de projeções de mercado, em torno de 7,5%. “Creio que para o ano teremos um IPCA mais próximo de 7% do que de 8%”, afirmou o economista.
Braz lembrou que nem todo ajuste feito pela petroleira nas refinarias é repassado integralmente para as bombas. “Creio que desse novo reajuste deve chegar em torno de 2% de queda na bomba e fazer o IPCA recuar em torno de 0,15 ponto percentual em agosto”, disse. Como o mês de julho acaba essa semana, comentou ele, não daria tempo de o novo reajuste ser captado no IPCA de julho.
Braz não descarta que sejam feitos novos reajustes do preço da gasolina adiante. “Por enquanto, a tendência tem sido de queda, com esse risco de recessão começando a atuar em cima do preço do petróleo e abrindo espaço para revisões para baixo. Mas isso não é um ponto final”, afirma, ao cogitar também reversão da queda de preço por conta de incertezas relacionadas à guerra entre Rússia e Ucrânia, à covid-19, e à desvalorização cambial no Brasil.
A queda nos preços da gasolina nas refinarias está em linha com a expectativa de redução esperada pela consultoria StoneX, de acordo com o consultor em gerenciamento de risco, Pedro Shinzato.
Para Shinzato, entretanto, segue um espaço para cortes no preço do diesel, que não foi alterado pela Petrobras. A StoneX calcula que o diesel vendido pela Petrobras está R$ 0,204 acima dos preços internacionais. A Petrobras não altera o preço de venda do diesel desde 17 de junho, quando o combustível passou a ser vendido ao preço médio de R$ 5,61 por litro. (Colaborou Gabriela Ruddy, do Rio)
Fonte: Valor Econômico
