Desde 2012, empresas com soluções de inteligência artificial acumularam US$ 839 milhões em 274 rodadas de investimento
Por Jacilio Saraiva — Para o Valor, de São Paulo
28/11/2022 05h01 Atualizado
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Startups que oferecem soluções baseadas em inteligência artificial (IA) ganham cada vez mais atenção do mercado investidor. Estudo da plataforma de inovação aberta Distrito e da KPMG mostra que, desde 2012, o setor acumulou US$ 839 milhões em 274 rodadas de investimento. Somente em 2020 foram captados US$ 265 milhões, por meio de 44 aportes, o equivalente a 31,5% do total arrecadado nos últimos oito anos. Até então, 2019 era o ano com o melhor resultado: 51 operações e US$ 243 milhões para o segmento que reúne 702 empresas no país.
“O desenvolvimento de tecnologias relacionadas à IA exige investimentos robustos e tempo de maturação”, analisa Gustavo Gierun, CEO da Distrito. “Agora, os investidores passaram a valorizar as companhias capazes de gerar resultados com mais velocidade, evitando a necessidade de captar novos recursos.”
Na avaliação de Marcel Malczewski, CEO e sócio-fundador da gestora brasileira de venture capital TM3 Capital, para despertar o interesse dos investidores, as startups devem garantir que a solução desenvolvida resolva alguma “dor” do cliente. “Soluções com receitas recorrentes e grandes mercados alvo são as que mais atraem a nossa atenção”, diz. Com mais de R$ 500 milhões sob gestão, a TM3 Capital, criada em 2011, já investiu em 41 startups. Do total, 22% são da área de IA. “Temos cerca de R$ 200 milhões para aplicar no setor, até o primeiro trimestre de 2027”, afirma. Nos próximos dois anos, o plano, segundo o executivo, é apoiar até cinco empresas, em quatro nichos: logística, varejo, saúde e agronegócio.
Os maiores cheques da TM3 Capital em empresas de IA foram para a InfoPrice, de inteligência de preços no varejo, com R$ 14 milhões, em 2018; e a Docket, de gestão de documentos, que recebeu R$ 16 milhões este ano.
Na gestora Indicator Capital, um dos movimentos mais recentes na indústria de IA aconteceu no final de 2021, com a injeção de R$ 11 milhões na Beegol. A plataforma baseada em machine learning (aprendizado de máquina) utiliza a tecnologia para monitorar a experiência de clientes com os serviços das operadoras de telecom, como banda larga e redes sem fio.
“Avaliamos o potencial de crescimento financeiro sustentável e o impacto socioambiental das startups para nos certificar que elas se transformarão em companhias grandes e responsáveis”, afirma Derek Bittar, cofundador da Indicator Capital. A gestora investiu em 22 startups desde 2016, sendo a maioria (72,3%) ou 16 delas da área de IA. Até 2024, a expectativa é regar o caixa de até dez companhias do setor, principalmente aquelas com soluções para cidades inteligentes, saúde, agronegócio e indústria 4.0. “Como em qualquer negócio, o produto precisa vender e a startup deve rentabilizar.”
É o que está fazendo Paulo Lerner, CEO da carioca Syos, plataforma de gestão de refrigeradores que usa IA e internet das coisas (IoT) para garantir a temperatura certa nos equipamentos e minimizar perdas. A companhia fundada em 2019 faturou R$ 8 milhões em 2021 e planeja chegar aos R$ 15 milhões de faturamento, até o final do ano. A carteira de clientes passou de 15 empresas, em novembro de 2021, para as atuais 50.
Em abril de 2022, a startup recebeu R$ 12 milhões da Indicator Capital. O aporte segue para contratar equipes comerciais, bancar marketing e divulgação, diz Lerner, que atende grupos como Coca-Cola, Metalfrio e os supermercados Zona Sul. No início de 2023, a ideia é captar mais R$ 12 milhões, diz o empreendedor, que planeja expandir operações na indústria farmacêutica, adepta da refrigeração para medicamentos sensíveis.
Outras startups do setor, recém-investidas, também escalam o número de contratos. A Looqbox, que emprega IA na consulta de grandes volumes de dados, recebeu este ano um tíquete de R$ 15 milhões em rodada liderada pela DGF Investimentos. Em 12 meses, ganhou dez clientes e agora são 34, como Via Varejo e Magalu. “Temos presença no varejo e começamos a expandir nas verticais de finanças e saúde”, diz o CEO Rodrigo Murta.
Na unico, somente na área de verificação de identidade por meio de reconhecimento facial, a quantidade de clientes subiu 32%, de 184, em novembro de 2021, para 243. Considerada um unicórnio (startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão) desde o ano passado, a empresa que atende Pernambucanas e C6 Bank quer ampliar o portfólio. “Investimos R$ 1 milhão em uma parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para um trabalho com foco na autenticação de identidade que analisa apenas a região dos olhos”, diz o CEO da unico, Diego Martins.
Fonte: Valor Econômico