Por Agências Internacionais
14/07/2022 05h02 Atualizado há 4 horas
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A inflação ao consumidor nos EUA surpreendeu com um salto anual de 9,1% em junho, sua maior alta em 40 anos, impulsionada pelo aumento dos preços da gasolina, de alimentos e dos aluguéis. A persistente pressão inflacionária reduz o poder de compra das famílias e pressiona o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a elevar as taxas de juro de forma mais agressiva – tendências que ampliam o risco de uma recessão.
Mesmo excluindo os preços de alimentos e energia, a chamada medida núcleo da inflação permaneceu em níveis elevados, com aumento de 5,9% em junho na comparação anual, após um ganho de 6% em maio, segundo dados divulgados ontem pelo Departamento do Trabalho.
A alta acima do esperado da inflação pesou sobre as ações americanas. Em Nova York, o índice S&P-500 fechou em baixa de 0,5%.
A persistente pressão dos preços reduz os ganhos das empresas e o poder de compra dos consumidores americanos, e deve levar o Fed a agir de forma mais agressiva para restaurar a estabilidade de preços. No mês passado, o Fed elevou sua meta para a taxa de juro em 0,75 ponto porcentual, o maior aumento desde 1994, e pode repetir a dose daqui a duas semanas. A desaceleração da demanda é fundamental para o objetivo do Fed de restaurar a estabilidade de preços em uma economia que ainda sofre com problemas de fornecimento, mas subir as taxas de juro também amplia o risco de uma recessão.
“A inflação nos EUA está acima de 9%, mas é a amplitude das pressões sobre os preços que é realmente preocupante para o Federal Reserve”, segundo James Knightley, economista-chefe internacional do ING. “Com as condições de oferta mostrando poucos sinais de melhora, o ônus é do Fed de frear [a pressão de preços] por meio de taxas mais altas para permitir que a demanda corresponda melhor às condições de oferta. A ameaça de recessão está aumentando.”
A economia dos EUA encolheu nos primeiros três meses do ano, e muitos analistas acreditam que a tendência continuou no segundo trimestre. “Os aumentos das taxas de juro do Fed têm feito o que se supõe que devem fazer, que é acabar com a demanda”, disse Megan Greene, economista-chefe mundial do Instituto Kroll. “O problema é se eles forem longe demais e tivermos uma recessão.”
Apesar dos números de junho, economistas apontam para a perspectiva de menor pressão sobre os preços nos próximos meses. Alguns analistas acreditam que a inflação pode ter atingido um pico de curto prazo. Os preços da gasolina, por exemplo, caíram de US$ 5 o galão alcançado em meados de junho para uma média de US$ 4,63 em todo o país ontem – embora continuem bem acima dos níveis de há um ano.
“Existe um temor muito sério de recessão que afeta uma ampla gama de preços de ativos”, disse Laura Rosner-Warburton, economista da MacroPolicy Perspectives.
Os custos de envio e os preços das commodities também começaram a cair, e os aumentos salariais desaceleraram. Pesquisas mostram que as expectativas dos americanos para a inflação no longo prazo diminuíram – uma tendência que muitas vezes aponta para aumentos de preços mais moderados ao longo do tempo.
“Embora a leitura da inflação de hoje seja inaceitavelmente alta, também está desatualizada”, disse ontem o presidente Joe Biden em nota, destacando que a pressão inflacionária é um fenômeno global.
Também ontem, o mais recente relatório econômico do Fed, o “Livro Bege”, apontou que várias partes dos EUA mostraram sinais de desaceleração nas últimas semanas, enquanto que a pressão inflacionária permaneceu significativa. Várias empresas ouvidas pela pesquisa do Fed disseram “observaram preocupações com o aumento do risco de recessão” e que em grande parte do país houve um recuo nos gastos do consumidor devido aos preços mais altos da gasolina e dos alimentos.
Apesar da possibilidade de uma nova contração do PIB americano no segundo trimestre, muitos indicadores sugerem que a atividade ainda está em expansão, o que torna mais ruidoso o debate sobre se a economia dos EUA já estaria ou não em uma recessão.
Enquanto muitos países definem uma recessão como dois trimestres consecutivos de crescimento negativo do PIB, os EUA deixam essa avaliação para acadêmicos de elite do National Bureau of Economic Research (NBER), com sede em Cambridge, Massachusetts, cujos líderes ridicularizam a referência de dois trimestres, que consideram simplista e enganosa.
Em vez de duas leituras negativas do PIB, o NBER procura por um declínio substancial na atividade durante um intervalo de tempo mais prolongado. A comissão estabelece as datas dos picos e das quedas da atividade econômica com base em séries de dados semestrais que incluem os dados de desemprego, os gastos com consumo pessoal e a produção industrial.
Fonte: Valor Econômico