Após seis meses de surpresas baixistas em dados de inflação, os números do IPCA de dezembro e o IPCA-15 de janeiro mostram uma figura um pouco diferente, em especial na dinâmica dos preços de serviços, que vieram mais fortes que o esperado pelo mercado. “É um ponto de alerta. No trecho do comunicado em que o BC descreve que as medidas de inflação subjacente estão se aproximando da meta, podemos ver uma retirada ou uma atenuação da linguagem”, diz o economista-chefe para Brasil do Bahia Asset Management, Luiz Maciel, que espera poucas alterações na comunicação do Copom.
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Luiz Maciel, economista-chefe para Brasil do Bahia Asset — Foto: Leo Pinheiro/Valor
O cenário básico da gestora carioca contempla um corte de 0,5 ponto percentual no juro básico nesta semana e uma taxa de 9,5% no fim do ciclo. Maciel reserva atenção especial aos dados mais recentes da inflação corrente e aponta que os sinais emitidos indicam a necessidade de cautela na condução da política monetária. Assim, embora o Bahia Asset projete um IPCA de 3,5% neste ano e de 3,2% em 2025, números abaixo do consenso do mercado, a expectativa da gestora é de que a inflação de serviços fique em 4,5% neste ano e um pouco acima de 4% em 2025.
“Por isso não acreditamos em um juro terminal indo a 8,5% e ficamos com uma taxa mais próxima a 9,5%”, destaca o economista. “Quando rodamos os modelos do BC, nas nossas contas o juro necessário para fazer a inflação convergir para a meta é mais próximo de 9,5%, um pouco superior a isso. Além disso, hoje o BC enfrenta um problema: as expectativas inflacionárias um pouco premiadas”, diz Maciel, ao se referir à mediana das projeções do mercado para o IPCA de 2025 e 2026 em 3,5%, acima, portanto, do centro da meta de inflação (3%).
“Vivemos um processo de desinflação bem grande em 2023, mas as expectativas se movimentaram muito pouco. Existe uma discussão de credibilidade da política monetária e há uma chance razoável de o governo indicar um novo presidente do BC mais sensível às demandas de crescimento e que, assim, pode estar menos propenso a tomar medidas duras para levar a inflação para a meta”, afirma Maciel. Assim, a partir do momento em que se tem dúvidas sobre o esforço do BC para levar a inflação à meta, é necessário que a autoridade monetária “faça mais”, ou seja, mantenha os juros em nível mais alto.
Para a reunião do Copom desta semana, Maciel espera poucas alterações. O economista acredita na manutenção da indicação de novos cortes de 0,5 ponto percentual na Selic, no plural. “E, talvez, o BC possa colocar no comunicado o que ele só tem deixado para a ata que é a questão parafiscal. Não existe ainda uma mudança de cenário. Na ata, essa comunicação foi antecipada pelo BC, que mostrou uma preocupação caso a política parafiscal seja muito forte, diante do risco do juro neutro ser maior, já que, no fim, a potência da política monetária ficaria mais fraca.”
Fonte: Valor Econômico
