A Argentina encerrou 2024 com a inflação anual de 117,8%, a mais baixa do ano e bem abaixo da alta de 211,4% de 2023. A dramática desaceleração da inflação tem sido o maior êxito do presidente libertário Javier Milei desde que tomou posse em dezembro de 2023.
Porém, o dado mensal do índice de preços ao consumidor de dezembro apontou uma aceleração para 2,7%, de 2,4% registrado em novembro, segundo dados oficiais divulgados ontem. O resultado mensal veio em linha com a previsão do governo, que logo após a divulgação do dado anunciou uma correção no ritmo mensal de depreciação do peso de 2% para 1%, o chamado ‘crawling peg’, a partir de fevereiro de 2025. A medida visa baixar ainda mais a inflação.
No último trimestre de 2024 a inflação mensal argentina estacionou entre 2% e 3%. Essa resiliência da taxa, segundo analistas, reflete em parte uma persistente pressão nos preços de serviços, menos influenciados pela política cambial, que subiram 4,4% em dezembro, mesma taxa de novembro. Já a inflação de bens, mais sensível à mudanças na taxa cambial, se manteve abaixo de 2%, com uma alta de 1,9% no mês passado.
“A inflação de bens se ajustam mais rapidamente ao ritmo da desvalorização [do peso]. Ao reduzir o ritmo do ‘crawling peg’ o governo busca alcançar uma desinflação mais rápida”, avalia Nicolas Alonzo, analista da consultoria Orlando J. Ferrerés y Asociados.
A economista chefe da consultoria econômica EPyCA, Flor Fiorentin, observa que a inflação argentina segue pressionada pela alta dos preços dos produtos regulados — habitação, água, eletricidade, gás e combustíveis — e de serviços — especialmente os aluguéis, pois ainda há muitos contratos regidos pela lei anterior, de preços regulados e defasados.
“Se [o governo] conseguir desacelerar o aumento dos serviços, a inflação cai. Os aluguéis impactam bastante aí, porque os que estão sob a lei anterior são atualizados anualmente, mas com meses de atraso, então são afetados por meses de inflação mais alta. Essa parte, aos poucos, vai impactar menos”, completa.
Para os próximos meses, o sócio da consultoria MAP, Juan Pablo Ronderos, estima que os resultados mensais seguirão desacelerando devido à redução do ritmo do crawling peg e à “persistência de um viés positivo nas expectativas”.
“Concretamente, esperamos que as leituras dos dois primeiros meses do ano sejam menores do que as de dezembro, convergindo para uma taxa média de 2,5% ao mês, ou até mesmo ficando abaixo dessa taxa”, avalia Ronderos.
A desvalorização controlada do peso, de 2% ao mês, ajudou a derrubar a inflação mensal argentina de um pico de 26% em dezembro de 2023. Por outro lado, a desvalorização acumulada de 22,8% do peso em 2024, ante uma inflação anual de três dígitos, fez com que a moeda argentina se valorizasse mais do que qualquer outra moeda em termos reais no ano passado, gerando preocupações sobre a competitividade dos produtos argentinos.
No passado, rápidas valorizações do peso em termos reais sob governos argentinos anteriores terminaram em desvalorizações abruptas, turbulência econômica e fuga de capitais, quando o banco central ficava sem dinheiro para sustentar um peso forte.
Fonte: Valor Econômico

