Por Rafael Rosas — Do Rio
18/05/2023 05h01 Atualizado há 4 horas
A deflação de 1,53% registrada pelo Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) em maio representou a menor taxa mensal para o indicador desde o início da série histórica, em setembro de 1993. Da mesma maneira, os -3,49% acumulados em 12 meses também foram os menores da série do IGP-10.
E, mesmo com quedas tão intensas, a expectativa é de que os recuos podem seguir se aprofundando nos próximos meses, dado o comportamento das commodities, principal razão para a baixa do índice. A opinião é de Matheus Peçanha, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), responsável pelo cálculo do IGP-10, para quem as commodities caem por causa da baixa atividade econômica mundial.
Neste mês, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-10), que tem peso de 60% no IGP-10, caiu 2,25%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-10), responsável por 30% do indicador, subiu 0,60%. O Índice Nacional do Custo da Construção (INCC-10), com peso de 10%, avançou 0,09%. Em 12 meses, a queda acumulada é de 3,49% e, no ano, o recuo soma 1,99%.
Dentro do IPA, as matérias-primas brutas caíram 5,88% em maio, com destaque para o recuo de 11,5% do minério de ferro, para a queda de 12,48% do milho em grão e para o tombo de 10,41% da soja em grão. Para Peçanha, os recuos desses produtos vêm na esteira de uma desaceleração global que já teve um prognóstico pior – havia a expectativa de recessão na China, o que não se confirmou -,mas “ainda causa queda de preço das commodities”. “Milho, minério e soja tiveram quedas de dois dígitos, mas ainda têm espaço para cair mais”, afirma o economista.
Ele afirma que a expectativa é que em algum momento esse comportamento do atacado seja repassado para o consumidor. Nesse sentido, Peçanha explica que o contágio deverá se dar via alimentação e que a demora nesse repasse das quedas de preço do atacado para o varejo tem surpreendido. “Não está no ritmo esperado, talvez por algum problema sazonal”, diz.
Em maio, dentro do IPC, os alimentos subiram 1,04%, com destaque para a alta de 8,71% das hortaliças e legumes. O tomate, por exemplo, saiu de uma deflação de 3,27% em abril para um alta de 20,38% em maio.
Peçanha destaca que esse contágio das quedas de preços nos alimentos vem acontecendo de forma lenta, mas já perceptível nos alimentos mais processados, mas não na dimensão e ritmos esperados. “O inverno deve trazer alguma pressão de alta para o leite e derivados, mas acredito que esse repasse da deflação do atacado para o varejo vá acontecer, principalmente nos alimentos mais processados”, afirma.
Essa expectativa, diz o economista, não altera a projeção de um IPCA de 6% no fim do ano, uma vez que pode haver uma pressão no setor de serviços, que vive ainda o efeito da retomada e é menos afeito a sofrer os efeitos da taxa básica de juros.
“O combustível pode cair, mas vai sofre a repercussão do aumento da cobrança de ICMS. Vai ter que ver o que vai pesar mais nessa gangorra”, diz Peçanha. “Além disso, os serviços e preços monitorados podem trazer dor de cabeça ao longo do ano, contrabalançados pela descompressão esperada para os alimentos.”
Fonte: Valor Econômico

