Primeiro ano da pandemia teve queda no volume de produtos e serviços de saúde por adiamento de procedimentos eletivos
PorLucianne Carneiro eVictoria Netto
Valor — Rio
O Brasil gastou R$ 872,7 bilhões com produtos e serviços de saúde em 2021, o que correspondeu a 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB), mostra um novo estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desse montante, a maior parte (R$ 509,3 bilhões do total, ou 5,7% do PIB em 2021), veio das famílias e instituições sem fins lucrativos a serviço das famílias, enquanto R$ 363,4 bilhões, ou 4% do PIB foram em despesas do governo.
Em 2020, esse valor total foi R$ 769,0 bilhões, o equivalente a 10,1% do PIB. Os valores são correntes, ou seja, não são atualizados pela inflação e por isso não podem ser comparados. Em 2019, eram R$ 711,9 bilhões, ou 9,6% do PIB.
As informações fazem parte da pesquisa “Conta Satélite de Saúde”, divulgada hoje, que pode ser considerada o Produto Interno Bruto (PIB) da saúde. A diferença é que na Conta Satélite não são contabilizados os impostos.
O levantamento acompanha a estrutura de dados das contas nacionais, que reúne toda a informação econômica do país durante um período, incluindo o PIB, informações sobre consumo final e comércio exterior de bens e serviços relacionados à saúde, por exemplo.
Os dados mostram o que aconteceu com a economia da saúde no país nos dois primeiros anos da pandemia. O aumento da participação das despesas com saúde no PIB na passagem entre 2019 e 2020 é explicado, segundo a analista do IBGE Tassia Holguin, pela alta de 7,1% dos preços dos medicamentos consumidos pelas famílias e pelo aumento de 29,3% do preço dos serviços de saúde pública consumidos pelo governo, ritmos mais intensos que o da média da economia.
“A pandemia de covid-19 implicou maiores gastos com saúde tanto por parte do governo quanto das famílias”, escreveu o IBGE no relatório da pesquisa.
Embora a parcela do valor gasto com saúde tenha aumentado na passagem entre 2019 e 2020, o primeiro ano da pandemia, o volume de consumo diminuiu 4,4% neste período, em linha com a queda observada no consumo de bens e serviços não saúde. Isso ocorreu porque, em função da necessidade de isolamento social, a população adiou procedimentos médicos eletivos.
“Se por um lado as emergências estavam lotadas de casos de covid, as pessoas não seguiram com exames de rotina, check-ups, cirurgias eletivas, fisioterapia… Houve queda no número de procedimentos médicos, tanto quando se olha os dados do governo quanto os da ANS [Agência Nacional de Saúde Suplementar, com informações do setor privado]”, afirma Holguin, responsável pela pesquisa.
Depois, em 2021, com a redução do isolamento social, houve uma retomada desse consumo de produtos e serviços e saúde, em ritmo superior ao do resto da economia, puxada pelos procedimentos eletivos. O consumo de bens e serviços de saúde teve expansão de 10,3% naquele ano, enquanto o de bens e serviços que não são ligados à saúde aumentou 2,3%.
Também é possível observar os dados de volume separadamente pelo lado das famílias e do governo. Se em 2020 houve queda de 1,7% no volume consumido pelas famílias, em 2021 foi registrada alta de 7,1%. No caso do governo, as taxas foram de -8,4% em 2020 e +14,7% em 2021.
Pela ótica da produção, as atividades de saúde representaram 7,7% do valor adicionado total da economia em 2021, ou R$ 593,1 bilhões. Em 2020, o valor foi de R$ 202,3 bilhões, o que correspondia a 6,1% do valor adicionado bruto total da economia.
Já a participação da saúde no total de postos de trabalho no país avançou de 5,3% das ocupações, em 2010, para 8%, em 2021. Neste caso, explica Holguin, é preciso lembrar que uma mesma pessoa pode ocupar mais de um posto de trabalho na saúde, assim como ocorre na educação.
Entre as atividades de saúde, as com maior número de ocupações são saúde privada (4,1 milhões) e saúde pública (2,7 milhões). Em seguida vem a atividade de comércio de produtos farmacêuticos, perfumaria e médico-odontológicos (1,3 milhão).
Fonte: Valor Econômico