, Valor — São Paulo
Medicamentos que poderiam amenizar sintomas, dores e limitações em pacientes com a doença não foram distribuídos pelo governo, conforme a Associação Brasileira de Pessoas com Hemofilia (Abraphem). Segundo a Abraphem, esses produtos deveriam ter sido distribuídos em agosto de 2022. Passados 500 dias, ainda não estão disponíveis. O Brasil tem 14 mil pessoas com hemofilia.
“O governo tem, atualmente, a possibilidade de oferecer melhores produtos para o tratamento da hemofilia A, que afeta 80% do total de pessoas com hemofilia, e ainda diminuir custos através da distribuição dos fatores de coagulação de longa duração incorporados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec)”, diz nota da associação.
Conforme o Annual Global Survey de 2022 da Federação Mundial de Hemofilia, 12 entre os 19 países do G20 enviaram dados para a pesquisa, sendo que 10 desses 12 utilizam fatores de coagulação de longa duração. Brasil e África do Sul não disponibilizam o fator de coagulação.
O tratamento da hemofilia foi atualizado mundialmente em 2018 com a introdução de medicamentos de infusão subcutânea semanal ou quinzena, mais modernos, capazes de oferecer mais proteção contra hemorragias, com doses mais baixas de medicamento. Até então, o tratamento consistia em infusões endovenosas em dias alternados. Segundo a Abraphem, o Ministério da Saúde incorporou o medicamento apenas para pacientes com hemofilia A com inibidor, que representam 20% das pessoas com a hemofilia A. De acordo com a entidade, os demais pacientes também deveriam receber o mesmo tratamento. “Enquanto isso, o produto está disponível em outros 83 países, sendo que 72 fornecem o medicamento também para pacientes sem inibidor”, revela. O Brasil é o único país do G20 que não disponibiliza este medicamento para os pacientes sem inibidor, diz a entidade.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que toda incorporação de novas tecnologias no Brasil segue um rito que passa pela análise da Conitec e publicação de portaria. Conforme o ministério, o programa de hemofilia nacional incorporou o emicizumabe para todos os pacientes com inibidor, o que segundo a pasta, representa um avanço “gigantesco e que não ocorre na ampla maioria dos países, já que são poucos os que possuem programas nacionais que garantem a equidade, como o SUS.”
Segue o ministério: “A afirmação de que 72 países fornecem este medicamento para pacientes sem inibidor deve ser analisada à luz de que a maioria não possui sistemas de saúde pública de alcance nacional como o SUS, e que o Brasil possui a quarta maior população de pacientes com hemofilia”.
Para pacientes sem inibidor, o ministério diz que há um tratamento de eficácia absolutamente igual, com custo muito menor, e que é disponibilizado gratuitamente no país.
Monumentos espalhados pelo Brasil vão receber iluminação especial em alusão ao Dia Mundial da Hemofilia, nesta quarta-feira, 17. A ação ocorre em dez Estados do país e cinco regiões com apoio da associação. Com o tema “Vivendo Cuidadosamente com hemofilia: Cuidado Integral e Saúde Mental” a campanha de 2024 visa incentivar as pessoas com a doença e seus familiares a procurar continuamente informações sobre o tratamento.
A hemofilia é uma doença hemorrágica hereditária sem cura. Os sangramentos ocorrem nas articulações, músculos e outras partes do corpo. A forma grave impõe ao paciente sangramentos espontâneos que ocorrem, segundo a Abraphem, 80% das vezes, nas articulações e músculos.
Fonte: Valor Econômico