O anúncio da conclusão da unidade de recombinantes foi feito pela estatal após visita técnica de representantes do MPF e do Ministério Público Junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU) à fábrica
Por Marina Falcão, Valor — Recife
23/10/2023 18h02 Atualizado há 13 horas
A Hemobrás, estatal criada para produção de derivados do sangue, anunciou nesta segunda-feira (23) que vai concluir a linha de produção de medicamentos recombinantes, feitos a base de engenharia genética para portadores de hemofilia A, em dezembro. A unidade, que fica dentro complexo industrial da empresa em Goiana (PE), recebeu investimento privado de US$ 250 milhões da japonesa Takeda. Será a parte lucrativa da estatal, uma vez que os hemoderivados de plasma que vierem a ser produzidos pela empresa terão que ser vendidos a preço de custo para o SUS.
O anúncio da conclusão da unidade de recombinantes foi feito pela Hemobrás após visita técnica de representantes do Ministério Público Federal em Pernambuco e do Ministério Público Junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU) à fábrica na manhã desta segunda. A visita ocorre e em meio tramitação, no Senado, da PEC do Plasma, que ameaça a centralização da coleta e fracionamento do plasma planejada pela empresa.
A Hemobrás está sendo construída desde 2010. O projeto passou por mudanças estruturais como a divisão em duas fábricas, a de recombinantes e a de hemoderivados. Em 2015, a “Operação Pulso“, da Polícia Federal, recolheu dólares arremessados de um apartamento no edifício onde residiam gestores da empresa, no Recife.
Mesmo com a unidade de recombinantes ficando pronta em dezembro, a produção ainda será testada e analisada pela Anvisa por 12 meses até os produtos irem de fato a mercado. Segundo o presidente da Hemobrás, Antônio Edson de Souza Lucena, hoje o Brasil importa 700 milhões de unidades internacionais (iu) deste tipo de medicamento e a ideia é que a produção da Hemobrás suporte toda a demanda do SUS e ainda tenha excedente para ser exportado. Segundo ele, há apenas três produtores no mundo de recombinantes, sendo um nos EUA, um na Europa e outro em Singapura.
Antes da estatal firmar uma parceria com a japonesa Takeda para transferência de tecnológica de recombinantes, em 2019, o governo já tinha investido mais de R$ 1 bilhão na estrutura da Hemobrás, incluindo todas as linhas de produção – de recombinantes e de hemoderivados. Enquanto a Takeda bancou a conclusão da unidade de recombinantes, a unidade de hemoderivados recebeu mais R$ 1,1 bilhão em investimento público até agora, e deve alcançar R$ 1,4 bilhão até 2025, quando deve ser inaugurada.
PEC do plasma
Sob risco de perder o monopólio sobre o plasma nacional, a Hemobrás já se posicionou contra a PEC do Plasma, que pode abrir o mercado de hemoderivados no Brasil para exploração do setor privado.
A estatal conta com pareceres também contrários à PEC tanto do Ministério Público Federal em Pernambuco quanto do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU). O procurador Marinus Marsico, diz que o plasma brasileiro é considerado valioso no mercado internacional, pela sua diversidade genética. Uma vez que o produto passe a ser comercializado pela iniciativa privada, não há garantia de que ficará à disposição dos brasileiros, afirma.
“Uma questão importante a se fazer é: Por que essa discussão, agora, quando a fábrica da Hemobrás está ficando pronta?”, diz, salientando que existe um grande interesse privado nesse mercado.
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Fonte: Valor Econômico