Resultados abaixo das projeções fazem ação despencar
Por Beth Koike — De São Paulo
02/03/2023 05h00 Atualizado há 6 horas
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Jorge Pinheiro, CEO da Hapvida: Prioridades neste ano serão reajustes e planos verticalizados para reduzir custos — Foto: Claudio Belli/Valor
Maior operadora de planos de saúde do país, a Hapvida viu seu valor de mercado cair R$ 10,5 bilhões, para R$ 21,6 bilhões, nesta quarta-feira, após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022. Os números vieram abaixo das projeções do mercado, que já eram pessimistas. As ações da empresa desvalorizaram 32,74%, terminando o dia cotadas a R$ 3,02. Foi a maior queda desde a abertura de capital, em 2018.
Entre os indicadores do balanço que levaram a essa reação negativa dos investidores estão a taxa de sinistralidade, que ficou em 72,9%, uma alta de 8,1 pontos percentuais em comparação ao mesmo período de 2021. Uma queda era esperada, tendo em vista que o atual cenário de covid é mais ameno. Mas com maiores gastos médicos e reajustes de preços de planos de saúde corporativos inferiores a 5%, a operadora consumiu cerca de R$ 600 milhões do caixa e viu sua dívida subir para R$ 7,1 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) veio em média 30% inferior ao projetado pelos analistas.
“Nossa tese é que os custos estão aumentando devido a uma demanda ainda reprimida. A Hapvida não está sendo capaz de aumentar preço ou está sacrificando margens para proteger o crescimento orgânico”, destaca trecho de relatório do Bank of America (BofA), assinado pela equipe de Fred Mendes. No último trimestre do ano, a companhia fechou 103 mil novos contratos de planos de saúde.
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Com as ações caindo mais de 30% já na primeira hora do pregão e um abre e fecha de leilões para controlar as oscilações do papel, o presidente da Hapvida, Jorge Pinheiro, destacou na teleconferência de resultados que as prioridades do grupo este ano serão reajustes de preço e aumento da oferta de planos de saúde com rede verticalizada, cujo custo é menor.
A projeção do executivo é que o reajuste dos planos de saúde individuais seja de 10%. Nos contratos PME esse percentual deve ficar entre 15% e 20% e nos convênios médicos corporativos, a partir de 12%. “Nossa previsão é de reajuste três vezes acima da inflação”, disse Pinheiro.
Para controlar os custos, a operadora aposta no aumento de planos de saúde com rede própria. Esse modelo é dominante nos planos da Hapvida, cuja presença é maior nas regiões Norte e Nordeste. Já na NotreDame Intermédica, há mais planos com rede credenciada, uma vez que a operadora atua em São Paulo, uma praça mais exigente e resistente ao modelo verticalizado.
Segundo Pinheiro, o foco neste ano será a verticalização e os planos com rede aberta devem ser comercializados de forma tímida. A empresa vai destinar R$ 400 milhões para expansão, aluguel de imóveis para pronto atendimento e construção de unidades de maior complexidade por meio de “built to suit” (obra sob demanda).
Diante dos números do último trimestre, o Credit Suisse rebaixou sua recomendação de compra do papel para neutra e reduziu o preço-alvo de R$ 6,50 para R$ 4,40. “Continuamos acreditando que a reversão da sinistralidade pode levar alguns trimestres, pois depende de reajustes altos para compensar os sinistros pressionados por inflação e elevado uso do plano há dois anos”, escreveu Maurício Cepeda, em relatório do Credit Suisse.
Outras casas de análise como BTG, Citi, Goldman Sachs, Itaú e XP apontaram problemas semelhantes. Mas os indicadores negativos do balanço não são a única causa do tombo de 32% nas ações da companhia no pregão de ontem. Metade dessa desvalorização vem de uma quebra de confiança do mercado com a companhia. “Eles falam uma coisa e entregam outra há vários trimestres. Agora, mesmo falando que vão priorizar o reajuste de preço, o papel caiu mais de 30%. Acredito que 15% dessa queda toda é quebra de confiança”, diz uma fonte do setor.
É uma mudança drástica em relação ao cenário de janeiro de 2021, quando a Hapvida e a NotreDame Intermédica anunciaram uma fusão. Na época, as companhias combinadas valiam cerca de R$ 130 bilhões e eram consideradas as queridinhas do setor de saúde por atuarem com um modelo verticalizado, considerado resiliente.
Fonte: Valor Econômico
