Por Estevão Taiar e Lu Aiko Otta — De Brasília
20/09/2022 05h01 Atualizado há 5 horas
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que o Banco Central (BC) cometeu erros em 2021. Segundo ele, um dos principais equívocos foi a dificuldade para perceber, em um primeiro momento, as mudanças na estrutura fiscal do país. Guedes também citou a manutenção da taxa de juros real em patamar negativo como outro erro.
“O Banco Central cometeu alguns erros no ano passado. Primeiro falando o tempo inteiro do risco fiscal”, disse. “Ele [BC] passou o ano falando do fiscal quando estávamos indo para o superávit.” Além disso, o Banco Central “estava preocupado com o fiscal, e eu estava preocupado com o juro negativo, porque a inflação subiu rápido”, disse.
A crítica ocorreu um dia antes da reunião do Comitê de Política Monetária do BC, que ocorre entre hoje e amanhã.
Guedes isentou o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto. Disse que ele é um “excelente presidente de Banco Central”, que subiu os juros rapidamente, “ficando à frente da inflação”. De acordo com o ministro, as críticas eram direcionadas para a “diretoria” da instituição.
As afirmações foram feitas em entrevista à Rádio Guaíba. Horas depois, em participação em congresso promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Guedes traçou um cenário positivo para a trajetória de preços, afirmando que o Brasil quebrou “a espinha do processo inflacionário”. Ele citou como razões os cortes de impostos promovidos pelo governo federal e pelo Congresso e o ciclo de altas de juros.
O ministro destacou positivamente, por exemplo, a queda da projeção do mercado para a inflação de setembro. Citando o Boletim Focus, Guedes afirmou que a estimativa passou de alta de 0,17% “para ligeira deflação”.
Guedes chamou atenção para os cortes de impostos sobre tarifas de importação, produtos que fazem parte da cesta básica, combustíveis e eletricidade, entre outros itens.
“Isso quebrou um pouco dessa dinâmica inflacionária. Ao mesmo tempo, [houve] o Banco Central de um lado trabalhando forte com as taxas de juros”, disse, reforçando que a autoridade monetária brasileira saiu à frente de seus pares no exterior e que o Brasil está com “juros reais positivos já há bastante tempo”.
Desde março de 2021, o BC elevou a Selic de 2% ao ano para 13,75% ao ano. O Copom pode realizar uma última elevação, de 0,25 ponto percentual, na reunião que termina amanhã.
Já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 8,73% no acumulado de 12 meses até agosto, apresentando queda a partir de junho, quando estava em 11,89%. Formalmente, o BC mira 2023 (com meta de inflação de 3,25%) e, em menor grau, 2024 (3%) para conduzir a Selic neste momento. Em ambos os casos, há intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Mas, justamente por causa das desonerações promovidos pelo governo federal, a autoridade monetária optou “por dar ênfase” à inflação acumulada em 12 meses que vai até o fim do primeiro trimestre de 2024.
Guedes ainda destacou que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), divulgado também ontem, mostrou queda dos preços de alimentação.
No evento, o presidente da Abimaq, José Velloso Dias Cardoso, relatou que o ministro “se propôs” a participar ao vivo do congresso, em vez de gravar um vídeo. Em sua participação, Guedes reforçou uma série de medidas, já apresentadas por ele, para um eventual segundo mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre elas, estão: o fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); a realização de uma reforma tributária que diminua encargos trabalhistas; a abertura “segura” e “gradual” da economia brasileira; a “reindustrialização” do país, por meio de setores sustentáveis e de alta tecnologia.
Ele ainda afirmou que o Brasil está “no caminho da prosperidade” e que, para que isso não mude, “basta não fazer besteira e votar corretamente”. Por sua vez, na entrevista à Rádio Guaíba disse que, “se for conosco, segue o jogo, haverá crescimento”.
Fonte: Valor Econômico

